Berlim… um Ano Depois

Terminada a longa II Guerra Mundial e dividida a Alemanha em quatro zonas de ocupação, o conflito de interesses entre as potências vitoriosas não tardou a revelar-se da forma mais incisiva, sobretudo entre russos e americanos. O objectivo central de qualquer dos lados, como é sabido, foi o recrutamento dos mais preparados cientistas, para prosseguirem fora da Alemanha os estudos que conduziram às bombas voadoras V2 e aos aviões a jacto, e que conduziriam mais tarde a boa parte do programa espacial de americanos e russos, principais beneficiados com o recurso à ciência do povo vencido. Ao realizar “O Bom Alemão” Steven Soderbergh, realizador experiente, conjugou este tema de evidente importância com uma linha estética de recordação do cinema dos anos 40 do século findo, com uma fotografia a preto e branco, um formato clássico e o recurso a sequências capazes de lembrarem o cinema de outros tempos, como é o caso dos minutos finais do filme, verdadeira duplicação da mais famosa sequência de “Casablanca”. Da conjugação da técnica e do tema Soderbergh extraiu uma obra de inegável interesse, mesmo que não tenha atingido, permanentemente, a densidade dramática que o argumento deixaria prever, argumento este da autoria de Paul Attanasio. O que mais positivo fica do filme, para além da curiosidade formal, é a crítica severa que se desenvolve em relação à falta de escrúpulos dos políticos das grandes potências, cruzada sistematicamente com os crimes cometidos pelo nazismo, que de forma nenhuma são esquecidos ao longo da narrativa. Mas como ainda haverá bons alemães há o critério de condenar apenas os criminosos e não, por tabela, todo o povo germânico. Francisco Perestrello

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