Bento XVI considera a religião tem o direito a uma presença na vida pública. Falando, neste sábado, a um grupo de especialistas católicos italianos, o Papa criticou a “hostilidade diante de todas as formas de reconhecimento da importância política e cultural da religião, em particular a presença de qualquer símbolo religioso em instituições públicas”. Estas manifestações, assegurou, não são sinal “de uma laicidade saudável, mas da sua degeneração”. “O Estado não pode considerar a religião como um simples sentimento individual que pode ser confinado à esfera privada”, disse Bento XVI. A religião “deve ser reconhecida como uma presença comum pública” e os seus símbolos devem ser permitidos em escritórios, escolas, tribunais, hospitais, prisões e outros locais, acrescentou. “Uma visão irreligiosa da vida, do pensamento e da ética” conduziu a uma concepção errónea do laicismo, “um termo que parece ter-se convertido no símbolo essencial (…) da democracia moderna”, lamentou. As críticas estenderam-se a todos os que negam à Igreja e aos seus representantes “o direito a pronunciarem-se sobre os problemas morais que hoje em dia interpelam a consciência de todos os seres humanos”. Na audiência concedida aos juristas católicos italianos, o Papa apontou o dedo às tentativas de excluir Deus de todos os âmbitos da vida, apresentando-o como “antagonista do homem”. “Trata-se de fazer compreender que a lei moral que Deus nos deu e que se nos manifesta na voz da consciência, tem como objectivo, não oprimir-nos, mas sim libertar-nos do mal e tornar-nos felizes. Trata-se de mostrar que sem Deus o homem se encontra perdido e que a exclusão da religião da vida social, em particular a marginalização do cristianismo, mina as próprias bases da convivência humana”, apontou. Bento XVI desenvolveu o conceito de uma “sã laicidade”, que é respeito pela justa autonomia das realidades temporais, mas sem excluir, em nenhum momento, Deus e a dimensão religiosa, da vida e da sociedade. Esta “sã laicidade” – explicou – implica a efectiva autonomia das realidades terrenas em relação à esfera eclesiástica, mas não em relação à ordem moral. “É claro que não compete à Igreja indicar o ordenamento político e social preferível. É o povo que deve decidir livremente o modo melhor e mais apropriado para organizar a vida política. Neste aspecto, qualquer interferência da Igreja seria uma ingerência indevida”, assegurou. Por outro lado, a “sã laicidade” implica que o Estado não considere a religião como uma simples “sentimento individual”, que se poderia confinar unicamente ao âmbito privado. “A religião, mesmo quando organizada em estruturas visíveis, como acontece com a Igreja, deve ser reconhecida como presença comunitária pública. Isto comporta que se garanta a cada Confissão religiosa (que não esteja em contraste com a ordem moral e não seja perigosa para a ordem pública) o exercício livre da liberdade das actividades de culto – espirituais, culturais, educativas e caritativas – da comunidade dos crentes”, referiu. (Com Rádio Vaticano)