Igreja: «A missão deve fazer-se lado a lado», diz Pedro Nascimento, após dois anos na Etiópia (c/vídeo)

Leigo Missionário Comboniano viveu com os Gumuz, no meio de conflitos étnicos

 

Lisboa, 02 ago 2021 (Ecclesia) – O português Pedro Nascimento viveu dois anos junto dos Gumuz, na Etiópia, integrando a equipa dos Leigos Missionários Combonianos (LMC), ao serviço da população local.

“A missão deve fazer-se lado a lado, na mesma altura. Daí a importância de ‘estar com’, de compreender, de viver com as pessoas, partilhar o que somos e temos”, refere à Agência ECCLESIA o missionário alentejano, natural do Ervedal (Concelho de Avis).

O membro dos LMC fala de um tempo de “aprendizagem” que o ajudou a superar uma certa ideia de “superioridade”, por força do impacto perante “uma realidade diferente”, da necessidade de aprendizagem e de compreensão da cultura dos outros.

“A nossa grandeza começa a ficar pequena”, assume.

Pedro Nascimento trabalhava como advogado e decidiu suspender a inscrição na ordem para partir, sem escolher país ou missão.

“Foi uma surpresa positiva”, refere, no final da passagem pela Etiópia.

Neste território, contudo, sentiu os conflitos étnicos, viu pessoas conhecidas serem mortas e sofreu com o povo gumuz.

O território de Missão que os Combonianos lhe reservaram ficava perto da fronteira com o Sudão; foi ali que descobriu um povo historicamente escravizado e que permanece à margem do desenvolvimento.

“A certa altura, o hospital recusou-se a receber pessoas gumuz”, relata.

Os conflitos perduram numa população que não consegue viver em harmonia.

“É muito triste ver pessoas da Etiópia que não podem deslocar-se dentro do próprio país”, aponta o missionário português.

Nos últimos meses, a violência na região, muito marcada por problemas étnicos, impediu a visita às aldeias.

“Com as mortes, a insegurança, era impossível ir”, indica o entrevistado desta segunda-feira no Programa ECCLESIA (RTP 2).

Um percurso “acidentado”, face à suspensão de alguns projetos de educação e de saúde, porque “tudo teve de ser fechado”.

“Um dos jardins de infância que tínhamos no interior foi ocupado por rebeldes”, recorda Pedro Nascimento.

“Procuramos dar o melhor de nós, até que chegassem algumas ONG, e procuramos ser testemunhas de Deus”, acrescenta.

Para o leigo missionário, a Etiópia é, por enquanto, “um capítulo encerrado”, mas vai dar mais um ano da sua vida aos LMC, em Lisboa, na Paróquia de Camarate, com outras pessoas que já estiveram em missão na África.

“Todos na Igreja devem assumir a responsabilidade na evangelização, no serviço pastoral e social”, aponta.

Pedro Nascimento sublinha, a partir da sua própria experiência, a importância de responder à vocação a que Deus chama cada um, sem olhar para títulos ou responsabilidades.

“Os nossos cargos são as pessoas”, conclui.

PR/OC

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Agência ECCLESIA

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