O primeiro-ministro de Israel, Ehud Olmert, foi hoje recebido pelo Papa no Vaticano, num gesto que confirma o reinício das negociações entre a Santa Sé e o governo israelita. Em cima da mesa estão alguns pontos do “Acordo Fundamental”, assinado em 1993, que esperam, há anos, a sua passagem para a legislação de Israel. As negociações têm conhecido várias dificuldades e foram interrompidas há alguns meses, sobretudo por causa das questões fiscais e patrimoniais da Igreja na Terra Santa. Um dos pontos mais difíceis refere-se à questão da devolução à Igreja Católica do Cenáculo de Jerusalém – local da Última Ceia de Jesus. O Vaticano pediu a Israel que entregue aos católicos o uso do local, que ocupou na guerra de 1948. Os Franciscanos, actuais Custódios da Terra Santa, foram expulsos do Cenáculo em 1523, pelos otomanos, que o transformaram numa Mesquita. Em 1948, Israel expulsou os muçulmanos e apropriou-se do uso do local, reconvertido numa Sinagoga com a justificação de que debaixo da sala estaria o túmulo do Rei David. O Cenáculo, situado no Monte Sião, em Jerusalém, é um dos principais santuários cristãos mas, ao contrário dos outros, está sob administração israelita. A transferência do Cenáculo para a Santa Sé, provavelmente ao cuidado da Ordem Franciscana (que já tem a custódia da Terra Santa), estimularia a peregrinação dos cristãos de todo o mundo. Em 2000, durante a histórica visita à Terra Santa, João Paulo II celebrou mesmo uma Missa privada no local, naquela que foi a primeira celebração eucarística no Cenáculo em vários séculos. A tradição cristã sobre a autenticidade do Cenáculo é muito antiga e remonta a finais do século III. No recinto também há uma antiga capela dedicada ao relato evangélico do Lava-pés. O embaixador israelense na Santa Sé, Oded Ben Hur, desmentiu em entrevista à agência católica “Asianews”, que o primeiro-ministro de Israel, Ehud Olmert, tenha a intenção de restituir o Cenáculo à Igreja Católica. Este responsável explicou que a visita de Olmert “quer ser uma expressão de estima em relação à Igreja Católica e destacar a importância da sua presença em Israel”, reafirmando “que não vai ser feita nenhuma restituição”. “Posso dizer que na agenda do primeiro-ministro israelita o tema principal será a importância que damos à presença das Igreja Católica, como contribuição para paz, a moderação e o diálogo”, afirmou o embaixador. Percurso difícil As negociações entre a Santa Sé o Estado de Israel, relativas ao Acordo Fundamental de 1993 e ao Acordo sobre a personalidade jurídica de 1997 – que não têm ainda força de lei – referem-se a questões delicadas, como o estatuto fiscal da Igreja e a salvaguarda das propriedades eclesiásticas, em especial os chamados Lugares Santos. As negociações começaram a 11 de Março de 1999, de forma oficial, mas nos últimos anos Israel tem-se mostrado relutante em receber a delegação da Santa Sé e dialogar sobre os termos do acordo. A 28 de Agosto de 2003, a delegação israelita abandonou em bloco a mesa de negociações e apenas regressou um ano depois (6 de Julho de 2004), após pressão do governo dos EUA. Várias personalidades do Vaticano têm criticado abertamente as contínuas falhas de Israel neste processo, acusando o governo israelita de não cumprir os acordos com a Santa Sé sobre “questões vitais” para a Igreja Católica e para a comunidade cristã na Terra Santa. A agravar as preocupações está a saída de cena de Ariel Sharon, que tinha sido um dos principais mobilizadores do regresso às negociações com a Santa Sé, mesmo quando outros elementos do governo tendiam para outra direcção.