Viver em Grande

Quando se descobrem as razões de viver, o rumo dos dias, o sentido das dádivas constantes que a vida nos dá e pede, atenuam-se as sombras. Nos últimos tempos, tem-me questionado tanto a leveza com que se fala da vida. Poucos a olham e a sentem como a primeira vocação do ser humano, na dimensão dialógica de uma chamada que pede resposta. Poucos a percebem como dom gratuito do Criador e Senhor da Vida e do amor daqueles que nos geraram, no meio de tantas dificuldades. A minha mãe gerou 7 filhos. Nos anos 40, em idade já avançada para a época, (tinha 42 anos) engravidou. Ainda me lembro da ousadia daquela mulher, de rosto sofrido e de alma ansiosa que, diante da proposta dos médicos para abortar, uma vez que estava em causa a sua vida, reuniu-nos e planificou o futuro dos adolescentes que nós éramos e disse-nos: não sou capaz de matar um filho. Deus vai tomar conta de mim e de vocês. Não. Não nos venham dizer que as situações de carência são razões para a morte da vida. Com tantas alternativas ao discernimento, desde o planeamento familiar à prevenção (de situações limite), não nos venham dizer que este caminho tem sentido único. Convivo de perto com famílias carenciadas, como também com mães jovens que lutam intrepidamente para terem filhos. Os pobres sempre me evangelizaram, em termos de generosidade, de solidariedade e de amor. Não será que a raiz de todo este movimento que vai gerando uma cultura de morte está, isso sim, num deficit profundo de amor, de abnegação, de fé diante do mistério da vida? Acompanho pais de filhos deficientes profundos. Só os ouço falar dos filhos com ternura e expressar o amor duma forma que nos desafia, a nós, que nos julgamos os normais… Na última carta que recebi da mãe de uma deficiente profunda, ela dizia: “A Vania, meu tesouro, está a passar uma fase difícil de repetidas convulsões”. Acompanho tetraplégicos e, depois de cada encontro, regresso a casa contagiada pelos seus projectos e sonhos de viver e a convicção de que têm uma missão para o mundo: despertar e animar a esperança! Ainda esta manhã, depois de estar com o Luís, ele me dizia: “Tenho tanto que agradecer a Deus, porque o meu cérebro não foi atingido… tenho uma mãe que me cuida e uma família incrível que são suporte da minha parte psicológica. No princípio, ainda pensei: vou ser um peso. Hoje, como sempre, sinto-me um filho amado”. Bendita seja a hora em que nasci! Nunca agradecerei o suficiente à minha mãe, por me ter permitido viver feliz, sentir as dificuldades da vida na minha juventude, perceber os sacrifícios que passaram por nossa causa. A vida é difícil! Dizem psicólogos e terapeutas. Mas também é verdade que a vida está cheia de oportunidades. Quando se descobrem as razões de viver, o rumo dos dias, o sentido das dádivas constantes que a vida nos dá e pede, atenuam-se as sombras. Tenho nas mãos o último livro de Richard Carlson, É mais fácil do que parece, porque a vida não é tão difícil. Só o título interpela e desafia a folhear o livro. Alguns capítulos despertam para algumas mudanças que urge acontecerem em nós. O capítulo, ‘Aprenda a dizer não’, mobiliza-nos para uma aprendizagem de fundo: Aprenda a dizer sim à vida! M. Amélia Uma mulher feliz!

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