Amanhã, D. Maurílio de Gouveia celebra as bodas de prata ao serviço daquela diocese No próximo dia 8 de Dezembro, dia da Solenidade de Nossa Senhora da Conceição, D. Maurílio de Gouveia celebra 25 anos como Arcebispo de Évora. Precisamente no dia 8 de Dezembro de 1981, D. Maurílio de Gouveia era recebido “calorosamente e carinhosamente, desde os dilatados limites da Arquidiocese ao entrar solenemente na vetusta Catedral ducentista, precedido de imponente cortejo litúrgico”, segundo reportagem de “A Defesa” de 9 de Dezembro de 1981. “À entrada da riquíssima capela-mor joanina, o novo Arcebispo Metropolitano de Évora (o 62º Bispo após a Reconquista cristã e o 26º Arcebispo desde a Catedral Rei) recebeu do seu antecessor, D. David de Sousa, como testemunho pastoral, o formoso e expressivo báculo do Cardeal D. Henrique, que ostenta na crossa a imagem de Nossa Senhora da Conceição”. Vinte e cinco anos volvidos, D. Maurílio de Gouveia, apesar das limitações de saúde pelo grave enfarte sofrido, mantem um sorriso e um olhar de esperança quando lhe pedimos para falar da Arquidiocese de Évora. Um balanço “É dificil fazer um balanço, porque só Deus pode fazer um verdadeiro balanço do que é o nosso trabalho e a nossa entrega. As nossas impressões são sempre muito limitadas e imperfeitas”, expressa humildemente D. Maurílio de Gouveia que aponta o verbo “servir”, como a palavra-chave destes 25 anos. “Cristo de algum modo aplicou à Sua vida este sentido, «eu vim para servir»”, aponta o prelado, destacando que “Jesus serviu tanto melhor quando fez a vontade do Pai, morrendo na cruz, o que para os homens foi um fracasso”. Assim, D. Maurílio de Gouveia destaca que nestes 25 anos teve uma experiência “muito positiva e muito gratificante porque pude servir a diocese, não isoladamente, mas com os membros desta igreja particular de Évora.” Portanto, o prelado mostra-se “tranquilo e em paz”, no entanto, inconformado porque “gostaria de fazer mais porque o que fazemos nem sempre é suficiente”, refere. A Arquidiocese de há 25 anos e de hoje “Costumo falar do ministério episcopal de uma diocese com a seguinte imagem: um comboio em andamento, ou seja, a diocese é uma realidade em movimento. Começou a sua marcha há muitos séculos e espero que continue durante muitos séculos”, explica D. Maurílio de Gouveia, referindo, contudo que “somos conscientes que o que se fazia há 30 anos, não pode ser feito hoje. Como o que se faz hoje não faz sentido fazer daqui a 30 anos. O quer dizer que a diocese que encontrei de uma determinada maneira, sei que hoje está diferente.” O prelado aponta que naquela altura “havia problemas específicos ligados à situação política e social que derivavam da revolução de 1974, tendo sido necessário dar respostas adequadas para aquele tempo”. No entanto, o Arcebispo de Évora refere que existiam “problemas de comunhão eclesial, porque a diocese é muito dispersa”. Neste sentido, “procurou-se dar um sentido de comunhão ecclesial, valorizando as vigararias e as zonas pastorais.” Entre as medidas colocadas em prática, o prelado realça as visitas pastorais, que dinamizaram muitas comunidades paroquiais e contaram com a participação de muitos jovens, não esquecendo que tudo isto só foi possível “pelo empenho de muitos colaboradores, dos quais dou graças a Deus, porque um Bispo deve ser o primeiro dos servos, que serve com todos os irmãos”, afirma. “Pois a diocese não se constrói com o protagonismo de um Bispo”. Pontos altos e baixos D. Maurílio de Gouveia não hesita em afirmar que um ponto alto dos últimos 25 anos na Arquidiocese foi a visita do Santo Padre a Vila Viçosa, em 1982, “quer pelo significado que teve e os bons frutos que gerou na Arquidiocese, quer pelo momento social particularmente difícil que se vivia naquela altura”. No entanto, o Arcebispo de Évora recorda o sucesso da visita e a sensibilidade que o Papa João Paulo II mostrou para com os problemas que o povo alentejano vivia naquela altura, particularmente no seu “discurso aos trabalhadores sobre