Repórter da Renascença considera que a Páscoa pode ser momento «decisivo para apaziguar as almas»
Lisboa, 24 mar 2022 (Ecclesia) – José Pedro Frazão, jornalista da Rádio Renascença que esteve na Ucrânia, considera que “seria absolutamente extraordinário” se a imagem peregrina de Nossa Senhora que está nesse país fosse até Kiev, e desta importância da Páscoa para a paz.
“Estamos a aproximar da Páscoa, um momento muito importante para todos os crentes, e esse momento pode ser também decisivo para apaziguar as almas”, disse o repórter à Agência ECCLESIA.
“E que esta esperança numa paz se concretize também através de um entendimento entre Moscovo e Kiev, nem que seja uma trégua durante esse período para que a paz possa surgir na Ucrânia”, acrescenta José Pedro Frazão.
Sobre o papel das Igrejas na paz ou na guerra, o jornalista, que esteve como enviado especial da Rádio Renascença na Ucrânia, lembra que existe uma cisão entre os Ortodoxos “que são fiéis ao Patriarcado de Moscovo” e a Igreja nacional ucraniana, “que se desanexou nos últimos anos, recorrendo também a uma ligação da sua origem a Constantinopla”.
A 5 de janeiro de 2019, o patriarca ecuménico Bartolomeu assinou, em Istambul, o “tomos” (decreto) que concedeu a independência à Igreja Ortodoxa da Ucrânia; Com esta concessão da autocefalia, a Igreja da Ucrânia passa a ser a 15ª Igreja Ortodoxa.
“Uma cisão que irrita o Patriarcado de Moscovo e que coloca dificuldades ao nível dos canais de comunicação que podem usados para a paz”, acrescenta o entrevistado desta quinta-feira no Programa ECCLESIA (RTP2).
José Pedro Frazão recorda que conversou com o cardeal polaco Konrad Krajewski nos arredores de Lviv, e o esmoler pontifício e enviado pessoal do Papa à Ucrânia, tinha “mandato para falar com “todas as confissões, os greco-católicos, os católicos romanos, mas também os irmãos ortodoxos”.
Neste sentido, o jornalista revela expetativa em saber se esses contactos “tiveram frutos”, nomeadamente para tentar encontrar uma “sensibilidade do lado ortodoxo para que a guerra possa acabar”, porque nem as igrejas ortodoxas têm escapado aos ataques efetuados pela Rússia.
Na cidade ucraniana de Lviv está uma imagem peregrina de Nossa Senhora de Fátima, a pedido do arcebispo metropolita greco-católico local, D. Ihor Vozniak; Chegou no dia 17 de março e foi acolhida por centenas de pessoas na igreja da Natividade.
“Seria absolutamente extraordinário, por exemplo, se a imagem fosse até Kiev”, afirma José Pedro Frazão, sobre a imagem nº 13, que é uma réplica da Imagem número 1, e que vai ficar em Lviv até ao dia 15 de abril.
O jornalista que já passou em cenários de guerra como o Paquistão, Afeganistão ou Balcãs, nas últimas décadas, explica que há uma abordagem mediática neste conflito no leste da Europa que “alimenta a forma como em Portugal se acompanha toda esta situação”, e que, por vezes, contrasta com “alguma serenidade e resistência” local.
“O que encontrei na Ucrânia foi sobretudo muita convicção, muita força, por parte daquele povo. Uma certa serenidade, claro que na Ucrânia Ocidental, uma zona que não está a ser alvo de combates, mas que é uma retaguarda fundamental, quer do ponto de vista logístico, humanitário, mas também dessa força”, desenvolveu o repórter, que esteve uma semana na Ucrânia Ocidental, antes na Polónia, e terminou o seu trabalho na Hungria, “junto de refugiados, na fronteira”.
Para José Pedro Frazão, “uma das grandes conclusões”, aconteça o que acontecer, “é a união em torno de uma nação ucraniana, um Estado ucraniano, que funciona”, e não apenas da defesa militar mas também “num espirito nacional ucraniano que havia dúvidas que pudesse existir”.
Esta sexta-feira, o Papa Francisco vai consagrar a Rússia e Ucrânia ao Imaculado Coração de Maria, numa cerimónia marcada para as 17h00 [menos uma em Lisboa] na Basílica de São Pedro; O mesmo ato será realizado em Fátima, pelo cardeal Konrad Krajewski, como enviado do Papa.
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