Missa Crismal, Quinta-feira santa
Queridos irmãos no ministério ordenado sacerdotes e diáconos.
Caríssimos sacerdotes em Jubileu Sacerdotal de 25 e 60 anos de sacerdócio. Caríssimos consagrados e leigos.
Convidados para a festa do banquete do Cordeiro
Celebremos com alegria no cenáculo o serviço e amor de Jesus, que lavou os pés aos seus discípulos e se entregou como Sumo e Eterno Sacerdote. O múnus sacerdotal está intimamente ligado à Ceia do Senhor, ao mistério da Santíssima Eucaristia, ao Cordeiro Pascal que foi imolado.
Convido esta assembleia festiva a celebrar o Banquete das núpcias do Cordeiro, nesta liturgia solene da Missa Crismal, em Quinta-Feira Santa.
Caríssimos irmãos e irmãs, querido povo de Deus, obrigado pela vossa presença consoladora e de amizade neste dia do Sacerdócio e da Eucaristia. Rezai pelo vosso bispo, pelos sacerdotes, diáconos, consagrados e leigos para que sejamos santos.
Neste dia 14 de abril de 2022, entra oficialmente em vigor o Novo Missal Romano, aprovado pela Conferência Episcopal Portuguesa e pelo Papa Francisco.
O Novo Missal oferece a todos os cristãos a oportunidade de celebrar e viver a fé no cumprimento das orientações da Igreja, em espírito de oração, de louvor e de ação de graças.
Unidos a Cristo nesta Eucaristia de Quinta-Feira Santa, dia da instituição do Sacerdócio vamos renovar as nossas promessas sacerdotais. Serão benzidos os Santos Óleos dos Catecúmenos, dos Enfermos e a consagração do Óleo do Santo Crisma.
Diante destes símbolos das Jornadas Mundiais da Juventude em peregrinação pela nossa Diocese e hoje presentes na Catedral, não podemos ficar indiferentes. Perante a grandeza do mistério da Cruz e da vida do crucificado, ressuscitado, encontremos a vida nova.
O ícone de Maria, “Salus Populi Romani”, fala-nos da Mulher e da Mãe, que nos foi dada por Jesus no Calvário para cuidar de nós, os seus filhos sacerdotes.
Jesus celebra a Páscoa com os seus discípulos
Jesus continua a dizer a cada um de nós: fostes chamados, ungidos, recebestes de graça, dai de graça a riqueza do dom recebido. Este é o tesouro escondido, que nós sacerdotes levamos em “vasos de barro”, o dom recebido no dia da nossa ordenação sacerdotal pela graça do Espírito Santo.
O Espírito do Senhor está sobre mim, porque Ele me ungiu e me enviou a anunciar a boa nova aos pobres e a libertação aos cativos, a anunciar um ano de graça e de bênção para toda a humanidade. O Profeta Isaías coloca em enfâse o serviço e o cuidado aos pobres, aos doentes e aos mais vulneráveis. Este serviço deve realizar-se com um espírito de verdadeira humildade, simplicidade e caridade, sem excluir ninguém.
Jesus Cristo é a Testemunha fiel, o Primogénito dos mortos, o Príncipe dos reis da terra, a Ele a glória e o poder pelos séculos dos séculos. Ámen! (cf Ap 1,5-8). Jesus entregou-se por nós e deu-nos o testamento do mandamento novo do amor.
Os sacerdotes somos chamados a unir os irmãos divididos, a construir pontes, a chamar os que vivem indiferentes à fé, ou se afastaram da Igreja. Os sacerdotes devem ser profetas da esperança e de caridade em nome de uma Igreja samaritana, que cuida dos pobres, dos doentes, dos frágeis, das vítimas da guerra na Ucrânia, na Rússia, e de tantas pessoas vítimas da crise pandémica, da pobreza e da guerra.
Em nome de Jesus somos chamados a ajudar as pessoas vítimas do ódio, da violência, da exploração, do tráfico humano, de abusos sexuais de crianças, adolescentes, jovens e adultos vulneráveis. Sejamos todos o rosto de uma Igreja samaritana e pascal, conduzida pelo Espírito do Ressuscitado.
Rezemos a Deus por todas as vítimas, que sofrem estes cenários de dor e imploremos o perdão para quem cometeu tão graves pecados contra Deus e a dignidade da pessoa humana.
A Igreja como Mãe é chamada a cuidar de todos sem exceção. Temos que ser audazes em gestos inflamados de caridade pastoral, pacíficos na relação, puros no coração, nos pensamentos, nas palavras e nas ações.
Este é um grande desafio para uma Igreja em caminho sinodal e missionário. Uma Igreja “em saída” deve estar atenta “às periferias” do nosso mundo, como nos pede o Papa Francisco.
A falta de vocações à família, à vida consagrada e ao sacerdócio levam-nos a olhar para o futuro das nossas comunidades e instituições com mais atenção, pois estas precisam cada vez mais do nosso testemunho de sacerdotes, de consagrados e de leigos. Com a diminuição de vocações ao sacerdócio, os leigos através dos ministérios laicais devem ser cada vez mais os protagonistas da renovação da Igreja.
