Médica cardiologista reconhece no Papa Francisco um «grande defensor, impulsionador e concretizador da mulher»
Lisboa, 08 mar 2022 (Ecclesia) – A médica cardiologista Sílvia Monteiro disse que as mulheres não precisam de “protagonismo” na Igreja, mas que os seus dons “femininos” deveriam ser considerados para cargos onde as decisões são tomadas e onde a Igreja tem impacto.
“Os dons que recebemos no feminino, que são diferentes do homem, podem trazer um novo rosto, mais humano à Igreja que é tão preciso nos dias de hoje. O dom do acolhimento, do cuidado, o instinto maternal da própria doação, a mediação de conflitos, o perdoar, temos uma comunicação menos agressiva do que o homem. Mas não somos florzinhas de estufa: somos mais criativas, inovadores, resilientes, trabalhamos em multitask». E a espiritualidade – a mulher tem uma sensibilidade e ternura”, enumera numa entrevista à Agência ECCLESIA.
“As mulheres não precisam de protagonismo na Igreja; o único protagonista na Igreja é Jesus Cristo”, acrescenta.
A médica cardiologista reconhece no Papa um “grande defensor, impulsionador e concretizador da mulher” e recorda que Francisco indica a “ternura” como “o grande canal de comunicação em Igreja”.
“Quem melhor do que a mulher para tornar este amor próximo e concreto no mundo que todos reconhecemos como frio e distante, onde são precisos gestos concretos – tocar, abraçar, deixar-se alcançar?”, questiona.
A médica cardiologista dá conta de maior número de fiéis no feminino nas assembleias eucarísticas, e também em tarefas de serviço, “na ação e no fazer”, em áreas da “liturgia, da catequese, de toda a ação social”, no entanto, lamenta, que esta ação se circunscreva no “fazer o que é pedido”.
“Olhamos para os problemas da Igreja, que vive neste momento alguma fragilidade, fruto dos abusos de poder que se perpetuaram ao longo do tempo, porventura por todo o poder estar muito centrado no Homem”, lamenta.
Numa entrevista no âmbito do Dia Internacional da Mulher, Sílvia Monteiro indica que a paridade não se resume a uma inclusão, “é mais do que isso”, falando em termos “éticos” e do contributo de “dons no feminino”.
Reconhecendo uma mudança em curso, apesar de “lenta”, “sobretudo em instituições nacionais e menos a nível diocesano” que identifica como o local onde “se discute a Igreja e com um grande impacto nas comunidades”.
“Falta a confiança de entregar locais onde a mulher possa liderar com o estilo de liderança no feminino. Colocar as mulheres nestes locais será uma revolução, que tem de começar em cada um de nós, mas que pode alavancar a renovação que a Igreja tanto precisa”, reconhece.
Falando sobre a participação no processo sinodal, iniciado pelo Papa Francisco em outubro de 2021 e que vai culminar num encontro em outubro de 2023, Sílvia Monteiro reconhece ser um “momento histórico” que vai permitir “construir uma nova forma de ser Igreja”.
“Acredito, profundamente, que as mulheres, pelos dons que recebemos no feminino, podemos ser protagonistas nesta mudança, se tivermos a oportunidade de servir na Igreja, porventura de uma forma diferente da que temos servido até ao momento”, indica.
Sílvia Monteiro indica que, na sua perspetiva, a participação ativa das mulheres na Igreja “é um não assunto” e esse entendimento pode concorrer para o “perpetuar a realidade”.
“Ainda não se percebeu porque vale a pena. Pode trazer novidade à Igreja. Se olharmos para as organizações, isto está estudado, a diversidade traz inovação, valor e a capacidade de chegar a novos locais – um aspeto que a Igreja precisa de uma forma decisiva: necessita de um discurso que toque a vida real das pessoas deste tempo contemporâneo”, valoriza.
A médica cardiologista afirma ainda que a mulher “tem responsabilidade neste perpetuar”.
“Cabe a nós mulheres fazer o caminho e perceber que podemos ter um papel, na ajuda da renovação da Igreja. Cabe a cada mulher, perceber antes de mais qual a missão que Deus tem para si, quais os dons que recebeu e estar disponível para os entregar”, indica.
PR/LS