Vida monacal na clausura inspira poetas

Terminou em Santo Tirso a iniciativa «Fé na Poesia», dando a conhecer o lado espiritual da vida “Dívida ou dádiva” Dívida ou dádiva, o que de mim sobrar Será entregue a quem o reclamar Como a água, Sou o meu lugar de nascimento. Como o fogo, Sou a alma e o dia. O dia está depositado em meu coração Como o vinho nas adegas. Dívida ou dádiva Compreendo que nunca estive, Ou estarei só. Este poema nasceu no Mosteiro de São José das Clarissas Adoradoras, em Vila das Aves, pela pena de Ivo Machado que esteve uma semana enclausurado neste mosteiro. Quando entrou “estava apenas preocupado com o tempo e com a passagem das horas” – disse à Agência ECCLESIA Ivo Machado, poeta açoriano (Ilha Terceira) mas a viver há cerca de 20 anos na cidade do Porto. Com 48 anos, este poeta realçou que escreveu o último poema há um mês mas passadas poucas horas de entrar naquele mosteiro “dei comigo a escrever”. O silêncio ajudou a construir – através das palavras – esta vivência espiritual. Logo no início, Ivo Machado recordou o seu conterrâneo – Vitorino Nemésio – que dizia «O silêncio é peso de Deus». “A abundância e a luz do silêncio levou-me logo à escrita” – realça. Esta iniciativa termina hoje (21 de Março) e foi promovida pela Câmara Municipal de Santo Tirso. Entre 10 de Fevereiro e 21 de Março de 2007, esta cidade do norte de Portugal recebeu a «Poesia está na rua». Por todo o município – ruas, espaços públicos, igrejas, mosteiros/conventos, tascas, cafés, pastelarias, escolas, bombeiros e associações – a fé em forma de versos estará presente. A edição de 2007 – «Fé na Poesia» – mostrou também o património religioso desta região que recebeu os beneditinos. Durante o retiro proporcionado pela entidade organizadora, Ivo Machado escreveu oito poemas. Para além da inspiração, “reencontrei-me comigo próprio e com a minha própria circunstância” – frisou o poeta açoriano. E acrescenta: “fiquei mais rico como homem e como poeta”. Depois de viver aqueles dias no Mosteiro, Ivo Machado confidenciou que tinha “uma ideia muito errada daquela vivência”. “São pessoas com uma enorme generosidade e capacidade de amar” – disse. A experiência trouxe novidade e deu inspiração. “O amor reina dentro dos muros do mosteiro”. O contacto com esta forma de vida “foi uma experiência inolvidável e continuará dentro de mim” – declarou o poeta. Numa sociedade cheia de ruídos, o silêncio “é um poema”. Quando nos “encontramos com ele olhamos a vida de outra forma”. Dentro do Mosteiro, o silêncio ganha “outro sabor porque encontramos outras almas que vivem na contemplação”. E adianta: “isso contagia”. O silêncio e a inclinação da luz tocaram o poeta açoriano. “Dei comigo a olhar as sombras e a admirar a folha que cai da árvore” – realça. As palavras surgiam com o mínimo ondular porque quem “não tem fé na palavra não pode ter fé em mais nada”. Este poeta católico sublinhou que a gestão do tempo era a preocupação inicial mas “não fiz aquilo que pensava fazer”. “Faltou-me tempo” mas “acredito que um não crente sentisse o peso da mão de Deus” – afirmou. Ao abandonar o “pequeno e austero quarto” – onde não havia sequer uma mesa para escrever -, Ivo Machado voltou atrás e sentou-se no leito. Da nostalgia nasceu «Dívida ou dádiva». Notícias relacionadas Fé na poesia

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