Intensidade da Quaresma em Coimbra

Mas quem «quiser ver a Ressurreição do Senhor não pode estar na cidade, tem de ir para a província» Os cristãos de Coimbra já vêem o horizonte dos 40 dias da Quaresma mas no Domingo de Páscoa quem “quiser ver a Ressurreição do Senhor não pode estar na cidade, tem de ir para a província. Nesse dia, Coimbra é uma cidade meia deserta” – confidenciou à Agência ECCLESIA D. Albino Mamede, bispo de Coimbra. Ao longo deste tempo litúrgico, as paróquias da cidade levaram a cabo – no salão de S. José – as tradicionais conferências quaresmais. A última, proferida ontem (29 de Março), pelo bispo auxiliar de Lisboa, D. Carlos Azevedo, sobre a «Igreja e a Família» foi o culminar da XXI edição desta iniciativa. Os presentes ouviram o conferencista proferir que assistimos a um “fenómeno inesperado de revalorização da família. Descobrem-se novas energias, caminhos renovadores. Face ao individualismo, a família aparece como lugar privilegiado de comunhão e participação: diante do desumanismo e anonimato das relações humanas, apresenta-se a família como escola de sociabilidade e do mais são humanismo”. A temática da família esteve no centro das conferências quaresmais desta paróquia da cidade do Mondego. “Este tempo de preparação serve para colocar as ideias novas em cima da mesa e para renascer de novo” – salientou João Barbosa de Melo, um dos conferencistas. E acrescenta: “Quando melhoramos e sabemos um pouco mais podemos ajudar os outros. Pequenos contributos para estarmos mais conscientes no mundo de hoje”. Acções formativas que “dão frutos em nós e à nossa volta” – frisou. A temática da família – formas de relacionamento na Igreja e na sociedade – ocupou as sessões quaresmais que “ajudaram os participantes a crescer e, de certeza, que estes encontraram algumas respostas” – reconheceu Marco Daniel Duarte, investigador de arte sacra e um ouvinte das conferências. Como nestas questões “não há fórmulas”, mais do que “ter família devemos ser família na sociedade” – referiu. Conteúdos que ajudaram a dimensionar a célula familiar que “anda muito na Comunicação Social”. Na Quaresma a fé dialoga com a cultura As conferências Quaresmais são um “instrumento evangelizador importante” porque ” devemos dialogar com cultura” – afirmou D. Albino Cleto. Para além das conferências quaresmais nesta paróquia citadina “temos outras que apostam neste modelo: Soure, Oliveira do Hospital e Cantanhede”. Durante séculos, a cidade de Coimbra gozou de um estatuto ímpar num mundo universitário. “Um privilégio de ser a única cidade em Portugal onde havia universidade” – refere João Barbosa de Melo. No diálogo fé/cultura, a cidade do Mondego tinha essa especificidade mas, hoje, “temos concorrência universitária apesar das grandes responsabilidades históricas”. Na cidade dos estudantes, o tempo tem características próprias. “A Quaresma vive-se de forma intensa mas, depois da Páscoa, quase não é possível fazer acções de formação” – desabafou o Pe. João Castelhano, pároco de S. José. E acrescenta: “Vem a queima das fitas, os exames e os dias quentes de Verão”. Neste ponto da cidade, as conferências quaresmais já ganharam algum estatuto – “a participação das pessoas está muito ligada ao nome e à mediatização do orador” – e dão aos organizadores “força e vontade de continuar todos os anos”. Apesar de ter a sensação de que o “modelo de conferência está em crise”, João Barbosa de Melo esclarece que estes momentos “são sempre importantes para ouvir e assimilar “coisas interessantes que nos ajudam a pensar e a viver melhor a Quaresma”. Este tempo litúrgico é “de desolação e de algum sacrifício (palavra que as pessoas têm pudor em usar). Só assim podemos receber melhor as boas mensagens que nos chegam na Ressurreição” – garantiu. Há várias Páscoas em Coimbra Coimbra prepara-se na Quaresma mas “festeja a Páscoa de muitas maneiras e, nalguns casos, nem sempre cristãs” – sublinhou o Pe. João Castelhano. Consequências da mobilidade humana na cidade. “Noto um diálogo entre Fé e Cultura em vários sectores”. E exemplifica: “os concertos musicais conseguem mobilizar bastante gente”. Há várias décadas na paróquia de S. José, este sacerdote relata um episódio: “encontrei um médico que me disse que não ia às minhas missas mas não perdia um concerto na igreja de S. José”. Como a arte é uma forma de evangelização, “damos às pessoas a oportunidade de descobrirem na Igreja mais coisas que um Cristo pregado na Cruz” – disse o Pe. João Castelhano. Na Quaresma, os cristãos caminham para a Páscoa através da Renúncia Quaresmal. “Este ano procuramos juntar verbas para oferecer a casas que apoiam a maternidade. Temos várias em Coimbra que, mesmo antes do referendo se dedicam a receber mães ou então crianças abandonadas” – disse D. Albino Cleto. Uma estrada separa a Igreja de S. José do Estádio da Académica. Este «templo moderno» não faz concorrência ao templo religioso. O Pe. João Castelhano contou um “fenómeno engraçado: os homens vão ao futebol e as mulheres ficam no carro ou vêm para a igreja”. E finaliza: “Não há concorrência mas conivência” A Quaresma aproxima-se do fim mas os continuam fiéis às tradições. “Particularmente à cerimónia dos passos e à Via Sacra de Sexta-feira Santa que percorrerá as ruas principais de Coimbra” – concluiu o bispo diocesano.

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