Seminário, escola de vida

Num ambiente familiar e informal, alguns antigos seminaristas apresentaram anteontem à noite o seu testemunho do tempo passado no seminário, em Braga. Perante uma plateia formada por seminaristas do Seminário Conciliar e por elementos da equipa formadora, os ex-alunos deram a conhecer vivências, experiências, “estórias” e algumas “partidas” que fizeram parte do percurso numa instituição que consideram uma escola de vida e um local onde se constroem fortes amizades, que, vários anos após a experiência vivida, ainda perduram. O advogado e ex-governador civil de Braga Marcelino Pires, que frequentou o Seminário de Montariol, disse que «os anos que se passam numa vida em comunidade como os seminários são anos marcantes. E as amizades que se formam por essas alturas são normalmente as amizades que perduram». Normalmente frequenta-se o seminário durante vários anos. E «quem tem essas vivências de anos acaba por ficar essa ligação forte». Marcelino Pires referiu que quando conversa com antigos colegas de Montariol ou com outros ex-seminaristas nota-se a ideia de que os tempos de seminário foram «fantásticos». Daí «leva-se uma formação muito acima da média do ponto de vista académico e humano, que muito nos serve na vida em sociedade. Vêem-se nas colectividades muitas pessoas que andaram no seminário, porque aprenderam a viver em sociedade. Também é preciso fazer essa aprendizagem ». «Pode haver excepções, mas por norma não se vê pessoas que andaram no seminário a ser fechadas e egoístas», até porque «no seminário é-se “obrigado” a ter comportamentos sociáveis ». Marcelino Pires revelou também que no seu tempo de seminarista, no início da década de 1960, «havia um incentivo à prática desportiva, que muito ajudava na formação a nível físico e mental». De acordo com este antigo seminarista, pelo menos numa faixa etária mais antiga, o Direito era a área normalmente escolhida por aqueles que saíam do seminário. Por isso, é frequente encontrar-se nos Tribunais profissionais que estiveram no seminário. Segundo o advogado, há também algumas pessoas que estão ou estiveram ligadas à política e que também frequentaram o seminário. «Da vivência que se tem neste tipo de casa sobra um tipo de relacionamento que no futuro tem interesse», afirmou. Vivências em épocas socialmente complicadas Na sessão de anteontem, que decorreu no Seminário Conciliar, no âmbito da Semana dos Seminários, o coronel Picas de Carvalho, ex-comandante do Grupo Territorial de Braga da GNR, «sem deixar de reconhecer que havia exageros e incorrecções », caracterizou o seminário como uma «verdadeira escola de vida». «O facto de ser hoje um cristão assumido deve-se à formação que recebi dos meus pais e ao tempo de seminário». O coronel Picas de Carvalho, que destacou a «amizade que se cria e funde verdadeiramente», disse também que a aprendizagem feita no seminário acabou por se reflectir na sua vida profissional. «Onde eu estivesse, a linguagem tinha de ter alguma moderação», exemplificou. Há «aspectos que nos ficam». Quando andou no seminário, ainda se viviam os reflexos do tempo da segunda Guerra Mundial. «Havia dificuldades de monta. A realidade social era de dificuldades de toda a ordem. Poucas pessoas tinham acesso ao estudo e o seminário era o recurso a seguir, e, mesmo assim, com muita dificuldade». O antigo comandante da GNR bracarense, que frequentou o Seminário Conciliar, desafiou os seminaristas a ter uma «atitude de serviço» em todo o seu trabalho e atitudes. O advogado e ex-governador civil de Braga José Araújo, que também foi aluno no Seminário Conciliar, considerou a passagem pelo seminário como uma fase «importante», que influenciou a sua vida. «Fui aqui bastante feliz. O seminário proporcionou um ambiente de felicidade extrema» e de convívio com os outros. José Araújo lembrou que chegou ao seminário no fim da Segunda Guerra Mundial, «um período em que havia fome. A cidade cheirava a fome. Tínhamos passeio à quinta-feira e ao domingo e os sítios que percorríamos eram aqueles onde a pobreza era mais notória. Havia, talvez, a vontade de mostrar isso». Em sua opinião, «hoje há novos horizontes que se abrem e têm que se abrir, para que os jovens possam optar pela vida eclesiástica». «Precisamos de homens bons, que sejam referência nas suas tarefas. E estou convencido que todos os seminaristas podem atingir isto se o desejarem». Actualmente, quem está no seminário «tem razões acrescidas para se sentir mais feliz que no meu tempo». Local de convívio O professor Luís Arezes, que também passou pelo seminário, enviou uma mensagem aos participantes no encontro, na qual caracterizava o seminário como uma «notável escola de vida». O antigo seminarista, que recordou algumas dificuldades sentidas na fase de adaptação, destacou «o convívio » entre seminaristas, «a riqueza do companheirismo » e «a amizade que se foi enraizando e que ainda perdura, volvidas três décadas». Sem esquecer o que por vezes era feito para «“armar barraca”» e que chegava a originar alguns «castiguitos », Luís Arezes salientou também a «pontualidade, disciplina, rigor, exigência, excelência, entreajuda, solidariedade, responsabilidade e verdade». «Dos cento e muitos condiscípulos só muito poucos são padres. Mas todos temos orgulho em mostrar a nossa imagem de marca. O privilégio de ter crescido numa grande escola de cidadãos. E de aí ter feito caminho e aprendido a olhar a vida com horizontes infinitos».

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