Organismo registou 214 depoimentos no primeiro mês de atividades
Lisboa, 10 fev 2022 (Ecclesia) – A Comissão Independente para o Estudo de Abusos Sexuais contra as Crianças na Igreja Católica em Portugal apresentou hoje um balanço do seu primeiro mês de atividade, no qual registou 214 testemunhos.
Em comunicado enviado à Agência ECCLESIA, o organismo liderado pelo psiquiatra Pedro Strecht sublinha a existência de um “elevado número de respostas” por inquérito online, assumindo a intenção de alargar o âmbito da sua ação.
“A divulgação do estudo pode não estar a chegar a certas franjas da população, nomeadamente as que vivem em margens sociais, culturais e económicas, infoexcluídas e no que frequentemente se refere como o ‘país profundo’”, refere a nota.
A comissão adianta que “estabeleceu contactos com estruturas e instituições que, por outras formas e métodos, chegam em maior proximidade destas pessoas”, como as Comissões Diocesanas, Institutos Religiosos, Instituto de Apoio à Criança, Comissão Nacional de Promoção dos Direitos e Proteção das Crianças e Jovens, Associação Portuguesa de Apoio à Vítima, Associação Quebrar o Silêncio, Sistema de Proteção e Cuidado de Menores e Adultos Vulneráveis (Serviço de Escuta dos Jesuítas).
“Com todos pretende a Comissão estabelecer pontes de diálogo no sentido de melhor aprofundar o estudo”, acrescenta o comunicado.
O organismo adianta a intenção de enviar uma carta a todos os Municípios, para que “reforcem a mensagem da Comissão e contactos junto de forças locais da sociedade civil”.
A nota destaca ainda que a Comissão “nunca divulgou ou divulgará publicamente nomes de vítimas, abusadores ou locais de abuso”.
O texto realça que os testemunhos recolhidos “apontam o conhecimento ou a forte probabilidade de, naquelas circunstâncias de tempo e espaço, outras crianças terem sido vítimas do mesmo abusador”, pelo que a comissão admite uma “diferença considerável entre a quantidade de casos diretamente validados e outros tidos como existentes ou muito prováveis”.
“Os casos recolhidos englobam até agora vítimas nascidas no espaço de tempo compreendido entre os anos de 1933 e 2006 e, em alguns deles, cruzam informação, o que naturalmente reforça a credibilidade dos testemunhos”, pode ler-se.
Além dos relatos de todo o território português, transversais a “grupos sociais e níveis de escolaridade”, existem testemunhos de portugueses atualmente a residir no estrangeiro.
Os testemunhos, indica a nota, “revelam sofrimento psíquico individual, familiar e social, por vezes escondido durante décadas e, em muitas circunstâncias, até ao momento deste depoimento tido como o primeiro a romper com o silêncio”.
“Esse sofrimento associa-se a sentimentos de vergonha, medo, culpa e autoexclusão”, acrescenta a nota.
OC