Cinema: a queda do Império Maia

Confirmando a sua tendência para a realização de filmes grandiosos Mel Gibson tomou a seu cargo “Apocalypto”, descrevendo o que considera ser as causas de ruína do Império Maia. Afirma, logo de início, que uma civilização só é destruída do exterior depois de iniciar a sua autodestruição, o que documenta com as lutas internas de um povo que se encontrava então, no Século XVI, ainda no auge do seu desenvolvimento. O novo filme de Gibson desperta reacções desencontradas. Por um lado atinge uma excelente ambientação e descrição da época, mesmo que sejam múltiplas as acusações de imprecisões sob o ponto de vista histórico. Os diálogos em dialecto maia contribuem de forma decisiva para o reforço de tal ambiente, evitando-se que o inglês corrente seja um factor de redução do realismo da narrativa. Para permitir uma carreira comercial da dimensão desejada é acrescentada uma linha de ficção, construindo-se um herói verdadeiramente invencível, capaz de sobreviver a todos os ferimentos e perseguições. E é este o ponto fraco do filme, não se coibindo de inverosimilhanças bem marcadas, dando prioridade à acção sobre um contexto documental que constitui o seu maior valor. Os costumes primitivos, em que as maiores violências tinham lugar, incluindo sacrifícios humanos, são descritos com uma evidente crueza sem qualquer esforço de amenização das imagens. O objectivo será dar uma ideia concreta da dureza de vida na época e local da narrativa, o que é inteiramente conseguido. A narrativa termina com a chegada dos colonizadores espanhóis, de que apenas vemos os barcos, acompanhada da decisão de regresso ao interior da floresta por parte dos sobreviventes. “Apocalyto” é um filme interessante, informativo, e mesmo que não atinja inteiramente a posição cimeira a que se propõe é uma obra de uma forma geral com a qualidade desejada. Francisco Perestrello

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