EMRC: alternativa de crescimento

Escolas públicas e privadas «deram a cara» pela Disciplina e disseram que EMRC «vale a pena» Chega ao fim nesta sexta-feira a Semana da Disciplina. Cinco dias úteis que pretenderam dizer que “Educação Moral e Religiosa Católica vale a pena”, asseguram os professores, mas principalmente os alunos que com grande entusiasmo dinamizaram em escolas públicas e privadas formas de apresentar o seu trabalho na disciplina, junto da comunidade educativa. O Secretariado Nacional da Educação Religiosa – SNEC – dá conta de um grande dinamismo em algumas escolas, mas também da grande dificuldade em “passar a mensagem alternativa e dinâmica”, diferente dos objectivos catequéticos. Na realidade “apenas vamos ter noção das actividades mesmo no final da semana, quando os professores nos derem todas as informações”, explica Maria Sameiro da Cruz, professora e responsável pela organização da Semana Nacional da Disciplina. Grande êxito teve o concurso nacional de fotografia. “Dá a cara pela EMRC” recebeu muitas participações e contou com grande criatividade dos alunos que de vários pontos do país, mostraram como EMRC toca de forma diferente, diferentes alunos. Os resultados foram dados hoje a conhecer. Público versus privado? Maria Sameiro reconhece que a situação da disciplina é “mais periclitante” nas escolas de primeiro ciclo, onde na sua maioria não se lecciona a disciplina e “nas escolas onde existe, foi pela teimosia porque a proposta era colocar a disciplina na cauda do plano curricular”, explica. A responsável pela organização da semana admite que as escolas privadas estão mais predispostas a estas iniciativas. Os colégios católicos “têm já uma formação de raiz e a catequese vai ajudando as crianças a terem um crescimento mais harmónico e completo”. No entanto as generalizações conduzem ao erro porque há escolas públicas em que a disciplina aparece diluída, mas há também casos em que a disciplina de EMRC é “o fio condutor do dinamismo”. A criatividade é a palavra chave, associada à forma como o professor se dirige e interage com os alunos, “no seu empreendorismo e na envolvência com os alunos”, dando lugar a outra receptividade, “também da comunidade educativa”. É uma atitude que se pede a todos os professores em geral é certo, mas “EMRC é uma disciplina que aborda as questões relacionais, como as próprias vivências do dia a dia”, conferindo uma nova dimensão de vida, sublinha, por isso se pede o dobro do entusiasmo. Maria Sameiro recorda a sua experiência de primeiro ciclo numa escola pública. As impressões que colhe actualmente são diversas. Afirma que a situação da disciplina mudou no panorama escolar e que isso influencia a comunidade docente. Há professores que tendo todo o entusiasmo não conseguem captar a atenção quer dos alunos, quer da escola em si, e outros em que os resultados são muito animadores, havendo as duas realidades. “Escolas com um grande dinamismo e outras que estão a cair num grande «marasmo». A postura de um professor é assim essencial. “Se o docente apresenta uma disciplina com vida, com realismo, com aventura, os alunos vão todos responder positivamente”, aponta, recordando histórias de alunos que não estando inscritos querem frequentar, porque “depois é o passa palavra”. Este dinamismo é visível também “nas expectativas que se criam de ano para ano”. Disciplina audaz Maria Sameiro regista algum pessimismo quanto ao futuro da disciplina. “Esta situação pouco clara e pouco praticável nas escolas vai ter consequências negativas”. A base é o primeiro ciclo, e quando “aqui não aparece o ensino religioso dificilmente a aceitação nos anos posteriores irá acontecer”, sugere. “É incompreensível que o governo continue a não escutar a vontade dos pais”. Por sua vez, também os educadores “poderiam ter um papel mais activo, havendo mesmo alguma passividade, porque se sentem seguros com a formação ministrada na catequese”, sublinha, quando estes dois espaços manifestam objectivos diferentes. “Existe ainda muita confusão da parte dos pais sobre a verdadeira essência da disciplina”. Maria Sameiro regista a ousadia da disciplina no programa pensado para este ano lectivo. “Só os professores com coragem de enfrentar a comunidade educativa é que conseguiriam pegar justamente no programa apresentado”, pois os desafios lançados na EMRC são “audazes”, envolvendo pais e a própria comunidade local para que se pronunciem sobre a importância da disciplina. É com grande entusiasmo que Maria Sameiro regista os bons momentos que passa com os alunos, mercê do feedback que recebe também. Por isso mesmo lamenta que outros não possam ter acesso a esta forma de crescimento integrado e dinâmico. Apesar de “os ventos não serem favoráveis, vale a pena trabalhar por aqueles que crescem e aprendem com aquilo que transmitimos”, afirma convictamente. Espaço de crescimento É na escola do Colégio Militar de Lisboa de Palmira Pereira lecciona EMRC. A participação dos alunos nas suas aulas anda na ordem dos 99%, “o que é uma raridade”, mesmo sendo opcional. A comunidade