Mensagem Quaresmal do Bispo de Coimbra

Em nota pastoral recentemente aprovada por todos os Bispos, afirma-se que “uma acentuada mutação cultural” está a marcar a vida dos portugueses e os seus costumes. Esta mudança de valores, de interesses e de comportamentos resulta de várias causas, entre elas o desinteresse em se “interrogar sobre o sentido da vida e as questões primordiais do ser humano”, bem como “o individualismo no uso da liberdade”. Os ventos da superficialidade e do materialismo individualista também nos influenciam a nós, cristãos, levando-nos inconscientemente para uma vida que, por vezes, de cristão só tem a casca, as tradições, os hábitos rotineiros… “Eis agora o tempo favorável”, assim reza a liturgia do início da Quaresma, o tempo favorável para mudarmos, para procurarmos o essencial da nossa vida cristã, o seu miolo, a sua verdade fundamental. Preparar e viver a Páscoa é o caminho para voltarmos ao essencial. Porque o essencial do cristianismo é sermos unidos a Jesus Cristo, morrendo com Ele para os nossos pecados e ressuscitando diariamente com Ele para uma vida de fé e de amor generoso. O Santo Padre diz-nos isto mesmo na sua mensagem para a presente Quaresma. Ser cristão é sentir-se amado por Deus, de tal modo que esse amor divino nos leve a mudar radicalmente a nossa vida para lhe correspondermos. Por isso, a primeira conversão que precisamos de fazer é a de sermos mais fiéis à oração. Cristão que não reza nunca atingirá o miolo da sua fé. O Papa convida-nos a que, nesta Quaresma, a nossa oração seja predominantemente contemplar o crucifixo e assim nos deixarmos tomar pela paixão de amor que Deus nos tem. E acrescenta: “A resposta que o Senhor deseja ardentemente de nós é antes de tudo que acolhamos o seu amor e nos deixemos atrair por Ele. Mas aceitar o seu amor não é suficiente. É preciso corresponder a este amor e comprometer-se depois a transmiti-lo aos outros”. Que estas palavras do Santo Padre nos ajudem, a todos os cristãos da Diocese de Coimbra, a vivermos o caminho quaresmal de tal modo que ele nos leve a sermos crentes tomados pelo essencial da nossa fé: o amor. Na oração diante do crucifixo beberemos esse amor e aprofundaremos o real “sentido da vida e as questões primordiais do ser humano”; no cuidado em amar o próximo, corresponderemos ao que o Senhor nos pede, corrigindo os ventos do “individualismo no uso da liberdade”. Como gesto de amor aos irmãos, gesto que nos estimule e nos una, proponho aos cristãos da Diocese de Coimbra que ao longo da Quaresma traduzam em oferta de dinheiro as suas renúncias e penitências, oferta que enviaremos para casas e instituições que acolhem e ajudam mães em dificuldades por causa da sua maternidade. Que estes caminhos de Quaresma conscientemente vivida nos conduzam a uma comunidade de cristãos que, na nova cultura para onde a mudança nos leva, sejam de verdade “sal da terra”e “luz do mundo”. † Albino M. Cleto

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