Pedro Vaz Patto lembra que sociedades são confrontadas com uma situação que «já não se vivia na Europa há muito tempo»
Lisboa, 16 mar 2022 (Ecclesia) – O presidente da Comissão Nacional Justiça e Paz (CNJP) disse que a realidade da guerra na Ucrânia “era impensável para todos”.
“Somos confrontados com uma situação que já não se vivia na Europa há muito tempo. Voltamos à II Guerra Mundial para ver imagens como estas: Pessoas que correm para as fronteiras, pessoas que se refugiam em abrigos”, disse Pedro Vaz Patto, em entrevista emitida hoje no Programa ECCLESIA (RTP2).
O presidente da CNJP, organismo laical da Conferência Episcopal Portuguesa (CEP), acrescenta que a situação que se vive com a guerra na Ucrânia, na sequência da intervenção da Rússia começada a 24 de fevereiro, faz verificar que não se aprendeu “com as lições da história”.
O responsável recorda que, após a II Guerra Mundial, surgiram instituições como as Nações Unidas, a União Europeia, que “pretendiam que uma situação com estas não se repetisse, que a ordem internacional fosse baseada não na força mas no direito”.
O conflito que se vive na Ucrânia está a originar a fuga de milhares de pessoas, muitas acolhidas em Portugal, e para Pedro Vaz Patto esta “solidariedade humana deve ser posta em relevo”, salientando que os refugiados são para os cristãos “uma imagem de Jesus”, de Jesus sofredor”.
“Mas é importante ter presente que às vezes estes entusiasmos são passageiros e aquilo que é esta reação espontânea vai perdendo o fogo à medida que também se pede uma continuidade, uma persistência”, alertou o juiz desembargador, lembrando que vão surgindo “dificuldades”, e neste contexto também surge a mensagem do Papa Francisco que pede às pessoas que não se cansem “de fazer o bem”.
O tema das armas nucleares também já apareceu neste novo conflito que se vive na Europa, e para Pedro Vaz Patto pensar no desarmamento nuclear “não deixa de ter sentido” e é evidente que “tem de ser multilateral”.
“Se quisermos verdadeiramente viver em paz, não estar continuamente a pensar que um conflito pode desencadear numa tragédia que implique o uso de armas atómicas. Devemos pensar, como tem sugerido, o Papa no desarmamento”, desenvolveu.
Neste contexto, lembrou que depois da II Guerra Mundial “houve uma transformação que levou a aprender com o que sucedeu”, que levou a mudar as relações internacionais, por isso, também a partir daqui se vê “como é importante pensar num futuro diferente, baseado não só na dissuasão mútua”, que não é a paz verdadeira.
“Este tempo de Quaresma é também o tempo favorável para vermos e identificarmos tudo o que nas nossas vidas e nas nossas sociedades se configura como obstáculo à paz, de modo a que possa ser removido”, lê-se na reflexão do organismo laical sobre a mensagem do Papa Francisco para a Quaresma 2022.
A Comissão Nacional Justiça e Paz tem como finalidade “promover e defender a Justiça e a Paz à luz da Doutrina Social da Igreja”, e no segundo dia de conflito na Ucrânia publicou a nota ‘nada se perde com a paz, tudo pode ser perdido com a guerra’, frase do Papa Pio XII tirada de uma “mensagem profética”, de 24 de agosto de 1939, quando “estava iminente o início da Segunda Guerra Mundial”.
“Todo o mundo está a perder com a guerra”, afirmou Pedro Vaz Patto.
O presidente da CNPJ da Conferência Episcopal Portuguesa começa por indicar que “a guerra tem como vítimas o povo ucraniano”, um país destruído, e milhões de pessoas que têm de deixar a sua terra, mas também “as próprias minorias russas que vivem na Ucrânia”, que são afetadas pelo conflito armado, e o próprio “povo russo, no ponto de vista económico”, no isolamento que se cria que até atinge os desportistas.
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