Património religioso é do melhor que há em Portugal

D. Albino Cleto, Bispo de Coimbra, acompanha há muitos anos as questões do Património da Igreja. Em entrevista, confessa que cada vez mais pessoas se apercebem da sua importância. Agência ECCLESIA (AE) – Qual a importância do Património Religioso para a Igreja, Poder Estatal e Poder Local? D. Albino Cleto (AC) – É muito grande e, em Portugal, muito maior que noutros países. Já ouvi dizer, das entidades estatais que o património religioso e artístico no nosso país rondará entre os 70% e os 80%. O património religioso (arquitectura, pintura, ourivesaria, paramentaria e estatuária) é do melhor que há em Portugal. AE – Como está o relacionamento entre a Igreja e as entidades civis que “guardam” este património? AC – Ao nível local, na maioria dos casos está bom. Embora com alguns perigos tais como o facilitismo. A nível médio, entre as dioceses e as organizações distritais, depende porque muitas vezes há bom diálogo mas também desconfiança mútua e justificada. Nem sempre há entendimento entre os critérios da Igreja e os do IPPAR. A nível superior estamos a sentir um certo distanciamento a que não estávamos acostumados, concretamente com o Ministério da Cultura. Notamos um silêncio que nos preocupa e não sabemos explicar. AE – Para quando a melhoria de relações? AC – Esperamos que seja para breve. A concretização daquilo que a Concordata dispõe – a constituição de uma Comissão Bilateral – verificamos que não tem havido – da parte do Estado – resposta. AE – A Assembleia Plenária da Conferência Episcopal Portuguesa aprovou, em Abril de 2002, a criação da Associação Portuguesa dos Museus da Igreja Católica. Já está a funcionar em pleno? AC – Ainda está a dar os primeiros passos. Recentemente, foi homologada a segunda direcção que está a lançar-se nas primeiras iniciativas. AE – Há critérios uniformes para avaliar e descrever o Património Religioso? AC – Os critérios não são necessariamente eclesiásticos. São critérios europeus. Pertence ao Secretariado Nacional dos Bens Culturais da Igreja dar orientações e temo-las dado. Pertence a cada diocese orientar-se ou não por essas sugestões dadas. Há 20 anos pedia-se que se cuidasse e inventariasse o que havia de melhor mas neste momento considera-se património notável – mesmo apenas para efeitos históricos – uma peça de cerâmica, peças de vidro e também restos de paramentos que não são usados. Outrora a inventariação era feita em papel. Actualmente, procuramos que seja informatizada. Felizmente que temos dioceses que estão a fazer essa informatização. AE – Quando é que este património religioso passa a ser também um meio evangelizador? AC – Já é evangelizador. Algumas exposições feitas foram grandes catequeses visitadas por milhares de pessoas. As visitas guiadas feitas a estes eventos não eram somente de teor artístico-histórico. Fazia-se sempre uma catequese. AE – Então não há o perigo destas peças serem “mudas” para quem as visita? AC – Felizmente que em muitas dioceses estamos a “interpretar” as peças. E cito um exemplo: em Beja, o património fala. Fala da história da Igreja, fala do esforço feito e também da devoção popular. As exposições feitas falam da fé de um povo. AE – Para quando a internacionalização dessa linguagem com as peregrinações vindas do exterior? AC – Já existe. Embora tenha que confessar que não está a ser feito – pela Igreja que acolhe e pelas agências turísticas – como gostaria. O património arquitectónico já tem essa vertente. Lembre-se a Batalha, Alcobaça e Jerónimos. Posso citar também o exemplo de Coimbra visto que quando os turistas estrangeiros vêm a esta cidade não se ficam apenas na História de Inês de Castro mas vão visitar, sobretudo, a velha Sé e ficam abismados com a Sé Nova. A estes turistas também lhes é mostrado o Mosteiro de Santa Cruz. Excluindo o caso de Fátima, aí temos peregrinos por motivos religiosos mas também uma grande oferta de património: os museus de Fátima. AE – A comunidade dos crentes tem consciência e está desperta para o património que a sua paróquia possui? AC – Vamos caminhando. Há 20/30 anos poucas eram as comunidades que tinham consciência de toda a riqueza patrimonial que possuíam. Neste momento, de modo geral, a comunidade cristã – seja na mais pequena aldeia ou na cidade – tem consciência da riqueza patrimonial. Têm consciência disso para defender e conservar porque não há paróquia que permita que o padre venda uma imagem. Aí do pároco que fizer isso… mas ainda vamos a meio do caminho. Muitos não sabem aproveitá-la catequeticamente. Outras vezes, o povo não deixa que a peça saia da sua paróquia.

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