Os sacerdotes são chamados a anunciar “a boa nova aos infelizes, a curar os corações atribulados, a proclamar a redenção aos cativos e a liberdade aos prisioneiros, a proclamar o ano da graça do Senhor” (Is 61,1-3ª).
Consolemos por isso os aflitos, os refugiados, os migrantes, os deslocados de guerra, ajudando-os a encontrar no Senhor a vida nova, a alegria, a paz, a fortaleza, a confiança e a esperança pascal. Diz o Senhor: “Estarei sempre a seu lado e com a minha força o sustentarei” (Sl 88 [89]).
O sacerdócio ministerial é um dom do coração de Cristo.
Neste ano pastoral dedicado à Eucaristia procuremos cuidar das nossas celebrações litúrgicas e dos sacramentos, revitalizando o culto Eucarístico em todas as suas dimensões na nossa Diocese.
À luz do Evangelho proclamado, valorizemos as palavras que escutámos recordando que “Jesus foi a Nazaré, onde Se tinha criado. Segundo o seu costume, entrou na sinagoga a um sábado e levantou-se para fazer a leitura. Entregaram-lhe o livro do Profeta Isaías e começou a ler dizendo: “O Espírito do Senhor está sobre mim, porque Ele me ungiu para anunciar a boa nova aos pobres” (cf. Lc. 4,16.21).
A graça e a novidade da Eucaristia, assim como do nosso ministério ordenado como ensinou São João Paulo II, revela-nos a identidade do nosso sacerdócio: “Os presbíteros são na Igreja e para a Igreja, uma representação sacramental de Jesus Cristo Cabeça e Pastor, proclamam a Sua palavra com autoridade, repetem os seus gestos de perdão e oferta de salvação, nomeadamente com o Batismo, a Penitência e a Eucaristia, exercitam a sua amável solicitude, até ao dom total de si mesmos, pelo rebanho que reúnem na unidade e conduzem ao Pai por meio de Cristo no espírito” (PDV 15).
Alguns desafios para viver com alegria o sacerdócio:
1. O sacerdote é o homem da escuta, a testemunha fiel e qualificada da fé da Igreja no meio do povo que lhe está confiado.
2 – O sacerdote é o verdadeiro discípulo missionário, que acolhe, escuta, estuda a Palavra e a guarda no coração, pondo-a em prática.
3 – O sacerdote é por excelência o homem da Palavra, aquele que a semeia no coração dos fiéis, através da evangelização, da catequese e da formação na fé.
4 – O sacerdote enquanto ministro da Eucaristia e dos Sacramentos torna Cristo presente e atuante na Sua Igreja.
5 – O sacerdote é o servo da caridade e do amor fraterno, da justiça, do cuidado, da proximidade, que lava os pés aos discípulos e se faz próximo dos doentes, dos frágeis, dos marginalizados, de todos os que estão caídos à beira do caminho.
6 – O sacerdote é o homem do acolhimento, do diálogo, da paz, da reconciliação, do encontro, da abertura ao outro, que tece relações novas de fraternidade com os seus irmãos no presbitério, com os consagrados e os leigos seus colaboradores.
7- O sacerdote é o homem sinodal, que caminha junto com os seus irmãos e vive com eles o mistério da Igreja em “comunhão, participação e missão”.
8 – O sacerdote é o homem da oração, da unidade, da misericórdia e do perdão, ensinando a todos o modo de caminhar juntos para “fazer a vontade do Pai”.
9 – O sacerdote deve ser um perito na obediência, na transparência, no rigor moral e espiritual, no anúncio da verdade, na vida íntegra em pureza e castidade, no testemunho do celibato, na prestação de contas cumprindo os seus deveres como bom administrador das coisas do Senhor e da Igreja.
Deve viver em equilíbrio integral a fé e os costumes, dando testemunho do Senhor Ressuscitado em todas as circunstâncias da sua vida. Deve procurar fugir de todas as ocasiões de pecado e rezar pelos pecadores.
10 – O sacerdote deve ser o ministro da disponibilidade, do desprendimento evangélico para com todos.
O seu estilo de vida consagrada ao Senhor, deve dar testemunho do Evangelho, identificando o seu modo de ser a Jesus, pobre, casto e obediente. É pedido aos sacerdotes para viver uma vida de santidade, que seja contrária ao mundanismo espiritual.
O estilo de vida dos presbíteros e o testemunho do Ressuscitado
Vivam os sacerdotes uma vida espiritual em simplicidade e humildade uns para com os outros, seja a sua caridade no falar, no partilhar a vida e nas obras, que adornam o ministério sacerdotal de modo a torná-lo mais fecundo e cheio de beleza.
