Religião e desporto

Braga acolheu ontem o início da XIX edição das Jornadas Teológicas subordinada ao tema “Religião: uma marca de sucesso?”. A iniciativa é promovida pela da Faculdade de Teologia, no Centro Regional de Braga da Universidade Católica Portuguesa. A semana abriu com o discurso do director da revista Cenáculo, Tiago Freitas, que apresentou os motivos que suscitaram a temática destas jornadas bem como a oportunidade de se fazer uma reflexão rigorosa e séria do assunto em três grandes áreas da sociedade contemporânea: no Desporto, na Publicidade e na Comunicação Social. Para a reflexão acerca da presença do fenómeno religioso no Desporto foi convidado José Luís Garcia. O conferencista procurou abordar as grandes questões que envolvem o mundo desportivo, apontando o factor económico e o “marketing” como dimensões essenciais para a sobrevivência e sustentabilidade do desporto em geral, ainda que o futebol seja o caso mais paradigmático desse fenómeno. O desporto, embora a sua reflexão se centrasse mais no futebol, é, em seu entender, “o palco para se perceber a mobilidade dos valores” e da sua rápida transmutação. A sua relação com a religião torna-se num tipo de religiosidade caracterizada como “a mais extrema de sempre”; cedeu de algum modo aos valores capitalistas em detrimento de valores como a coragem, a gratuidade, a bravura… Mas para o conferencista falar no desporto como religião ou religiosidade pode tornar-se ambíguo pois terá que colocar-se a pergunta: “Mas que religiosidade é esta que invadiu o mundo desportivo?” No seu ponto de vista, a velha aura dos Jogos Olímpicos deu origem a uma nova aura aliada ao capitalismo. Numa tentativa de especificar a mudança de paradigmas e de valores o conferencista recorreu ao conceito de pós-modernidade em que as sociedades estão mergulhadas na debilidade, num ecletismo fragilizado e de valores pouco profundos. Também deixou de fazer sentido a oposição entre ciência e religião, visto que sociologicamente essa posição não é verificável nem sustentável. Daí que o “elemento religioso esteja presente não apenas em toda a interpretação da vida social mas também da vida humana”. Por isso, o desporto, mais em concreto o futebol, não deixa de ser uma produção moderna de religiosidade, não constituindo de modo nenhum uma forma de religião porque esta requer uma comunidade estável, um código moral, um rito, uma crença e o futebol isso não tem nem possibilita sequer qualquer tipo de “religação” a algo. É um risco, por isso, ver no futebol um sentido religioso pois poder-se-ia correr o perigo da religião ser diluída e confundida com meros símbolos sentimentais do momento.

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