Colocar todo o saber médico, técnico e humano, ao serviço dos doentes

António Sarmento, Presidente da Associação dos Médicos Católicos Portugueses António Sarmento é Director de Serviço de Doenças Infecciosas do Hospital S. João, Infecciologista e Intensivista; é Professor Catedrático da Faculdade de Medicina da Universidade do Minho e Presidente da Associação de Médicos Católicos Portugueses. Voz Portucalense – Quais são os grandes objectivos, princípios e identidade da Associação de Médicos Católicos (AMC)? De que forma viveram no ano transacto os 90 anos da sua fundação? António Sarmento (AS) – Ser médico é uma forma absolutamente privilegiada de intervir na construção de um mundo melhor. Através da medicina temos, todos os dias, numerosas oportunidades de ajudar muita gente, particularmente os mais fragilizados. Se, por um lado, este facto constitui uma oportunidade fantástica, por outro lado não aproveitar a nossa profissão para de forma maximamente humana e competente ajudarmos as pessoas é um desperdício grave. Um dos principais objectivos da nossa Associação é o de ajudar os médicos a fazer da medicina uma missão com valor transcendente. VP – De que forma define e caracteriza o órgão subjacente à AMC, a Revista ‘Acção Médica’? AS – A “Acção Médica” aborda temas éticos ligados à prática da medicina. É uma revista que se publica, ininterruptamente, há mais de 70 anos e que constitui uma fonte de consulta de valor inestimável. Só por si, a “Acção Médica” já justificaria a existência da AMCP. VP – Sobre a temática a desenvolver no Congresso Nacional da AMC, nos próximos dias 10 e 11 no Porto, quais são os Desafios e Cuidados integrais a ter no fim da vida? AS – O principal desafio é colocar todo o saber médico, técnico e humano, ao serviço dos doentes que estão na fase final da sua vida. Pelo facto de ser terminal, esta etapa não é menos importante que o nascimento, a adolescência ou a vida adulta, nem a dignidade do doente que está para morrer é diferente da dignidade da pessoa que está no auge da vida. Os cuidados médicos nesta fase, não deverão “adiar nem antecipar a morte” devendo “encará-la com naturalidade”, tal com afirma a definição da OMS a propósito dos cuidados paliativos. VP – Ao referir o fim da vida acaba-se por abordar uma outra questão actual e polémica: a Eutanásia e a Distanásia. Qual é a sua posição e opinião sobre esta matéria? AS – Ambas representam “falências” do sistema e estão interligadas. A distanásia (“má morte”) resulta da obstinação terapêutica. Embora feita, geralmente, com boa intenção, a obstinação terapêutica resulta em malefícios para o doente, para a família e para a sociedade. Quando não se consegue reconhecer que a morte é inevitável a curto prazo e se tenta, por todos os meios, hoje em dia poderosos, evitar o que é inevitável, vamos prolongar a agonia, a morte e não a vida, por meios totalmente artificiais. O doente vai morrer, mas num ambiente “agressivo” e numa dependência total de meios e tecnologias que podem induzir grande sofrimento físico ou psíquico e contribuir para um maior isolamento dos que lhe são mais queridos. Isto faz com que se generalize um medo ainda maior da morte e da fase final da vida o que também poderá contribuir para o aumento de pedidos de eutanásia. A eutanásia é um processo activo em que se provoca, deliberadamente, a morte de alguém com a intenção muitas vezes sincera, de lhe aliviar o sofrimento. Este processo não tem nada a ver com o deixar morrer na fase terminal de uma doença fatal. Matar e deixar morrer não podem ser confundidos. VP – Com esta questão actual do Referendo sobre o Aborto, certamente este assunto terá um destaque fundamental? Que posição e comentário tece à pergunta que se coloca, em termos de despenalização? E que é feito da (des)legitimação? AS – Acho que há uma diferença entre o não castigar ou o legitimar. Alguém que, em legitima defesa, provoca lesões físicas noutra pessoa que tomou a iniciativa de a agredir ameaçando a sua vida será, naturalmente, absolvido pelo Juiz. Isto não nos poderá levar a defender a legalidade da agressão física. VP – Uma outra área que a AMC valoriza e destaca é a Bioética, atribuindo assim um Prémio de Bioética. Por que razão ter direito a um Prémio porquê este e não outro? AS – Porque a bioética está dentro dos principais interesses, diria mesmo, é uma das razões de existir da AMCP. Entrevista de André Rubim Rangel

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