Igreja açoriana lança peditório ao domicílio

Trata-se da primeira vez que Igreja dos Açores coloca em execução um peditório de forma tão alargada e directa, junto das populações do arquipélago. Até ao dia 5 de Novembro, um total de 93 mil desdobrável serão entregues, via postal, ao domicílio das famílias açorianas. A acção de sensibilização é integrada na Semana da Igreja Diocesana que decorre entre 5 e 12 de Novembro. Em entrevista “a União”, o Bispo de Angra, D. António Sousa Braga, apela à co-responsabilização dos católicos e, por seu turno, garante maior controle dos dinheiros da igreja, ao mesmo tempo que fala na modernização da gestão diocesana. Jornal “a União” (a.U.) » Qual a verdadeira necessidade desta colecta, realizada de forma tão directa no âmbito da Semana da Igreja Diocesana 2006? D. António Sousa Braga (A.S.B) » A Semana da Diocese surge no contexto e no seguimento do Dia da Igreja Diocesana. Todos os anos, por volta da data da criação da Diocese nós celebramos este dia para promover o sentido da igreja local, o sentido de pertença a uma diocese. Como estamos numa situação financeira difícil, achámos que o momento mais oportuno para fazer o apelo à co-responsabilidade dos católicos em relação à administração financeira da diocese era precisamente o Dia da Igreja Diocesana prolongado numa semana. Precisamente para que não parecesse uma recolha de fundos, mas um exercício da co-responsabilidade da partilha dos bens dentro do espírito de quem se sente membro de uma mesma igreja e de quem se sente corresponsável por tudo o aquilo que acontece na igreja. A partilha de bens sempre fez parte do espírito cristão desde o início. Sempre existiram campanhas em favor de comunidades mais pobres. a.U. » Porém, trata-se da primeira vez que se endereça um pedido de modo tão alargado? A.S.B » É a primeira vez que se faz um pedido neste esquema de envio de subscritos para todas as famílias açorianas. Nós estamos habituados a promover ofertórios, missas dominicais, em favor de várias causas, como em favor da Cáritas, das paróquias, da reconstrução das igrejas devido aos sismos…todos os anos nós temos a renúncia quaresmal, aquilo que as pessoas poupam renunciando a alguma coisa que depois vai em favor ou de alguma comunidade ou a alguma iniciativa da diocese, ou outras igrejas mais necessitadas. Trata-se de uma partilha em favor dos serviços centrais da diocese. E tem uma cobertura total, quero dizer, a partilha é dirigida não só aos praticantes, mas também àqueles que normalmente não vêm à igreja, ou seja, a todas as famílias açorianas. a.U. » Como é que acha que as populações açorianas vão reagir a este peditório, especialmente num período de contenção económica? A.S.B » Penso que vai haver bom acolhimento. Vamos lá a ver: ninguém é obrigado a partilhar. Cada um partilha conforme aquilo que tem, dispõe e conforme está motivado ou não. Mas eu detenho a ideia de que os açorianos têm um grande espírito de partilha de solidariedade. Penso que isso é um pouco devido à raiz cristã da nossa cultura e também a todo este espírito das festas do Império do Espírito Santo – expressão da partilha e da entreajuda. Acho que vai haver um bom acolhimento. É uma proposta, uma sugestão: quem quiser e puder ajudar, ajuda, ou então tem outra reacção. Já estamos à espera de outras reacções e não ficamos admirados. a.U. » Qual é realmente o grau das dificuldades financeiras da Diocese de Angra? A.S.B » As dificuldades financeiras estão relacionada com o facto de as entradas correntes não cobriram as despesas correntes, quer dizer, há um défice. E portanto nós temos que conter as despesas e fazer um apelo para que haja transparência na prestação das contas na medida em que a maior parte das entradas correntes da Diocese vem das paróquias dentro do sistema dos dez por cento das entradas ordinárias. a.U. » Trata-se do pior momento financeiro da Diocese? A.S.B » Bem, ao longo deste dez anos– período em que cá estou–, trata-se de uma situação difícil embora penso que não é o pior período, uma vez que a Diocese já atravessou outras situações difíceis, basta pensar, por exemplo, no período da reconstrução após o sismo de 1980 em que a diocese esgotou praticamente a sua capacidade financeira e depois teve que recomeçar do zero. Mas em suma, houve sempre períodos de dificuldades, uns mais, outros menos. a.U. » Para o futuro, qual a mensagem prioritária para quem gere os dinheiros da Igreja nos Açores? A.S.B » Temos que ser muito rigorosos na administração, tendo presente que a Diocese vive daquilo que é o contributo do fieis, este tem de ser administrados o melhor possível e segundo as finalidades da igreja. a.U. » Prevê-se um controle mais apertado nas contas? A.S.B » Penso que não é somente controle, mas sobretudo uma gestão, diria, menos doméstica, sabendo que não nos podemos transformar numa empresa. Acho que tendo presente que os encargos da Diocese são cada vez maiores, nós não podemos pensar que a Diocese pode funcionar só na base do contributo dos fiéis. Seria necessário também criar outras fontes de rendimento, sem querer transformar-se em empresa, sobretudo através de uma melhor rentabilização do património. As dioceses, as paróquias têm património só que às vezes não estão rentabilizados e valorizados. Penso que temos que nos modernizar nisso, sem, novamente, transformar a Diocese numa empresa. Tem de haver alguma iniciativa e criatividade dentro daquilo que são os fins da Igreja. Contas da Diocese tornadas públicas Segundo informação que a Diocese vai tornar pública sobre o estado financeiro da Diocese, as receitas da Igreja açoriana, no ano passado, perfazem um total de 1.052.571,80 euros. Neste montante, está incluído não só o contributo dos fiéis/receitas das paróquias (229.152,48 euros), como o rendimento de património e outras actividades (241.092,55 euros), colectas (54.840,35 euros), receitas diversas e donativos (209.859,14 euros) provindo o maior bolo da alínea das receitas financeiras ( 317.627,28 euros). No capítulo das despesas, a Diocese gastou, em 2005, um total de 1.196.199,24 euros. Este valor reflecte a soma das verbas gastas sobretudo em acções pastorais e assistências (397.249,22 euros), despesas financeiras (274.197,77 euros), salários e segurança social (209.307,28 euros), formação (190.707,11 euros), conservação e gestos de manutenção (73.048,16 euros), despesas de funcionamento (48.358,18 euros) e em comparticipações (3.331,52 euros). Estes são valores que se reportam à actividade financeira da Diocese entre o ano pastoral de 2005 (entre Setembro de 2005 e Agosto de 2006) que revela um défice de 143,6 mil euros, que na moeda antiga representa cerca de 29 mil contos. Igreja com 172 paróquias De acordo com a Diocese, a sua gestão abrange uma “superfície de 2.243 km quadrados com 241.763 habitantes, dos quais 231.243 se afirmam católicos”. “Unida há quase cinco séculos, a Diocese está em nove ilhas, repartida em 16 ouvidoras e estas em 172 paróquias, onde trabalham 159 padres, dois diáconos, 176 religios(o), cinco leigos consagrados, 21 seminaristas e 17.817 leigos comprometidos activamente em acções da Igreja”, enumera a Igreja. Os objectivos “prioritários” da Diocese, relembram, são baseados em três pressupostos: “anunciar o evangelho, celebrar a fé e viver a caridade”. Seja através do “culto anual”, peditórios, colectas dominicais, ofertas esporádicas, legados, heranças ou fundações pias, a Diocese relembra os interessados que os donativos, caso seja pedido recibo, são passíveis de dedução fiscal. Humberta Augusto

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