No berço do Cristianismo

Quando se fala da Turquia, nos nossos dias, identificamo-la como uma Nação islâmica, esquecendo que se trata de um país onde, no século I, os Apóstolos André, Paulo e João ali deixaram a sua marca e onde o Cristianismo chegou a ser religião oficial. Muitos são os sítios desse vasto território que onde se perpetua a memória das primeiras comunidades cristãs. Ainda hoje ali vivem várias comunidades (ortodoxas, católica-caldeia, católica-arménia e sírio-católica), mas reduzidos a menos de 0,5% da população, quando no início do século XX, os cristãos na Turquia eram dois milhões, mais de 30% da população. Foi da actual Turquia que saiu Abraão, o Tigre e o Eufrates nascem no território, os Apóstolos passaram por lá, muitos Padres da Igreja (os teólogos dos primeiros séculos) viveram ali, com destaque para a Capadócia, no centro do país. Foi em território do que hoje é a Turquia que se realizaram os primeiros Concílios da história da Igreja (Niceia, Constantinopla, Éfeso, Laodiceia). Por ocasião do Natal será lembrado, repetidamente, São Nicolau, natural da localidade de Mira, hoje a localidade de Demre, precisamente na Turquia. Na antiga Anatólia, fruto do esforço de evangelização de São Paulo (nascido em Tarso, Cilícia, que hoje faz parte da Turquia), o Cristianismo conseguiu estabelecer-se com firmeza e expandir-se por toda a região. Éfeso (Esmirna), por outro lado, está fortemente ligada à vida e obra de São João (cujo Apocalipse se refere 7 comunidades locais) e de Nossa Senhora – ali se venera a “Casa da Mãe de Deus”. Antakya, a antiga Antióquia, é sede de um mais importantes Patriarcados do Oriente e foi a localidade onde os seguidores de Jesus começaram a ser chamados “Cristãos”. No ano 330 o Imperador Constantino transformou Constantinopla na capital do Império e declarou o Cristianismo como religião oficial. Esta cidade durou até ser conquistada pelos turcos otomanos (muçulmanos), em 1453, que dela fizeram a capital com o nome Istambul. A partir do séc. IV, tornou-se o maior centro do Cristianismo, depois de Roma. Durante os séculos V e VI, o Cristianismo prosperou sob o reinado de famosos imperadores como Teodósio I e II e Justiniano I . Um dos grandes monumentos da fé cristã foi construído em Constantinopla neste período: a construção de Santa Sofia iniciou-se durante o governo de Justiniano I. Por volta do final do século VI, o império começou a enfraquecer, tanto pelas pragas , como pelas constantes invasões por Oeste e por Leste. Entretanto, foram aumentando as invasões árabes, iniciadas no século VII, que forçaram o Cristianismo a buscar refúgio na Capadócia, já por volta do século XI. Nesta altura, sob o governo dos seljúcidas, os turcos substituíram os árabes no controlo da Ásia Menor e da Mesopotámia, e continuaram sua expansão em direcção ao noroeste, ameaçando o Império Bizantino e originando o Império Otomano. Ao ascenderem ao poder e expandirem seus domínios, os seljúcidas interferiram na tradicional peregrinação à Jerusalém, facto que está na origem das Cruzadas, que continuariam até o século XIV. O Islamismo tornou-se religião do Estado quando o sultão Mehmet Ottoman Fatih conquistou Constantinopla, em 1453. Esta situação durou até ao século XX. Patriarcado de Constantinopla O Patriarcado Ecuménico tem sua sede em Constantinopla, a actual Istambul, na Turquia. É também denominado “Igreja de Constantinopla”, ou “Santa Grande Igreja de Cristo”. Esta Igreja nasceu da pregação do apóstolo Santo André e, por isso, é uma sede apostólica. Após o cisma de 1054, o Patriarcado de Constantinopla assumiu o primeiro lugar nos Patriarcados do Oriente, como juiz plenipotenciário na eventualidade de disputas de qualquer espécie entre os outros Patriarcas. Constantinopla foi ocupada pelos latinos, aquando da quarta cruzada (1199), mas esse facto foi mais motivo de discórdia do que de união. A unidade foi oficialmente assumida no II Concilio de Lyon (1274), mas não perdurou. A ruptura com Roma consumou-se pela excomunhão mútua do Papa e do Patriarca, a qual só foi mutuamente levantada por Paulo VI e Atenágoras em 1965. As Igrejas de tradição grega, ligadas ao Patriarcado de Constantinopla, constituem hoje o grupo maior da Ortodoxia separada de Roma. A proeminência do Patriarca de Constantinopla já é atestada no século VII, quando passou a receber o título de “Ecuménico”. Tal expressão indica o seu primeiro posto – primus inter pares.

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Agência ECCLESIA

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