«O Pai dos Judeus»

Pierre-Marie Benoît, Franciscano Capuchinho Há 40 anos, a 1 de Dezembro de 1966, o padre capuhinho francês, Pierre-Marie Benoît, recebeu o título de “Justo entre as Nações” por ter salvo uns 4.000 judeus dos campos nazis de extermínio. Os seus Irmãos Capuchinhos portugueses irão evocá-lo com Missas de Acção de Graças em todos os seus Conventos de Portugal e em Timor. M uitos viram A Lista de Schindler, de Steven Spielberg (1993) sobre a acção de Óskar Schindler, que durante a II Guerra Mundial libertou uns 1.200 judeus dos campos de concentração contratando-os para trabalhar na sua fábrica. No subtítulo do filme, lê-se: «Quem salva uma vida, é como se salvasse o mundo inteiro.» Muitos ouviram falar do diplomata português Aristides de Sousa Mendes, um “Justo entre as Nações”, que, sendo Cônsul Geral de Portugal em Bordéus (1940), desobedeceu às instruções do Governo de Salazar e passou vistos e salvou dos mesmos campos nazis mais de 30.000 pessoas, entre as quais uns dez mil judeus. Era sua convicção: «Se estou a desobedecer a ordens, prefiro estar com Deus e contra os homens, do que estar com os homens e contra Deus.» A desobediência valeu-lhe o repúdio oficial e a morte na miséria, indo a sepultar com o hábito de Irmão Terceiro Franciscano emprestado. Menos conhecido será o frei Pierre-Marie Benoît, franciscano capuchinho francês, um dos primeiros a receber o título de “Justo entre as Nações” pelo Instituto Nacional para a Recordação dos Mártires e Heróis do Holocausto (1933-1945), homenageado pelo “Yad Vashem” no dia 1 de Dezembro de 1966, faz agora 40 anos. Foi chamado “o Pai dos Judeus” O seu nome é assim lembrado entre os Justos: «O frade Capuchinho Pierre-Marie Benoît ajudou centenas de judeus a chegar à Suiça e à Espanha, a partir do Sul da França. Perseguido pela Gestapo, fugiu para Roma onde, a partir do seu gabinete no Colégio dos Capuchinhos, em coordenação com a principal organização social Judia (Delasem), continuou a sua tarefa de salvador. Personagem lendária, foi chamado ”o Pai dos Judeus” por aqueles a quem tinha salvo.» Por sua vez, o intrépido e humilde capuchinho reconhece: «Tenho uma árvore plantada na Avenida dos Justos, no “Yad Vashem” de Jerusalém. Esta árvore não representa apenas a minha pessoa: também representa os judeus corajosos com quem combati e sem os quais nunca teria feito grande coisa.» Da Guerra Mundial para o Convento Nasceu a 30 de Março de 1895 em Bourg d’Iré (Maine et Loire), na França, sendo baptizado com o nome de Pierre Pèteul. A vida militar na Guerra Mundial tornou-se, para ele, uma escola de coragem, resistência e solidariedade com as vítimas, tendo recebido a Cruz de Guerra e outras condecorações. Cumprido o serviço militar, bateu à porta de um convento dos Capuchinhos, onde recebeu o nome de frei Pierre-Marie Benoît. Ordenado sacerdote, fez o doutoramento em Filosofia. Foi professor e director espiritual no nosso Colégio Internacional da nossa Ordem, em Roma. O conhecimento da língua italiana e a cultura bíblica contribuíram para o seu trabalho pelos perseguidos. O Convento dos Capuchinhos em Marselha torna-se o seu primeiro “quartel-general”. Dali apoia os aviadores anglo-americanos, franceses e aliados perseguidos pela Gestapo. Diz: «Mal cheguei, uma família judia em sofrimento veio procurar-me, depois uma outra… e depois muitas outras.» Milhares de falsos passaportes, certidões de baptismo e outros documentos saídos das suas máquinas instaladas na cave do convento, foram o salvo-conduto para centenas de refugiados, que assim conseguiram atravessar a fronteira da Espanha ou da Suiça. Encontro com Pio XII Após contactar várias personalidades judias (entre elas, o Grande Rabino de França), e apoiado pelo Ministro Geral da sua e nossa Ordem, frei Pierre-Marie Benoît consegue uma audiência com o papa Pio XII no dia 16 de Julho de 1943. Relata-lhe os acontecimentos na França ocupada, as perseguições dos nazis e dos seus colaboradores franceses, a atitude da polícia de Vichy contra os Judeus. Reacção do Sumo Pontífice: «Ninguém acreditaria que tal fosse possível por parte da França!» Aproveita para apresentar ao papa o audacioso projecto de Ângelo Donati, judeu italiano, director do Banco de Crédito Franco-Italiano (o envio, por barco, de 30 mil judeus, da costa italiana para a África do Norte, com o apoio da Santa Sé junto das autoridades italianas), assim como outros projectos, em particular a intervenção do Papa junto das autoridades da Espanha, para facilitar o repatriamento dos judeus de nacionalidade espanhola. Do Papa recebe uma certeza: «Isto interessa-me. Vou tratar disso.» As motivações da sua militância O que o leva a esta movimentação, com risco da própria vida, são as suas profundas convicções em relação ao Povo de Israel. Mas, há outra razão, mais especificamente cristã: «Os cristãos sentem-se filhos espirituais do grande Patriarca Abraão. Pio XI disse-o a 6 de Setembro de 1938, chamando-lhe «nosso Patriarca Abraão, nosso Pai na fé». Isto seria suficiente para excluir qualquer anti-semitismo, movimento do qual, nós os cristãos, não poderemos fazer parte; porque, por Jesus Cristo, nós somos da descendência de Abraão. Ele é o pai dos crentes, de quem nós somos devedores da fé e da confiança em Deus, da obediência generosa à sua vontade, da nossa caminhada na sua presença.» Profundamente imbuído do espírito ecuménico do Concílio Vaticano II, o padre Pierre-Marie reconhece: «Os Cristãos têm em comum com o Povo Judeu a sublime doutrina de Moisés, segundo a qual todos os homens são criados à imagem e semelhança de Deus, são filhos de Deus; logo, comparsas uns dos outros e chamados a viver esta fraternidade na observância do Decálogo de Moisés. Ao longo de 30 séculos, este Decálogo permanece como a base perpétua e indispensável de todo o progresso humano e de toda a perseverança da paz… Cristãos e Judeus rezam os mesmos Salmos da Bíblia, salmos que são as mais belas orações que jamais o homem pôde dirigir ao seu Criador… Pai de todos.» Libertou uns 4.000 judeus Várias vezes perseguido pela Gestapo, o padre frei Pierre-Marie Benoît – fiel discípulo de Cristo e verdadeiro seguidor de Francisco de Assis, o Irmão universal – terá conseguido libertar uns 4.000 judeus dos campos de concentração nazi. A 5 de Fevereiro de 1990, com a idade de 94 anos, “o Pai dos Judeus”, era acolhido por Jesus Cristo no Reino dos Céus, dele recebendo a coroa da vitória: «Sempre que fizestes isto a um destes meus irmãos mais pequeninos, a mim mesmo o fizestes» (Mt 25,40). Os Franciscanos Capuchinhos de Portugal, unidos a tantos Irmãos da mesma Ordem, presentes em 101 países do Mundo, assim como a muitas outras Organizações internacionais, querem tornar conhecida a gesta deste seu Irmão. Além disso, no próximo dia 1 de Dezembro, 40º aniversário da sua proclamação como “Justo entre as Nações”, em cada uma das suas Fraternidades de Portugal (Barcelos, Porto, Gondomar, Coimbra, Fátima, Lisboa e Baixa da Banheira) e de Timor-Leste (Díli e Laleia, na diocese de Baucau), será celebrada uma Missa de Acção de Graças pelo heroísmo do frei Pierre-Marie Benoît. «Quem salva uma vida, é como se salvasse o mundo inteiro!» Frei Acílio Mendes Ministro Provincial de Portugal

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Agência ECCLESIA

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