Cinema: espionagem em imagens

Tema frequente no cinema ao longo dos seus longos anos de história, a espionagem tem sido abandonada nos últimos tempos em que os produtores têm apostado sobretudo nos dramas, comédias e thrillers. Mas há produtores que apostaram em Robert De Niro e lhe entregaram a realização de “O Bom Pastor”, que se debruça, apesar do seu título, sobre os primeiros passos da CIA nos Estados Unidos. Para além da realização De Niro desempenha um pequeno papel, mas as figuras centrais estão a cargo de Matt Damon, Angelina Jolie e Alec Baldwin, sofrendo um pouco da pouca expres-sividade do primeiro. Mas o importante do filme é o tema, em que nos apercebemos como organizações de objectivos oficialmente patrióticos não hesitam no recurso à violência, à tortura e aos mais variados processos de obtenção de informações, nem sempre revelando a necessária dose de inteligência. A narrativa, assumidamente desprezando a ordem cronológica, dá uma imagem bastante objectiva do confronto imposto aos membros da organização – seja a CIA seja outra entidade responsável por espionagem ou contra-espionagem – que são obrigados a destruir a vida familiar e a não contar com verdadeiros amigos, para viverem numa permanente clandestinidade que muitas vezes leva à destruição da sua personalidade. Robert De Niro, que anteriormente apenas realizara um filme (Um Bairro em Nova Iorque, 1993), mostra uma elevada aptidão para dominar as difíceis situações descritas, deixando que a desejada crítica social se infiltre de uma forma permanente em toda a narrativa. Sem nunca tomar uma posição ostensivamente condenatória das entidades governamentais da época, o filme expressa claramente os caminhos tortuosos das polícias secretas, sobretudo quando, como é o caso da CIA, têm a sua actividade centrada especialmente em países terceiros. Sem se poder considerar como um dos grandes filmes da época, “O Bom Pastor” fica como um apontamento de inegável interesse na crítica à política das grandes potências, fazendo crer que esta pouco evoluiu nas últimas décadas, bem mais de meio século. Francisco Perestrello

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