Refugiados: «Pessoas como nós, com sonhos como nós», à espera «do que a Europa pode fazer» – Comunidade de Santo Egídio (c/vídeo)

Rita Gomes e Ana Filipa Ribeiro estiveram no campo de Moria, na Grécia, onde perceberam a vida estagnada de homens, mulheres e crianças à procura de paz

Lisboa, 20 set 2021 (Ecclesia) – Rita Gomes, responsável em Portugal pela Comunidade de Santo Egídio disse que o acolhimento de refugiados “é possível” e que importa mostrar esta realidade “às entidades políticas”.

“A comunidade de Sant’Egídio tem corredores humanitários entre a Turquia e a Etiópia, onde trazemos pessoas desses campos de refugiados, diretamente para um país, já com o visto, sem terem de passar por uma travessia demoníaca”, conta à Agência ECCLESIA.

A responsável esteve em agosto no campo de refugiados de Moria, na ilha de Lesbos, na Grécia, onde lamentou ter reencontrado pessoas que conheceu há dois anos.

“Conheci pessoas que estavam lá há dois anos e sentiam, por isso, que a esperança estava a desvanecer-se. Acham que vão ficar ali de forma indeterminada. Não encontram mudança na sua vida”, lamenta, enfatizando que as pessoas aguardam “o que a Europa pode fazer”.

Há dezenas de conflitos ativos e nesses locais vivem pessoas como nós, com sonhos como nós, pessoas que têm no mínimo a esperança que os filhos tenham uma vida rica e isso pode não acontecer por causa das guerras. Crianças de seis ou oito anos só viram guerra. Chegam à Europa, que é paz, e não encontram isso. São pessoas presas, num local sem sonhos e esperança”.

Sete mulheres portuguesas estiveram dez dias em agosto, no campo de refugiados em Moria, respondendo a um desafio que a Comunidade de Santo Egídio faz a todos os voluntários em tempo de verão: quando as atividades nos países de origem dos voluntários entram em pausa, estes são convidados a partir para, em países ou locais de missão, poderem ser uma ajuda em projetos e às populações locais.

“O que os voluntários fazem é deslocar-se a esses locais para uma experiência de missão, de contacto e conhecimento de histórias de vida que de outra maneira não se poderiam ter. A pandemia fez-nos fechar muito e é importante abrir os nossos corações. Há muita gente a precisar de nós”, lembra a responsável.

Ana Filipa Ribeiro, que em Portugal está ligada às Escolas da Paz, que procuram junto de crianças diferenciadas provocar mudanças através do crescimento conjunto, foi uma das voluntárias em Moria, e destaca o ritmo intenso em 10 dias no campo.

“Tivemos sempre com atividades. Fizemos Escolas da Paz com crianças, demos aulas de inglês e italiano, servimos refeições para que as pessoas possam estar em família, à volta de uma mesa e poder usufruir da refeição”, recorda em entrevista ao programa ECCLESIA, emitida hoje na RTP2.

Foto: Rita Gomes

A Comunidade de Santo Egídio diferencia-se das restantes ONG no terreno que procuram providenciar “comida, saúde, água, tendas. Têm um trabalho muito específico e muito importante”; a Comunidade procura “dar algo mais”.

“Através da amizade queremos mostrar que é possível, que o amor existe, que a paz é possível. Um simples jantar sentado à mesa, com pessoas diferentes, torna-se um jantar de amigos”, indica a responsável.

Rita Gomes diz que as condições do campo de refugiados de Moria, em comparação com o que ardeu há um ano, são melhores, uma vez que o atual já não se encontra sobrelotado – o anterior destinado a acolher duas mil pessoas, acolhia 20 mil – e as famílias estão divididas por tendas, mas indica que o sentimento de “prisão” continua.

O campo dá a sensação de calma, mas é uma calma aparente. Há poeira por todo o lado. As condições são um pouco melhores, mas as pessoas estão lá presas, não é um campo de liberdade, elas não chegam e têm uma vida digna. Damos por garantido nas nossas casas termos uma cozinha, uma casa de banho, um quarto. E estas famílias tomam banho a céu aberto, não têm local para fazer uma refeição. As pessoas estão lá e estão presas. O campo não tem entrada ou saída facilitada”.

Do outro lado do mar avista-se a Turquia, “parece simples alcançar o sonho”, conta Rita Gomes, mas o destino, “depois de um caminho demoníaco, feito em barco por pessoas que não sabem nadar”, é uma “Europa fechada, que não está pronta para os acolher e os mantém presos durante dois anos numa ilha”.

A Comunidade de Santo Egídio organiza a 7 de outubro um “encontro ecuménico entre todas as religiões para rezar pela paz”.

“É uma oportunidade para mostrar que todas as religiões, sejam muçulmanas, judaicas, budistas, todas elas têm orientações diferentes mas em comum têm o amor a Deus. Não estamos para julgar, para mudar as pessoas. Queremos ajudar para aliviar a sua situação, mas o nosso objetivo é que consigam seguir os seus sonhos”, destaca.

LS

 

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Agência ECCLESIA

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