Hoje quando falamos em Vida, em defender a vida, contra o Aborto, temos a sensação que já ninguém quer ouvir. Está tudo farto! Esta é uma das vitórias do Mal. Tomando consciência disto, temos que refrescar a nossa consciência e em vez de fecharmos os ouvidos, a alma, o coração e a inteligência, devemos procurar em nós o que fizemos para ajudar, para esclarecer e sobretudo para agir. Antes de mais, temos que estar absolutamente convencidos de que se trata não de uma guerra entre o Sim e o Não ao Aborto, uma guerra entre a mulher mãe e o filho, entre a Esquerda ou a Direita, entre católicos radicais ou ateus. O que está em causa é de facto a dignidade da Pessoa Humana. Não devemos por isso cair na armadilha de discutir se despenalizar é liberalizar, se a mulher vai para a prisão, se a mulher é uma coitadinha porque não pode escolher, se o Estado deve ou não patrocinar os abortos no Hospitais de Estado, etc. etc. Perguntarão então: “ se não é das mulheres irem para a prisão, que se trata, é o quê? E que podemos nós fazer?” A resposta que aqui deixo, é mais uma reflexão que todos os dias vou fazendo, baseada no que oiço, experimento, toco e aprofundo. Não é uma resposta nem cientifica (embora procurando todos os dias razões); não é uma resposta Jurídica (que procuro estudar igualmente ). É como que a conclusão de hoje, deste momento enquanto escrevo… Tudo se resume ao Amor. Hoje o que está em causa é o verdadeiro significado e vivência do Amor. E o Amor é a característica mais bonita, única e surpreendente do ser humano. Quando o homem perde essa capacidade, morre. Todos os que têm trabalhado no “campo” da defesa da vida, nestes últimos 10 anos, (muitos ainda vêm de mais longe) percebem que liberalizar o aborto é um atentado à mulher. É fazer dela uma inimiga do seu próprio filho. É provocar nela uma ferida que nunca cura. É permitir fazer dela e de todos os que a apoiam na decisão errada, a principal protagonista, que acaba decidindo quem pode ou não pode viver. É deixa-la à mercê de uma decisão horrorosa, sem depois lhe dar qualquer espécie de apoio psicológico ou espiritual. Despenalizar o aborto, a pedido da mulher sem qualquer razão, muitas vezes, porque não convém no momento….., umas férias combinadas…. Uma traição…. Uma noite de loucura…. Não pode ser tomado como uma razão de saúde pública como muitos afirmam. Se a lei de 1984 já prevê a discriminação dos mais fracos (deficientes, etc.) ou seja que para esses já há formas legais e higiénicas de matar, então agora o que se pretende é acabar com os que não vêm a calhar… tornando mais cómodo quando deve ou não nascer uma criança. Se pararmos bem e pensarmos, ficamos estarrecidos. Como é possível caminharmos para uma sociedade que faz isso, dizendo “tu vives, tu morres.” Uma sociedade acomodada e “manipuladora da vida”. Se esta nova proposta de lei passar, a próxima será a de matar aqueles que nos pesam, que não são produtivos, que não encaixam num molde “estatal” que “mede” as pessoas e faz um cálculo de sucesso, que pode ou não servir. Não nos iludamos, isto é o que vai acontecer se deixarmos. Já aconteceu noutros países. E esses estão aflitos porque é praticamente incontrolável a mão do poder dos mais fortes contra os mais fracos. Mais uma vez é o Amor que agindo nesses lugares tem salvo muita gente… Falando com pessoas amigas, que são pais ou são diferentes (com alguma deficiência) percebi profundamente que elas são as que têm o verdadeiro argumento. Elas é que têm discernimento. Elas é que sabem colocar as coisas e os valores no lugar certo. A serenidade e calma, o amor e a dedicação, o esforço e as conquistas muitas vezes tão dolorosas destas pessoas, é que faz de todos os homens, pessoas integrais. Porque estas pessoas vivem sustentados no Amor, nas dificuldades transformadas em oportunidades. Na razão de viver de tantas outras pessoas, ditas normais. Nunca as ouvi falar de mulheres em prisão. Nunca as ouvi criticar seja quem for, nem mesmo quem já fez o aborto. Ouvi sempre dizer, que no Mundo há lugar para todos. Que no Mundo todos servem e são por servidos. Algumas até são voluntários nas prisões de mulheres, onde estão mães que roubaram, mataram para salvar os seus filhos, e nem por isso defendem a despenalização do roubo ou do homicídio. Temos que parar para pensar nisto tudo! Responsabilidade católica Como católicos a nossa responsabilidade é muito clara. Quando o escriba se aproxima de Jesus e lhe pergunta qual é o primeiro mandamento: “Jesus respondeu-lhe: O primeiro de todos os mandamentos é este: Ouve, Israel, o Senhor nosso Deus é o único Senhor;” (Mc 12,29) “Eis aqui o segundo: Amarás o teu próximo como a ti mesmo. Outro mandamento maior do que estes não existe”. (Mc 12,31) “Este é o meu mandamento: amai-vos uns aos outros, como eu vos amo”. (Jo 15,12) Jesus afirma muito claramente que não há outro mandamento maior do que estes. Por isso não podemos fingir que numa gravidez, não existe uma outra vida, “um outro”. Não podemos nunca dizer que a mulher é dona do seu corpo ou que a decisão é dela. Não! A decisão é nossa enquanto seres humanos que amam, que trabalham e que estão dispostos a cuidar de todos os bebes que estão em risco de morrer. Este cuidar é nunca largar uma mãe que está em risco. É devolver-lhe a sua dignidade de mulher. É perder tempo com ela. É tudo isto até às últimas consequências, ou seja mesmo que uma mulher opte por abortar, temos que abrir-lhe os braços e consolá-la como é próprio de uma mãe quando o seu filho, volta a chorar depois de ter feito uma grande asneira. Nós católicos somos estes. Aqueles que experimentaram o Amor de Deus. Um Amor que muitas vezes dói, que é altruísta e magnânimo. Um Amor que não cede ao facilitismo ou ao engano. Por tudo isto quando ouvimos dizer que o movimento do Sim ao Aborto , também é constituído por católicos temos que nos escandalizar e esclarecer começando por rezar o terço dos Mistérios Gozosos, onde Jesus é concebido no seio de Maria. Vamos precisar todos uns dos outros. Estejam atentos e desinstalem-se. Somos muitos mas seremos ainda mais, se cada um pegar no seu “cajado” e seguir o caminho que Jesus aponta. Não é esta a nossa experiência de peregrinos de Nossa Senhora? Sofia Guedes