Vaticano: Papa lamenta «crise de confiança» na diplomacia

Encontro anual com embaixadores dos cinco continentes marcado por apelos ao multilateralismo

Cidade do Vaticano, 10 jan 2022 (Ecclesia) – O Papa lamentou hoje no Vaticano a “crise de confiança” na diplomacia, pedindo uma aposta da comunidade internacional no multilateralismo, falando a embaixadores dos cinco continentes.

“A diplomacia multilateral é chamada a ser verdadeiramente inclusiva, não eliminando, mas valorizando as diversidades e as sensibilidades históricas que caraterizam os vários povos. Recuperará, assim, credibilidade e eficácia para enfrentar os próximos desafios, que exigem que a humanidade se reúna como uma grande família”, indicou, no encontro anual com os membros do corpo diplomático acreditados na Santa Sé.

Falando na Sala das Bênçãos do Palácio Apostólico, Francisco atribuiu a “crise de confiança” na diplomacia à “reduzida credibilidade dos sistemas sociais, governamentais e intergovernamentais”.

“Este desequilíbrio, que hoje se tornou dramaticamente evidente, gera insatisfação para com os organismos internacionais por parte de muitos Estados e enfraquece no seu todo o sistema multilateral, tornando-o cada vez menos eficaz para enfrentar os desafios globais”, acrescentou.

O Papa criticou ainda a predominância de “um pensamento que nega os fundamentos naturais da humanidade e as raízes culturais que constituem a identidade de muitos povos”, assinalando, a este respeito, os ataques contra “o direito à vida, desde a conceção até ao fim natural”, e à liberdade religiosa.

Considero que se trata duma forma de colonização ideológica, que não deixa espaço à liberdade de expressão e que hoje se concretiza cada vez mais naquela cultura censória, que invade tantos espaços e instituições públicas”.

Francisco falou da consciência ecológica, que procura combater a “contínua e indiscriminada exploração dos recursos”.

“Penso especialmente nas Filipinas, atingidas nas semanas passadas por um tufão devastador, bem como noutras nações do Pacífico, vulneráveis aos efeitos negativos das mudanças climáticas, que colocam em risco a vida dos habitantes, a maioria dos quais depende da agricultura, pesca e recursos naturais”, exemplificou.

O Papa desafiou a comunidade internacional a encontrar soluções comuns e colocá-las em prática.

“Na recente COP26 em Glasgow, foram dados alguns passos que vão na direção certa, embora bastante débeis relativamente à consistência do problema a enfrentar. O caminho para se alcançar os objetivos do Acordo de Paris é complexo e parece ainda longo, enquanto se torna cada vez mais curto o tempo à disposição”, advertiu.

O encontro começou com a saudação do decano do corpo diplomático, George Poulides, embaixador do Chipre.

183 Estados mantêm atualmente relações diplomáticas com a Santa Sé, a que se somam representações da União Europeia e da Soberana Ordem Militar de Malta.

OC

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Agência ECCLESIA

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