Encontro em Fátima reuniu milhares de pessoas, destacando importância do processo sinodal
Fátima, 12 jan 2022 (Ecclesia) – O Papa associou-se hoje à celebração do Dia da Família Inaciana em Portugal, com uma mensagem lida em Fátima aos mais de dois mil participantes na iniciativa promovida pelos Jesuítas.
“Aproximar-se da experiência de Santo Inácio, depois de sua ferida, significa também aproximar-se de uma experiência de discernimento. Não se pode entender a restante vida de Inácio sem esta base experiencial. Ele recebeu a graça de poder conhecer e expressar o que acontece em um coração aberto à graça e, portanto, submetido à tentação”, referiu Francisco, numa carta enviada ao coordenador do Ano Inaciano, padre Miguel Pedro Melo.
O texto, lido na Missa conclusiva da jornada, na Basílica da Santíssima Trindade, e divulgado online, lembrou a experiência pessoal de Santo Inácio de Loiola, fundador da Companhia de Jesus, a propósito dos 500 anos da sua conversão e dos 400 da sua canonização, que hoje se assinalam.
O Papa apelou a uma atitude peregrina, de quem se coloca a caminho.
“Não num caminho de passeio, um caminho hermético, ou um caminho no âmbito de si mesmo sem sair pela estrada (o que confirmaria andar num labirinto), nem turismo nem labirinto, mas caminho em direção a alguém que me chama, um caminho que supõe deixar algo e olhar adiante, em direção a algo a que sou chamado e não vejo completamente – pois será definitivamente”, precisou.
O caminho, guardado pela oração, forja instrumentos no nosso coração, [a partir] daquilo que ali acontece; mas não para ficarmos aí, numa autoanálise complacente, mas para continuarmos a sair de nós mesmos, a caminhar segundo a vontade do Senhor que nos chamamos. E essa caminhada supõe um despojamento contínuo”.
Ao longo do dia, Fátima acolheu mais de duas mil pessoas ligadas à espiritualidade inaciana e às obras da Província Portuguesa da Companhia de Jesus.
O programa contou, durante a tarde, com uma conferência da irmã Nathalie Becquart, subsecretária da Secretaria-Geral do Sínodo dos Bispos, que relacionou a conversão de Santo Inácio e o apelo do Papa Francisco para o percurso sinodal, iniciado em outubro de 2021 e a decorrer até 2023.
A coordenadora da Comissão de Metodologia do Sínodo – e primeira mulher a ter direito de voto nestas assembleias – apelou a uma Igreja “relacional”, que seja “inclusiva” e atenta a todas as pessoas, num tempo de “mutação constante”.
A especialista destacou a importância de atitudes de discernimento, escuta e diálogo, especialmente com os que estão “longe da Igreja” e nas “periferias” da sociedade.
“Se ouvirmos Deus, realmente, novos caminhos podem ser abertos”, sustentou.
A sinodalidade é um chamamento de Deus para a Igreja de hoje, ou seja, é a forma de ser Igreja neste contexto em que vivemos”.
A religiosa destacou que os católicos devem compreender-se na Igreja como “peregrinos missionários” para promover uma conversão “pessoal e comunitária”, a exemplo de Santo Inácio.
“Há necessidade de uma reforma da Igreja”, acrescentou.
O Dia da Família Inaciana começou de manhã, com uma dinâmica pastoral que se multiplicou em quatro programas distintos – jovens, famílias, Amigos de Inácio e o Companheiros na Missão, que juntou os que colaboram mais diretamente na missão conjunta da província portuguesa dos Jesuítas.
A tarde, marcada pela chuva, começou com um momento de oração na Capelinha das Aparições, onde o superior provincial da Companhia de Jesus, padre Miguel Almeida, evocou os 500 anos da batalha de Pamplona, quando o jovem Iñigo López de Oñaz y Loiola foi atingido por uma bala, iniciando um período de convalescença e conversão.
“Tudo começou numa batalha perdida, numa guerra perdida, numa perna partida, numa ferida profunda”, realçou.
Este jubileu prolonga-se até 31 de julho, festa litúrgica do fundador dos Jesuítas, num programa que inclui peregrinações, exercícios espirituais, encontros, formações, debates, novos livros e publicações.
O coordenador do Ano Inaciano em Portugal, padre Miguel Pedro Melo, saudou os presentes no Centro Paulo VI, onde destacou a centralidade da ideia de “familiaridade” na espiritualidade de Santo Inácio.
“Também nós acolhemos este convite a ser Família Inaciana, partilhando com entusiasmo que Deus nos confia no nosso hoje, eclesial e mundial, que pede um novo modo de tomar decisões, de sermos Igreja”, referiu o religioso.
O Ano Inaciano foi proclamado para recordar os 500 anos da conversão de Santo Inácio e tem como tema ‘Ver novas todas as coisas em Cristo’.
OC