Quase extinta, sobrevive no concelho de Óbidos uma notável tradição de Natal.
Trata-se de uma singela homenagem ao Menino Jesus.
Colocam-se no presépio uns pequenos vasos, tigelas, telhas ou cacos com uma porção de terra e trigo recém-nascido; e uns cachos de uva-passa, jacentes, ou pendentes de cordéis, fitas ou linhas. Àquele trigo chama-se searinhas do Menino Jesus. Às uvas passas, cachinhos do Menino Jesus. Simbolizam o pão e o vinho eucarísticos. Elementos fundamentais nas festas natalícias de ricos e pobres dos séculos passados, em algumas casas destes últimos substituíam mesmo os presépios, que não podiam comprar.
Deve o trigo ser semeado pelos pequeninos – cada um tem a sua searinha – e, findo o Natal, por eles plantado em terra firme. No próximo Natal, dali colherão as espigas para novas searinhas. As uvas – um cacho por criança –, devem sair da última vindima e secar ao sol. Depois de terem estado no presépio, são saboreadas à mesa, no dia de Reis.
Se as searinhas também são feitas por outras regiões, como o Algarve – onde se lhes junta laranjas –, em Óbidos, a junção dos cachinhos é, possivelmente, única no país.
José Félix Duque