Uma era de pós-ecumenismo

«Urge uma era de pós-ecumenismo », defendeu anteontem à noite em Viana do Castelo o professor e director do mestrado em Ciências das Religiões da Universidade Lusófona, Paulo Mendes Pinto, que falava no encerramento da XVI Semana de Estudos Teológicos organizada pela Escola Superior de Teologia e Ciências Humanas daquela cidade. Enquadrado numa leitura do “Estado actual do diálogo inter-religioso e ecuménico”, Mendes Pinto disse que o ecumenismo falhou na sua génese porque foi entendido pela sociedade como uma cedência ou negação das religiões e Igrejas à sua verdade doutrinal. Ora, isso é a dissolução das religiões. Tampouco o tópico «tolerância » é aceitável pois «em religião, tolerar é intolerável », pois tal não implica respeito e criatividade mas, apenas, suportar o outro. A verdade é que — conforme pensava a mentalidade moderna — o progresso científico não acabou com a religião, ela não desapareceu e permanece emergente. Mas os Estados europeus não foram capazes de conviver inteligentemente com este fenómeno e, particularmente, o Estado português foi o mais lento e cego em matéria de legislação sobre liberdade religiosa. Desta forma, o Estado foi também incapaz de promover o diálogo inter-religioso, apesar de ser ele o primeiro interessado em que tais instituições que subsistem no seu interior se encontrem e partilhem positivamente. A principal consequência desta cegueira estatal e das dificuldades das instituições religiosas em espalhar a sua mensagem é um empobrecimento quase total da população no que diz respeito a toda simbólica e cultura religiosas. Por isso, concluiu o conferencista, uma era de pós-ecumenismo parece encaminhar-se pela construção de uma «ética global», sensível às grandes questões do nosso tempo, particularmente a crise ecológica. Esta Semana de Estudos Teológicos, conforme foi dito na sessão de encerramento, no auditório do Instituto Católico de Viana do Castelo, permitiu aos participantes uma aproximação à identidade do Judaísmo, Cristianismo e Islamismo «para perceber melhor a nossa sociedade e, em último termo, percebermo-nos melhor a nós mesmos». Todavia, foi uma abordagem que não se ficou pelos textos sagrados, mas chegou aos contextos. Um trabalho que «não é fácil, mas é premente».

Partilhar:
plugins premium WordPress
Scroll to Top