o mundo rural”. “Foi uma benção de Deus para a diocese”, afirma. Outro ponto alto foi a celebração dos 350 anos de Nossa Senhora da Conceição como Padroeira de Portugal, em 1996, que reuniu toda a diocese em Vila Viçosa, onde também marcou presença de D. António Ribeiro, representante do Santo Padre e todo o Episcopado português. De todas as celebrações, D. Maurílio de Gouveia recorda a Cantata a Nossa Senhora da Conceição interpretada no Convento dos Agostinhos, composta pelo Pe. António Cartagena e escrita por Fernanda Seno, como um “momento admirável e vai ficar marcado na história da Arquidiocese”, confessando que um dos sonhos que ainda tem é “vê-la executada novamente na Sé de Évora”. D. Maurílio de Gouveia regista ainda o Inventário Arístico da Arquidiocese que se está a realizar, em parceria com a Fundação Eugénio de Almeida, como um trabalho “muito importante que vai ter repercussões no futuro, podendo utlizar-se na evangelização e na catequização.” Contudo, o Arcebispo de Évora mostra-se consciente que “houve vários momentos difíceis, mas não gostava de sublinhar nenhum em particular, porque o que importa, quer seja numa diocese, quer seja a nível pessoal, é vencer as dificuldades porque elas aparecem e fazem parte da vida”, defende. A crise de Vocações D. Maurílio de Gouveia aponta que “a questão das vocações reflecte a situação da própria Igreja, ou seja, uma Igreja que não tenha grande prática religosa, onde não haja grande formação dos leigos, é uma Igreja muito fraca. Se só 10% apenas pratica e se existe só um pequeno grupo de pessoas que se formam ao longo da vida, essa comunidade não vive profundamente a fé, ou seja, dali não brotam vocações religiosas ou sacerdotais. Às vezes apetece dizer que para a comunidade praticante, o número de sacerdotes é suficiente. Para os praticantes, sublinho”, aponta o Arcebispo de Évora. O prelado pensa que se trata de um problema que deve ser encarado numa “perspectiva global da Igreja”, que deve envolver “também as famílias”. “Se elas não tem filhos, ou se não praticam, dificilmente os filhos terão sensibilidade para Deus.” Contudo, D. Maurílio de Gouveia refere que, pelo grande esforço que se tem feito, “estamos a notar já algumas vocações do Alentejo”, o que anima o trabalho já feito, “que deve continuar a fazer-se”, desafia. O futuro Em Agosto de 2007, D. Maurílio de Gouveia atinge os 75 anos de idade e diz que, “conforme o direito canónico, comunicarei ao Papa a minha disponibilidade para que o Santo Padre faça o que entender. Depois dos 75 anos, certamente deixarei o meu ministério aqui em Évora, o que assumo com toda a tranquilidade, paz e alegria. Tenho a consciência que é um ciclo e dou graças a Deus por ele.” Com as consequências do enfarte que sofreu no ano 2000, D. Maurílio de Gouveia refere que tem vivido uma “experiência nova, com a ajuda do Bispo Auxiliar e que tem sido muito interessante.” Sobre o futuro, o Arcebispo de Évora recorda o exemplo de Santo Alberto Magno que, depois de uma vida intensa de trabalho e estudo, se retirou completamente para se dedicar à oração. “Gostava que os últimos tempos fossem de silêncio e de oração, sempre com o sentido de continuar a servir”, esclarece. “Gostaria que Deus me ajudasse a continuar a servir a Igreja de outra maneira, ou seja, servir em oração, nos sacrifícios, nas limitações… ajudando no que puder, na celebração da eucaristia e de outros sacramentos”, aponta D. Maurílio de Gouveia, que repartirá a estadia entre a Madeira, terra natal, e a Arquidiocese, “possivelmente em Vila Viçosa”. Contudo, apesar das limitações de saúde, D. Maurílio de Gouveia não se resigna e adianta que “no primeiro trimestre do próximo ano, espero ainda fazer umas visitas pastorais com o D. Amândio e com a imagem de Nossa Senhora, principalmente na zona norte da Diocese: Avis, Fronteira, Montargil… Já que as visitas pastorais foram uma das minhas “meninas dos olhos”, quero continuar a realizá-las até ao fim”, conclui sorridente e confiante. Pedro Miguel Conceição