Mensagem Quaresmal do Bispo do Algarve

1. Este é o tempo favorável Iniciamos hoje, Quarta-feira de cinzas, a Quaresma. A liturgia deste dia é marcada pelo gesto simbólico da Imposição das cinzas, acompanhado pelo convite “arrependei-vos e acreditai no Evangelho” (Mc 1,15). Entramos, assim, no tempo favorável (2Cor 6,2) para acolher este repto que, de diferentes modos, a liturgia nos lançará ao longo destes quarenta dias, que separam a Quarta-feira de cinzas da Quinta-feira santa, início da celebração do mistério pascal da paixão, morte e ressurreição do Senhor. Este é o tempo favorável para reviver a experiência de Israel a caminho da terra prometida e o tempo que Jesus passou retirado no deserto, em oração e jejum, ao qual se seguiu a vitória sobre o tentador e o início da pregação do Evangelho e do anúncio do Reino. É toda a Igreja, em cada um dos seus membros, que é convidada a percorrer este caminho. Igreja que é santa em Cristo mas pecadora nos seus membros e, por isso, sempre necessitada de se purificar e de se renovar pela penitência (cf LG 8). A oração, a esmola e o jejum, igualmente recordados na liturgia deste dia, constituem os meios imprescindíveis para uma conversão pessoal sincera e uma adequação da vida ao Evangelho. Meios imprescindíveis e inseparáveis, já que se reclamam mutuamente para conseguirem o seu fim. 2. Experiência renovada do amor de Deus Queremos percorrer este caminho quaresmal, em comunhão com toda a Igreja, iluminados e sintonizados com a mensagem quaresmal do Papa Bento XVI, inspirada na meditação e na convicção do apóstolo João, junto à cruz: hão-de olhar para Aquele que trespassaram (Jo 19,37). Vamos acolher o convite do santo Padre, dando seguimento à sua reflexão apresentada na Encíclica Deus caritas est, e detenhamo-nos, na companhia de Maria e de João, aos pés da cruz, na contemplação silenciosa e participativa do amor de Deus manifestado plenamente em Cristo de coração trespassado. A morte de Cristo na cruz surge como um acto supremo de amor e de liberdade; a revelação mais perturbadora do amor de Deus, simultaneamente eros e ágape. “A revelação do eros de Deus ao homem é, na realidade, a expressão suprema do seu ágape. Só o amor no qual se unem o dom gratuito de si e o desejo apaixonado de reciprocidade, infunde um enlevo que torna leves os sacrifícios mais pesados”. A contemplação do Coração trespassado de Cristo ajuda-nos igualmente a salientar o tom pascal do caminho quaresmal, ou seja a vivermos a Quaresma como um tempo eminentemente baptismal/penitencial, eucarístico e eclesial. Dimensões presentes na riqueza simbólica do sangue e da água, referidos por S. João (19,34). Riqueza que levou o Concílio a afirmar, com os Padres da Igreja, que foi do Coração trespassado de Cristo que nasceu o sacramento admirável da Igreja (SC 5). Acolhamos este amor de Cristo… deixemo-nos atrair por Ele… comprometamo-nos a transmiti-lo aos outros, amando-os com o mesmo amor com que somos amados por Deus. 3. Partilha fraterna e solidária Faz parte da espiritualidade quaresmal a partilha fraterna, fruto da chamada “renúncia quaresmal”, expressão solidária com os mais necessitados da Igreja local ou universal. Nos últimos anos destinámos essa quantia a projectos de promoção humana e social de Cabo Verde e Timor. Este ano, ouvido o Conselho Presbiteral, recentemente reunido, a nossa partilha quaresmal destinar-se-á a auxiliar a comunidade do Vicariato da Pedra Mourinha, um bairro limítrofe da cidade de Portimão. Trata-se de uma comunidade que há cerca de vinte anos celebra o culto dominical num salão emprestado apenas para esse dia e essa finalidade, não possuindo quaisquer instalações próprias. Há muito que esta comunidade vem sonhando e acalentando a construção de um complexo pastoral, do qual faz parte a Igreja. As obras, finalmente, iniciaram… Todavia, não possuindo a comunidade grandes recursos nem apoios significativos, toda a ajuda é bem vinda, mesmo se o que se pretende, numa primeira fase, seja o de conseguir um espaço próprio que responda às suas necessidades mais elementares, ao nível da catequese e do aprofundamento da fé, da celebração do culto, do acolhimento pessoal e da promoção da caridade. Quero convidar-vos, meus caros diocesanos, a nos unirmos todos na partilha solidária e generosa, fruto da nossa renúncia quaresmal, para a concretização deste sonho dos nossos irmãos da Pedra Mourinha. Exorto, igualmente, todas as Paróquias, particularmente as que possuem melhores condições económicas, para a partilha fraterna com esta comunidade, como expressão de comunhão eclesial. Que a contemplação do Trespassado, apoiados em Maria e João, nos guie neste caminho quaresmal de conversão sincera ao amor de Cristo, de modo a renovarmos, convictamente, as promessas baptismais e a participarmos da plenitude da alegria pascal de Cristo Ressuscitado. Faro, 21 de Fevereiro de 2007 † Manuel, Bispo do Algarve

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