Sentem as Paróquias algarvias As paróquias do Algarve têm sentido algumas dificuldades na implementação do Programa Pastoral da diocese algarvia para os próximos seis anos. Muitos dos párocos com quem a FOLHA DO DOMINGO tem falado têm manifestado isso mesmo, neste início do primeiro ano, e os que têm o trabalho mais avançado estão agora a começar a recolha de alguns dados estatísticos. Até aqui foi tempo de ‘digerir’ um Programa Pastoral que a maioria considera ser “ambicioso” (mas não novo), e de procurar encontrar as pessoas que possam constituir as equipas para levar a cabo esta análise da realidade que pretende dar origem a “identificar os desafios que Deus faz à diocese para a nova evangelização”. A este mesmo tem sido, segundo os sacerdotes, um dos obstáculos a uma mais célere implementação do Programa Pastoral. Muitos sacerdotes referem a dificuldade em encontrar as pessoas “suficientemente qualificadas” que possam desempenhar essa função. Para os párocos algarvios, a proposta apresentada pelo Serviço de Animação Comunitária do Movimento por um Mundo Melhor (SACMMM) na Assembleia Diocesana de Outubro passado, para além de “esquemática” e “profunda”, é demasiado “ambiciosa” e foi, para alguns, apresentada muito próximo do arranque do ano pastoral. Embora a maioria reconheça a utilidade da identificação dos vários aspectos socio-religiosos no trabalho pastoral das suas paróquias, os párocos não se mostram ainda, nesta fase, preparados para avançar com a sua execução. Muitos concordam com os seus propósitos, considerando que “é uma boa proposta”, mas lembram também que “o trabalho pastoral não é um é realizado com régua e esquadro”. “O trabalho na Igreja é mesmo assim. Não é um trabalho que comecemos sabendo que vai decorrer segundo uma linha sequencial. Há paragens, recuos e renovações que se fazem”, recordam, reconhecendo que “a concretização do Programa e os seus objectivos são de uma riqueza extraordinária, mas exigem muita dedicação e trabalho”. Outros ainda temem que não se passe, numa fase posterior, do “conhecimento à realidade” ou à acção. Existem ainda algumas comunidades paroquiais que têm já algum trabalho realizado no âmbito da recolha dos dados estatísticos ou porque já haviam feito o levantamento de alguns aspectos ou porque vão aproveitar o trabalho levado a cabo por algumas autarquias. Outras não estão a seguir em rigor a proposta avançada pelo SACMMM. “Temos estado a fazer uma análise sobre aqueles que participam na comunidade para, a partir daí, ver como é que vamos ‘lançar a rede’ àqueles que estão adormecidos na fé”, concretizam. As paróquias têm procurado então valorizar os aspectos do Programa de Pastoral com que mais se identificaram. Assim, alguns têm vindo a “apostar na pastoral familiar e na pastoral vocacional” para aprofundar o (re)conhecimento, em Cristo, da sua identidade e missão, o objectivo para o presente ano de 2006-2007. E existem mesmo, nalguns casos, grupos de casais que já começaram a reunir-se mensalmente. O lema do sexénio constitui também para muitos um dos aspectos mais positivos deste Programa Pastoral e tem servido como temática inspiradora a multiplas acções. “É importante o lema de fundo, porque implica que tenhamos uma orientação pastoral em termos, não tanto de prática religiosa, mas sobretudo de intervenção a nível eclesial”, refere um dos párocos, considerando que “a Igreja trabalha muitas vezes só sobre o religioso e afere a sua caminhada pelo volume de actividade religiosa que realiza e menos pela intervenção a nível dos acontecimentos do mundo”. “A Igreja deve estar atenta à realidade do mundo que experimenta situações de dificuldade”, acrescenta, entendendo ser “necessário que entendamos o alcance do lema não apenas em termos religiosos”. Outro dos sacerdotes testemunha que, com base na frase mariana, criou catequeses sobre Nossa Senhora, havendo mensalmente uma celebração mariana com o tema da última catequese e que tem procurado “levar a paróquia a conhecer Maria e a imitá-la, para através de Nossa Senhora, chegar a Cristo”. “Isto – explica – para que, quando vier a imagem de Nossa Senhora de Fátima, não fiquemos apenas em emoções”. E precisamente a passagem da imagem mariana peregrina é outros dos aspectos positivos realçados por alguns párocos. “Simpatizei muito com a vinda da imagem de Nossa Senhora à diocese, desde que as paróquias sejam levadas a descobrir Maria, Mãe de Cristo e, através disso, levem os cristãos a uma paixão por Jesus Cristo. Não uma devoção ‘piegas’, mas uma devoção que leve à acção”, frisa. Outro dos pontos de destaque do Programa Pastoral pelos párocos é a promoção do método da Lectio Divina. “É preciso fazer a descoberta de Jesus Cristo através da Bíblia, para fazer da Bíblia, vida”, afirmam. Há paróquias que destacam como a “questão mais interessante” deste programa, “as pistas que lança para a reflexão para um determinado período de tempo”. “Nunca mais poderemos dizer que a diocese não propôs pistas claras e objectivas para que cada pároco, na sua paróquia, as possa desenvolver segundo o seu próprio método”, afirmam, acrescentando que “é preciso não olhar para essas pistas como um sistema imposto, mas tão somente como pistas de reflexão e de trabalho. Não constituem um programa, mas são pistas de reflexão para programas que deixam total margem para as paróquias trabalharem”.