Associação Cais pretende diluir diferenças, preconceitos e desigualdades sociais Quem se aproximar das ruas da Praça da Figueira até ao próximo dia 17 de Dezembro, facilmente vai sentir o cheiro a pão quente. Música, dança, muita animação e claro está, pão para todos é a promessa da Associação Cais, que pelo 3º ano consecutivo realiza o “Pão de Todos”. Henrique Pinto, director da Cais, afirma que pretendem inverter a mentalidade dos portugueses e “levá-los ao encontro da gratuidade, mostrando assim uma forma de se ser fraterno”. O gesto de solidariedade mostra o orgulho da obra feita este ano, quer em Portugal quer no estrangeiro e ao mesmo tempo “queremos provocar as pessoas a mudarem a sua forma de estar internamente, pois só mudando a forma interna se pode mudar as estruturas externas”, sublinha o director da Cais. Há uma grande adesão por parte de empresas no apoio prestado e Henrique Pinto é peremptório em afirmar que “o aumento da intervenção que as empresas têm mostrado nesta iniciativa, pois sem estes voluntários seria impossível esta realização concreta no terreno que simboliza um grande altruísmo e também a cidadania empresarial”. No entanto é preciso “passar para além do verniz, pois para sermos solidários temos que apelar a muito mais” e congregar todos, afirma Henrique Pinto que lamenta não poder chegar ao país inteiro. “O pão de todos é para todos, não apenas para os pobres da Cais ou de Lisboa”, informa. E lança um repto: “gostaríamos que através deste evento se criasse o Dia Nacional do Pão e que o que acontece hoje em Lisboa pudesse ser simultâneo noutros locais do país”, propõe. Ainda sem passos concretos, a execução pela terceira vez do “Pão de Todos” pode ser uma etapa ganha para essa concretização. Filomena Saraiva é voluntária e acompanha esta iniciativa desde o seu começo. Manifesta uma grande alegria por estar presente na tenda e dar o seu tempo aos outros. “Sentir que sou útil num grupo de voluntariado agrada-me muito”, isto acrescido ao facto de, de ano para ano a tenda ter aumentado, possibilitando a chamada de atenção para mais pessoas. “Cada vez se trabalha com mais gosto” sublinha, relembrando a importância que atribuiu à relação que se estabelece com as pessoas que chegam. “Aparecem todo o tipo de pessoas. Vi pessoas a pedirem-me pão para o dia seguinte, e quando lhes digo que nos vamos continuar até Domingo que não precisam de levar, respondem-me que assim conseguem ter mais para comer”, recorda. “A minha alma fica mais preenchida quando o meu trabalho, que é pouco, pode fazer alguém mais feliz”, afirma. A solidão também é resposta ao número de pessoas que se congregam na tenda. Filomena Saraiva, dá conta disso mesmo. “Nota-se que as pessoas idosas dão várias voltas na fila para mais um bocadinho de conversa”, sublinhando a importância de cinco minutos de conversa para uma pessoa que se sente sozinha. Pessoas que decidiram “vir um bocadinho porque estou sozinha” é a razão da deslocação e o “saboroso pão”. A par da fracção do pão, várias actividades paralelas compõem o Pão de Todos. “Pão, Gastronomia e Ecologia” estabelece uma vertente cultural importante. “Falar de questões ambientais e gastronómicas e associar este acto simbólico ao ar, à terra, ao mar e ao fogo que ajudam a compor este alimento”, assim descreve Henrique Pinto. Vão ser exibidos filmes, vão se partilhar receitas de pão, pode ver-se danças africanas, cantares do Minho ou música acompanhada por linguagem gestual são convites para sentar e comer um pãozinho acompanhado de um chocolate quente. Miguel Oliveira está sentado na assistência e já tinha conhecimento desta iniciativa através das suas anteriores edições. “O pão é para todos, não apenas para os mais pobres. Chama atenção também para o que se pode aprender sobre este alimento”, afirma, sublinhando assim uma perspectiva cultural, pois junta vários estatutos sociais. Num época de Natal “adquire especial importância, porque chama a atenção para os mais desfavorecidos”. Este ano a tenda montada na Praça da Figueira, em Lisboa, tem capacidade para o dobro do número de pessoas que nos anos anteriores participaram nesta iniciativa. Estão dois fornos a funcionar até às 22h do dia 17, prevendo por dia a cozedura de 12 mil pães.