O bispo transmite aos presbíteros e diáconos, enquanto cooperadores da ordem episcopal os dons e as graças próprias do grau do sacramento da ordem. “Mediante a ordenação sacramental, por meio da imposição das mãos e da oração consecratória feita pelo bispo, estabelece-se no presbítero “um vínculo ontológico específico que o une a Cristo, sumo sacerdote e Bom Pastor” (PDV 15); (DMVP).
Cultivemos a caridade pastoral, o “Amoris officium”, como forma de viver o ministério sacerdotal guiados pastoralmente por um espírito de verdadeiro serviço, de amor e entrega em espírito sinodal ao seu povo, na escuta fraterna, no diálogo fecundo, na dedicação desinteressada, na humildade provada, na simplicidade alegre, na coerência de vida transparente, apaixonado pela verdade, a viver a castidade, a pobreza e a obediência evangélica. Deixemo-nos cuidar e amar verdadeiramente por Jesus Cristo, amando-nos uns aos outros e ensinando os nossos irmãos a amar a Deus e ao próximo.
O desanimo pastoral, o cansaço psicológico, o fracasso moral, a desmotivação espiritual, o individualismo pastoral, a falta de oração e de compromisso podem levar a um stress interior e profundo, que cria medo e angústia espiritual. Lutemos contra estes sinais que asfixiam a vida, a beleza e a saúde espiritual dos sacerdotes.
Os sacerdotes em jubileu de ordenação sacerdotal
Demos graças a Deus por tão grande dom e rezemos pelos nossos irmãos sacerdotes em Jubileu Sacerdotal:
– Bodas de Prata, 25 anos de ordenação sacerdotal:
1. O Padre António Victor Amorim Portugal Martins, Claretiano, pároco de Tondela e Superior da Comunidade dos Claretianos, ordenado a 15 de junho de 1997.
2. O Padre Valmor Marcolin, pároco de Calde e Pindelo dos Milagres, ordenado a 13 de dezembro de 1997.
– Os sacerdotes que celebram 60 anos de ordenação sacerdotal:
1. Padre José Carlos Pinto de Matos, pároco “in solidum” de Rio de Loba, ordenado sacerdote a 29 de julho de 1962;
2. Padre José de Fátima Oliveira Morujão, pároco de São José, ordenado a 29 de julho de 1962;
3. Padre Manuel Antunes dos Santos Barranha, Viseu, ordenado a 29 de julho de 1962;
4. Padre Ramiro Dias Ribeiro, pároco de Papízios-Parada, ordenado a 29 de julho de 1962;
5. Padre Silvério Cardoso, pároco de Carapito, Cortiçada, Eirado e Valverde, ordenado a 29 de julho de 1962;
6. Padre Joaquim Álvaro de Bastos, ao serviço da Diocese da Guarda, Capelão do Hospital Sousa Martins e Vigário Paroquial de Aldeia Viçosa, Cavadoude, Faia, Misarela, Pero Soares, Porto da Carne, Vila Cortês do Mondego, Vila Soeiro e Secretário do Bispo Diocesano.
Agradeço a todos o vosso zelo apostólico, a vossa fidelidade e entrega à Igreja no cuidado do povo de Deus que vós está confiado. Um obrigado muito sincero pela vossa amizade e testemunho de vida sacerdotal.
Chamados a viver o caminho sinodal na esperança de Emaús
O caminho sinodal é um caminho de escuta, de diálogo, de discernimento, de conversão pessoal e de renovação pastoral na estrada de Emaús.
Torna-se urgente criar uma rede de oração para a renovação pastoral das nossas paróquias, das nossas comunidades de vida consagrada, dos serviços diocesanos, dos grupos e movimentos eclesiais, para que sejamos capazes de criar uma nova sinergia de vida pastoral renovada. O futuro da Diocese depende deste empenhamento pastoral, do compromisso eclesial e apostólico assumido diante dos desafios da Iniciação Cristã.
A evangelização, a catequese, a animação da pastoral juvenil, das vocações e familiar, todo o trabalho pastoral a realizar deve ter como prioridade o envolvimento do nosso ministério na preparação e realização das JMJ a celebrar em Lisboa de 1 a 6 de agosto de 2023.
Confiemos a Nossa Senhora, a Mulher Eucarística e Mãe dos Sacerdotes a nossa vida, o nosso ministério, as nossas comunidades, os nossos diáconos, os nossos seminaristas, os consagrados e os leigos. Imitemos as virtudes de Maria, que se levantou apressadamente e se pôs a caminho, para servir a sua prima Isabel. Que Maria, Mãe de Jesus, São José, São Teotónio e a Beata Rita Amada de Jesus cuidem sempre de nós e nos ajudem a cuidar com um coração sacerdotal do povo de Deus, que nos está confiado.
Não nos cansemos de anunciar ao mundo a alegre notícia da Ressurreição de Jesus. Desejo a todos santas festas Pascais. Ámen!
Sé de Viseu – Missa Crismal, 14 de abril de 2022
+ António Luciano dos Santos Costa, Bispo de Viseu