O ano corrente tem sido fértil em filmes portugueses, situando-se a qualidade média um pouco acima do habitual. Mais de uma dezena de longas metragens e algumas curtas foram surgindo ao longo do ano, variando o género, com alguma incidência no documentário, hoje mais aceite pelo público o que torna possível o seu lançamento no circuito comercial. Entre estes conta-se “Juventude em Marcha”, que agora estreia. Ainda antes, em data recente, foi a comédia que teve lugar na programação, com “Viúva Rica Solteira não Fica”, de José Fonseca e Costa. Foi um filme com produção atribulada, adiado ao longo de alguns anos, mas que chegou a um resultado muito satisfatório. Fonseca e Costa regressa à boa tradição da comédia portuguesa, com um humor inteligente e bem balanceado com um tom aparentemente sério, que não só reforça o efeito como dá a garantia de serem evitados os excessos que tantas vezes comprometem a comédia, arrastando-a para a farsa. O filme conta com uma boa ambientação, dando-nos uma imagem sólida de uma zona rural de finais do Século XIX, com a sua imponente casa senhorial e os cruzamentos de interesses entre nobres e plebeus, em que sobretudo os primeiros administram da melhor forma os seus interesses e apropriação de poder. Mas a protagonista, possuidora de avultados bens e de muita beleza, encontra pelas piores razões a forma de destruir o domínio dos homens, em sucessivos casamentos que acabam na sua repetida viuvez… por causas bem pouco naturais. Nada no filme vai além de um conto de amores e ódios, que em ponto algum pode ser levado a sério sob o ponto vista temático. Como comédia o que pretende é negar a seriedade de situações em si mesmas de grande dramatismo, tornando-as de tal forma insólitas que invertem muitas vezes o seu significado. É um humor ao mesmo tempo inteligente e eficaz, um reencontro do cinema português com a boa comédia. Francisco Perestrello