Final da vida, a próxima batalha

Porto prepara agentes pastorais para trabalho de qualidade na defesa da vida em todas as suas fases Igreja Católica tem de estar preparada para novas batalhas em defesa da vida, em especial depois do precedente aberto pelo resultado do referendo do passado Domingo. A convicção é do Pe. José Nuno Silva, Coordenador Nacional dos Capelães Hospitalares e Coordenador Diocesano da Pastoral da Saúde no Porto. “Todos os que defendemos a vida devemos perceber que a devemos defender no início e no fim. Estamos a entrar num período novo da história da sociedade portuguesa, em que fica consagrada no seu edifício jurídico a possibilidade da vida humana ser dispensada”, refere à Agência ECCLESIA. A Diocese do Porto promoveu ontem uma sessão comemorativa do Dia Mundial do Doente, com a presença José Carlos Bermejo, religioso camiliano, Director do “Centro de Humanización de la Salud”, em Madrid. Para este especialista, não se pode falar de eutanásia sem antes esgotar as respostas dos Cuidados Paliativos e deixar de praticar o encarniçamento terapêutico. Na sua Mensagem para o Dia Mundial do Doente 2007, o Papa “foi profético ao declarar o direito de cada ser humano em ter acesso aos cuidados paliativos, específicos para pessoas em fim de vida, quando deles necessita”. “Este apelo deve ecoar e chegar longe”, considera o Pe. José Nuno. Pela experiência que se viveu noutras partes do mundo, depois da despenalização do aborto, “novas campanhas irão surgir”, pelo que a defesa da vida terá de se continuar a fazer “com realismo”. O Dia Mundial do Doente, dedicado este ano ao tema dos cuidados paliativos, coincidiu com o referendo ao aborto no nosso país. Para o Coordenador Nacional dos Capelães Hospitalares, “a inviolabilidade da vida humana ficou afectada”. “Quem é que a seguir vai incomodar? Quem vai ser tido como estando a mais? Quem vai ser um peso?”, pergunta. A Igreja, defende este responsável, tem de estar atenta aos sinais dos tempos e perceber que, neste momento, “é tão fundamental avançar em força com instituições voltadas para a defesa da vida nascente como com um compromisso de todos em favor da vida que está a morrer”. “A porta ficou aberta: é preciso olhar para o futuro, porque as batalhas seguintes terão outras vítimas”, alerta. Daqui parte um apelo em favor da “proclamação da vida de quem morre”, o próximo “elo mais fraco. A Igreja, mais atenta a questões da conjugalidade e da sexualidade, tem dado uma maior atenção às questões do início da vida do que ao seu final. “Nesse descurar do fim da vida, dos idosos e dos doentes, estamos completamente inculturados”, lamenta o Pe. José Nuno. Actualmente a elaborar uma tese de doutoramento sobre as questões do final da vida, este responsável considera que “em torno da questão da morte, debate-se uma grande parte de tudo aquilo que é fundamental na cultura que estamos a respirar”. “O mundo do sofrimento e da morte é um lugar a que é essencial estar atentos, com um tipo de intervenção muito mais empenhada e esclarecida”, acrescenta. Formar na qualidade A sessão de ontem, no Porto, assinalou a conclusão do Curso de Pastoral da Saúde, realizado no Centro de Cultura Católica, e o início de um novo curso. Foram entregues os diplomas aos perto de cinquenta participantes que chegaram ao fim, após dois anos e meio de estudo e trabalho. Daqui, explica o Pe. José Nuno, saem as equipas que vão animar o novo curso, com 47 inscritos provenientes de paróquias e de capelanias, que visa formar para as duas tarefas: visitadores paroquiais de doentes e cooperadores voluntários de capelanias hospitalares. Estas iniciativas são uma resposta concreta ao desafio da competência. “Não basta fazer o bem, é preciso fazê-lo e em tudo o que tem a ver com a situação da doença, em que se está frágil e exposto, é fácil fazer mal”, adverte. A Universidade Católica Portuguesa está a promover, nesta área da pastoral da saúde, um curso de Mestrado/Pós-Graduação. A proposta da Faculdade de Teologia (Lisboa e Porto) e do Instituto de Ciências da Saúde da UCP para a formação de capelães e assistentes espirituais em saúde é aberta a todos. Tem como objectivos a formação para o “acompanhamento espiritual e religioso de doentes, famílias, e agentes profissionais e voluntários da saúde”, bem como o “aconselhamento, intervenção bioética e colaboração com comissões de ética”. No Porto há já mais de 50 inscrições, o que para o Pe. José Nuno “é um sinal claro de que a necessidade da formação está a ser sentida”. “Ao longo dos últimos anos, o trabalho com os capelães hospitalares foi sempre orientado na direcção de consciencializar as pessoas da necessidade de se formarem para uma missão cada vez mais exigente”, conclui, falando num “tempo novo” nas capelanias hospitalares de Portugal.

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