Publicação Missionária denuncia «guerras esquecidas»

Para além dos conflitos mais mediáticos, existem muitos outros que, mesmo esquecidos pela comunidade internacional, continuam a matar. E cada vez mais vão existir para as populações civis, porque os confrontos militares acontecem na presença de civis, contra civis ou na defesa de civis, sendo eles o alvo e a conquista. Assiste-se na actualidade a uma certa diminuição de guerras major – conflitos armados que infligem mais de mil mortes por ano. Este dado estatístico não esconde contudo um mundo cheio de violência, como recorda a publicação missionária Além Mar, na sua edição de Janeiro. A competição pelo controle dos recursos naturais estratégicos está a desempenhar um papel principal no seio dos conflitos armados. Segundo Michael Klare, director de um programa de estudos sobre a paz e a segurança mundial da Universidade de Hampshire, EUA, refere que “a ideologia e a política continuarão a se factores incendiários. Mas a competição à volta dos recursos naturais vai aumentar, à medida que as reservas de matérias primas, como a água, as fontes de energia e a terra arável se tornarem escassas”. Questão também apontada por Bento XVI na sua mensagem para o Dia Mundial da Paz, este ano, onde reflecte “que injustiças e antagonismos provocará a corrida às fontes de energia e como reagirão os excluídos desta corrido?” Conflitos entre culturas diferentes com base em antagonismos étnicos e culturais, são exemplos que já acontecem na Europa, ou através da imigração oriunda de África, da Turquia ou do Médio Oriente, ou pela possível ruptura nos fornecimentos de petróleo e de gás natural, ou pelo envolvimento de europeus no Iraque, no Afeganistão ou em várias operações de manutenção de paz. Ganhando um peso crescente estão os conflitos assimétricos, ou seja, quando existe uma grande diferença entre o potencial dos adversários, que podem resultar em acções de guerrilha ou terrorismo. Petróleo, gás, minérios, pedras preciosas e madeiras exóticas, motivam cada vez mais guerras civis e conflitos regionais. Actualmente verifica-se que quanto maior é a concentração de poder militar, maior é a tendência para o recursos a estratégias assimétricas. A disputa em torno dos recursos energéticos, com a competição entre potências, actuais ou emergentes serão protagonistas no futuro. Assim como a guerra da água, pode no futuro igualar a do petróleo. As Nações Unidas, por ocasião do Dia Internacional para a Prevenção da Exploração do Meio Ambiente em Guerras e Conflitos Armados, pediram aos governos que deixem de utilizar os recursos naturais para fomentar guerras. O número de atentados terroristas tem registado um crescimento nos últimos anos. Às antigas zonas de influência ideológica, tomou lugar uma realidade de múltiplos conflitos, com razões baseadas em velhos ressentimentos, disputas territoriais, ambições hegemónicas de menor ou maior dimensão ou interesses económicos. Se a guerrilha e o terrorismo são as armas dos mais fracos, os conflitos deixarão de ser uma questão a resolver entre militares, para passar a envolver, matando, deslocando e empobrecendo um número crescente de civis. Para reduzir o aliciamento e sedução dos grupos terroristas, é crucial acabar com a indiferença ou a cumplicidade de vários sectores da sociedade. As medidas serão apoiar forças moderadas, fomentar o desenvolvimento das regiões e exercer pressão para que o sistema internacional se torne mais equitativo e multilateral. Só à medida que for aumentado o número de países desenvolvidos e verdadeiramente democráticos é que será possível reunir condições para reduzir, de facto, o risco de ocorrência de conflitos.

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