Antigo secretário de João Paulo II lança livro de memórias

Obra passa em revista todas as fases da vida do Papa polaco, desde os anos na Polónia (1966-1978), quando Wojtyla era Arcebispo de Cracóvia, aos muitos episódios do pontificado(1978-2005) O Cardeal Stanislaw Dziwisz, antigo secretário pessoal de João Paulo II, lança amanhã uma obra que recolhe as suas memórias pessoais. O actual Arcebispo de Cracóvia revela, entre outras coisas, que os médicos que operaram o Papa polaco em 1981, depois do atentado na Praça de São Pedro, tinham a certeza de que ele morreria. O livro “Uma vida com Karol” foi escrito com a colaboração do jornalista Gian Franco Svidercoschi e será publicado pela editora Rizzoli. Num capítulo intitulado “Aquelas duas balas”, o Cardeal Dziwisz relembra o que sentiu quando o turco Mehmet Ali Agca atingiu o Papa a tiro, no dia 13 de Maio de 1981. “Tentei segurá-lo, mas foi como se ele estivesse a ir embora devagar”, escreveu. Muitas peripécias e dificuldades surgidas após o atentado são relatadas: no meio da confusão, João Paulo II foi levado por engano ao décimo andar, para depois então ir para a sala de cirurgia, no nono andar. Os funcionários arrombaram duas portas para que o Papa chegasse lá mais rapidamente. “O pior foi quando o Doutor Buzzonetti se aproximou de mim para pedir-me que administrasse ao Santo Padre a unção dos doentes, o que fiz de imediato, mas com o coração destroçado. Era como se me tivessem dito que não havia nada a fazer”, lembra. O último capítulo é dedicado aos momentos finais da vida do Papa polaco. Particularmente comovente é o relato da colocação do véu branco sobre o rosto de João Paulo II, já no caixão: “Era a última vez que via o seu rosto, mas principalmente o seu olhar, porque era o olhar o que mais impressionava nele. Por isso, fazia tudo muito lentamente para que esse instante durasse muito mais (…). Peguei no véu branco e coloquei-o sobre o seu rosto, com medo de que esse pano de seda pudesse incomodá-lo”, conta. O testemunho do Cardeal Dziwisz é apresentado como um retrato “inédito e humaníssimo” de um grande Papa, passando em revista todas as fases da vida de João Paulo II, desde os anos na Polónia (1966-1978), quando Wojtyla era Arcebispo de Cracóvia, aos muitos episódios do pontificado(1978-2005). Revelações Algumas das passagens já divulgadas criaram uma natural curiosidade. O Cardeal Dziwisz indica, por exemplo, que João Paulo II assistiu em directo ao colapso das Twins Towers de Nova Iorque, no 11 de Setembro de 2001. O mais estreito colaborador do Papa polaco afirma também estar convencido de que a União Soviética estava por detrás da tentativa de assassinato sofrida por este em 1981. Um especial destaque vai para a revelação de que João Paulo II pensou seriamente em renunciar ao cargo em 2000, por causa das suas condições de saúde, chegando a admitir mudar as leis canónicas para determinar que os Papas renunciassem obrigatoriamente aos 80 anos. “Ele chegou à conclusão de que tinha de se submeter à vontade de Deus, isto é, permanecer (no cargo) enquanto Deus quisesse”, escreveu o Cardeal Dziwisz. O secretário pessoal de Wojtyla também revelou que, à medida que a sua saúde piorava, João Paulo II criou “um procedimento específico para entregar a sua renúncia, no caso de não conseguir exercer o ministério de Papa até o fim”. O livro surge numa altura em que se espera que termine a primeira etapa do processo de beatificação de João Paulo II, possivelmente no dia 2 de Abril, segundo aniversário da sua morte, como adiantou a televisão pública polaca. Uma investigação sobre uma alegada cura miraculosa de uma religiosa francesa pela intercessão do primeiro Papa polaco deverá ser encerrada ainda no próximo mês. No final desta primeira etapa, todo o material recolhido a nível diocesano será remetido para a Congregação para a Causa dos Santos, no Vaticano, presidida pelo Cardeal português José Saraiva Martins.

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