estudantil apresenta a particularidade de serem alunos internos e que “aderem muito bem” a todas as iniciativas de formação. “Como trabalham muito a sua formação pessoal, conseguimos atingir os objectivos da disciplina com muita facilidade”. Entre os 10 e os 18 anos, os alunos assumem o espaço da disciplina como um espaço para o seu crescimento, “que complementam depois com questões de cidadania, sobre valores nacionais e com outras disciplinas também”. Nas aulas de EMRC segue-se o programa da disciplina, apresentado pelo SNEC. A cultura geral dos alunos é muito boa, sendo desafiante a esse nível porque “muitas vezes vamos para além do programa e facilmente falamos de outros temas diversos”. Meios audiovisuais e de pesquisa são muito utilizados nas aulas. “São alunos que exigem muito dos professores. Acompanho-os do 5º ano ao 8º. Há um trabalho que é continuado, que começa com os temas do primeiro ano, mas que vão sendo desenvolvidos até ao 12º, com outras exigências e perspectivas”, explica. Há também uma necessidade grande de falar de si próprios e muitas aulas são passados em “acesos” debates sobre questões humanas, problemas sociais, e até questões internas do Colégio. O professor de moral “funciona como o árbitro das suas inquietações e ânsias”, mas Palmira Pereira logo acrescenta que mais do que ser um professor, “acabamos por ser um conselheiro e um amigo mais velho”. No Colégio Militar, Palmira Pereira reconhece que tem as condições ideais para leccionar a disciplina: alunos interessados e motivados, o apoio do corpo docente, com uma grande inter disciplinariedade, apoio da direcção do colégio que incentiva a valorização pessoal dos alunos e apoia todas as iniciativas no âmbito de EMRC. A receptividade por parte dos alunos não é total, “mas é muito grande”. Os alunos contam com a disciplina e “vêm-na como um espaço importante na sua semana, às vezes para desanuviar”. Embora o estado seja laico, o Colégio é uma instituição militar e a “disciplina não sendo obrigatória, os alunos aderem muito bem, pela formação integral da pessoa, porque serve como uma referência moral e religiosa que é importante para eles”, sublinha Palmira Pereira uma vez que “a educação na fé eles têm na catequese”, a disciplina “é de formação e informação”. Facultativa não, alternativa Outra realidade encontra Teresa Grancho em Aveiro. Outra realidade, o mesmo entusiasmo entre os alunos que respondem afirmativamente ao desafio de frequentar as aulas de EMRC na Escola Secundária José Estevão em Aveiro. O universo é apenas de 10%. “Tenho pena que apenas cerca de 80 alunos frequentem as minhas aulas”, mas os que participam são muito entusiasmados, manifestam uma grande vontade de participar e estão “constantemente a desafiar-me e aceitam os reptos que lanço”, regista com agrado a professora Teresa Grancho, que dá EMRC a alunos entre o 7º e o 12º ano de escolaridade. O horário “é sempre complicado”, havendo alunos que vão propositadamente à escola só para ter a disciplina. “Estes são os eleitos, porque são capazes de dizer sim, quando poderiam ter uma tarde livre”. Na comunidade educativa as propostas “são muito bem aceites”. De qualquer forma, “tenho sempre outros alunos que não estando inscritos, vão à aula e participam nas actividades propostas”, porque se sentem motivados e percebem que os colegas encontram um espaço onde podem estar com mais alegria e entusiasmo. “Tenho uma relação muito próxima com os alunos, mais de amizade do que de professor-aluno”. Uma ajuda é a formação “de teatro em educação”, que Teresa Grancho teve e utiliza muito na dinamização das aulas. Expressão corporal, utilização de espaço, trabalho de toque e “comunicação com a alma e o coração” são formas de cativar ao longo do ano que durante esta semana a comunidade educativa pode testemunhar. Um painel, promovido por alunos do 12º ano, onde “várias mensagens escritas dizem «porque vale a pena EMRC na escola»” foi uma das actividades programadas. Durante os intervalos “os alunos fizeram estátuas humanas que comunicavam vários temas desde a amizade, ao amor, mas mais do que temáticas apelavam a que a comunidade educativa que passava se interrogasse e reflectisse”, sendo isto essencial na EMRC, “pôr as pessoas a pensar”. A tarde do dia 21 foi passada entre jogos tradicionais “onde muitos alunos não inscritos em EMRC participaram”. Baseado na proposta “Tudo em família” vai ser ainda dinamizada uma peça de teatro, aberto também a todos. Os alunos do ensino básico “andaram pelos corredores a distribuir mensagens aos professores, alunos e auxiliares”. Amanhã a semana termina com um cordão humano no átrio principal da escola, onde cada aluno vai vestir uma t-shirt que diz “Escolhi moral/Sou radical”. Um gesto simbólico para terminar a semana que pretendeu passar a mensagem que vale a pena escolher a EMRC porque “é uma proposta de vida diferente”. Não é uma disciplina facultativa, é sim alternativa, “porque apresenta valores diferentes dos que estão na moda”, finaliza.

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