D. José Ornelas destaca trabalho da comissão independente e dos organismos criados nas várias dioceses
Leiria, 18 mar 2022 (Ecclesia) – O presidente da Conferência Episcopal Portuguesa (CEP) disse esta quinta-feira que o objetivo de uma comissão independente para o estudo de abusos sexuais sobre menores visa ouvir e “dar dignidade” às vítimas.
“O objetivo sempre foi dar dignidade, voz e, o mais possível, fazer justiça a estas pessoas que sofreram abusos”, referiu D. José Ornelas, que falava numa conferência de imprensa, em Leiria.
O responsável destacou que a comissão independente, presidida pelo psiquiatra Pedro Strecht, serve para ir ao encontro das pessoas e não para “dar nas vistas”, prometendo abertura para que todos os casos possam ser “contabilizados”, sob anonimato, para a “caraterização destes fenómenos”.
“Uma grande parte destas pessoas não querem declarar-se perante alguém que as conhece, no ambiente onde são conhecidas”, assinalou o bispo da Diocese de Leiria-Fátima, a respeito das vítimas de abusos.
O presidente da CEP foi questionado sobre a diferença entre o número de testemunhos registados na comissão independente face aos casos denunciados junto das comissões diocesanas.
“Querem de facto ser ouvidas, têm ânsia de ser ouvidas, mas têm a ânsia também de não ser manipuladas e grande parte não quer ser identificada”, observou.
O responsável precisou que a estratégia passa por “ir ao encontro das pessoas e, portanto, o que interessa é criar um ambiente onde as pessoas possam sentir-se à vontade” e ser ouvidas, “perante si próprias e perante as instituições, a sociedade”.
D. José Ornelas sublinhou que as comissões de proximidade, em cada diocese portuguesa, “são e vão continuar a ser necessárias”, porque têm, “antes de mais, a missão da formação”, prevenção e trabalho “com os responsáveis pelas instituições, com os pais”, além do apoio às vítimas.
“O nosso objetivo é encontrar um ambiente de justiça, de compreensão e de ajuda que se possa dar para estas pessoas se libertarem e viverem com dignidade a sua vida”, afirmou.
O bispo de Leiria-Fátima renovou a disponibilidade para permitir o acesso da Comissão Independente aos arquivos diocesanos, sublinhando que “toda a gente quer fazer clareza sobre isto”, mas precisou que ainda se está a trabalhar na metodologia do acesso.
“Queremos clarificar estas coisas. Não tenho medo dos números, não me assustam. Tenho medo não tenho dentro das coisas que possam estar debaixo do tapete, pois caminhar num terreno minado é muito pior do que enfrentar as coisas como devem ser”, apontou o presidente da CEP.
OC