Cinema: dot.com

Logo pelo título supra se sente algo fora do comum. «dot.com», obviamente relacionado com a informática, parece não ter grandes pontos de contacto com um filme português. Mas louve-se a imaginação e bom gosto de Luís Galvão Teles, capaz de produzir e realizar uma comédia bem nacional, em que muita coisa é desconcertante, e não só o título. «dot.com» é o regresso da comédia portuguesa, em termos bem mais modernos, em que o alvo é o nosso povo e as suas peculiares característica, postas em caricatura sem excesso mas com grande poder de observação. Tudo se passa em Águas Altas, pequena aldeia fictícia do interior – a que Dornes emprestou o ambiente e as paisagens dos seus arredores – e é aí que o povo, que tem por primeira reivindicação a construção de uma estrada de alcatroada de ligação aos grandes centros, a troca pelo acesso futuro à Internet, em que acaba por ver uma via de comunicação mais rápida e fiável que qualquer outra. Mas para isso há que vencer os espanhóis, que têm já registado o site www.aguasaltas.com em nome de uma empresa de águas minerais. Há que optar entre verbas convidativas para um acordo e a defesa da honra da aldeia, ou melhor, da região, digamos, de Portugal. Com estes pequenos incidentes Luís Galvão Teles vai fazendo um retrato impecável das mais diversas figuras do nosso povo e da sua habitual desconfiança nas relações com “nuestros hermanos”. Tudo narrado com uma bonomia exemplar e um humor bem suportado, de bom gosto e capaz de manter bem vivo o interesse do filme desde o início até final. Com o crescimento, lento mas consolidado, do número de filmes portugueses ou co-produzidos em cada ano, tem sido possível a abordagem de uma maior variedade de géneros, e o regresso à comédia saudável é um facto a assinalar pois, não sendo a única, esta é um dos raros exemplares dos anos mais recentes com resultados plenamente positivos. Francisco Perestrello

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Agência ECCLESIA

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