Comunicar no Vaticano com as novas tecnologias

Entrevista ao porta-voz do Papa É Director da Rádio Vaticano, do Centro Televisivo Vaticano e da Sala de Imprensa da Santa Sé. No I Congresso Mundial das Televisões Católica falou à Agência Ecclesia sobre os desafios que as novas tecnologias colocam à comunicação no Vaticano Agência Ecclesia – Que resultados podemos esperar deste I Congresso Mundial das Televisões Católicas? Pe. Federico Lombardi – Julgo que um primeiro resultado – que era o principal – era o de nos conhecermos e de podermos estabelecer múltiplas relações entre estas diferentes televisões – relações de conhecimento e de colaboração – e também encorajar-nos reciprocamente neste trabalho porque, por vezes, sentimo-nos isolados ou podem surgir dificuldades. Por isso, ver que há muitos outros, ver como trabalham, enriquece-nos em termos de ideias e serve de encorajamento. Depois, pode haver também diversas iniciativas concretas. Neste Congresso houve algumas dimensões concretas, principais: da nossa parte, como Centro Televisivo Vaticano, dar uma informação mais completa sobre o tipo de serviços que podemos colocar à disposição das televisões católicas; depois, algumas iniciativas novas, propostas, como a de um “Banco de Programas” postos à disposição com generosidade por cada emissora ou produtora e isso pode provavelmente representar uma riqueza para a partilha. E também a proposta de iniciar novas formas de produção de notícias, de informações, em formato televisivo, mas pensando também na Internet e nas novas Tecnologias de Difusão da imagem e da informação. Parece-me que estas são iniciativas concretas que encorajarão também o desenvolvimento de uma rede de contactos e formas de colaboração entre as televisões católicas. Naturalmente, o mundo não vai mudar de hoje para amanhã, mas há certamente uma nova consciência da necessidade de trabalhar juntos e um encorajamento recíproco – e estes são certamente aspectos que não deixarão de dar frutos. AE – Como estão a ser utilizadas as novas tecnologias pelos serviços de informação da Igreja, no Vaticano nomeadamente? FL – Estou convicto que a Igreja, como realidade viva, está sempre atenta ao que vai acontecendo e está atenta precisamente na base, onde se vive, onde vivem os cristãos e católicos empenhados e atentos ao que sucede no mundo ao seu redor. Para os jovens, eles nascem já familiarizados com o computador – enquanto que para nós foi uma “façanha” aprender a usá-lo quando já éramos crescidos… Agora, os jovens operadores das comunicações sociais – e há muitíssimos jovens na Igreja que são entusiastas do trabalho das comunicações – nascem com uma familiaridade e interesse pelas novas tecnologias, de modo que eles serão naturalmente o seu instrumento de trabalho. Para mim, essa realidade apresenta-se não como uma grande estratégia universal que surge do alto e que indica os instrumentos que é preciso utilizar; mas, antes, com a realidade da Igreja que tem consciência do que acontece no campo das novas formas de comunicação, porque está dentro dessa realidade. Depois é preciso encorajar, coordenar e guiar este processo também com as grandes mensagens que podem ser as que provêm do Santo Padre e do seu Magistério, que enriquecem com conteúdos e orientações um movimento que porém nasce já, de modo bastante espontaneamente, a partir da base. Parece-me, por conseguinte, que há consciência das novas tecnologias – houve neste congresso boas comunicações que foram apresentadas –, mas parece-me que as pessoas, na base, os operadores já as conhecem, pelo menos na medida dos recursos de que dispõem… AE – A comunicação, na Igreja, acontece sobretudo segundo uma hierarquia. Qual é o desafio da interactividade, de ouvir os que estão na base? – Digamos que a Igreja vive já a partir da base. Porque a fé é a fé dos cristãos que estão inseridos na vida de todos os dias. A Igreja tem muitos dons e muitos ministérios. Há também o ministério pastoral daqueles que devem, num certo sentido, guiar, a comunidade, nos diferentes níveis – local, diocesano e universal… Parece-me que esta é uma dinâmica muito natural. Não há uma distância entre o “vértice” e a base: são dois aspectos da mesma comunidade… AE – Há um movimento do vértice para a base? FL – Certamente… AE – Como acontece a interactividade? FL – Certamente… O vértice fala e dá orientações à luz daquilo que reconhece surgir e provir da base, confrontando-os, naturalmente, com a Palavra de Deus, com a Tradição, e com, digamos, a “sabedoria” que a Igreja foi acumulando ao longo da sua experiência. Mas não se trata claramente de algo que “desça do céu”, sem uma conexão com o que é a experiência de fé vivida na base da Igreja… AE – A formação e o profissionalismo de quem trabalha nos meios de comunicação social católico exige ser bom profissional, bom técnico e bom católico? FL – Naturalmente, é preciso ser bons, quer como católicos quer como profissionais. De outra forma não se atinge o objectivo. Quem não é bom católico comunica mensagens que não são coerentes com a fé; quem não é um bom profissional, não as sabe comunicar bem. São precisas ambas as dimensões: é difícil poder-se dizer que uma delas não é necessária. De qualquer forma, um bom católico, convicto e apaixonado pela comunicação social, pode aprender e tornar-se um bom comunicador; pelo contrário, um bom comunicador, profissional, que porém não esteja interessado na fé, mais dificilmente atingirá ambos os objectivos. AE – De que forma o Papa Bento XVI está a utilizar os meios de comunicação social para um diálogo cultural com todo o mundo? FL – Bento XVI, como todos os Papas, desempenha o seu serviço, tem as suas ocasiões de ensinamento. Depois, os meios de comunicação social recolhem o seu magistério e a sua acção, e tornam-se comunicadores dos seus ensinamentos. Mas, diria que este é sobretudo uma tarefa que cabe a nós desempenhar, mais do que um dever específico do Papa: ele deve dar-nos o grande conteúdo do ensinamento da fé e da inspiração para o nosso empenhamento cristão. Nós que somos os comunicadores e estamos ao seu serviço, em comunhão com ele, devemos conseguir difundir esta mensagem da melhor forma possível. Naturalmente, ele tem também a capacidade específica de comunicador. O que eu considero bastante extraordinário é a que ele demonstra nos diálogos – e que demonstrou também nalgumas entrevistas: é uma pessoa que é capaz não só de fazer discursos muito profundos e ricos em conteúdo, mas também, ao mesmo tempo, claros na expressão, mas é também capaz de responder de modo muito eficaz às perguntas que lhe são colocadas – por exemplo nos encontros com os Sacerdotes, ou também noutras entrevistas que ele concedeu. E esta é uma grande capacidade de comunicação, porque demonstra um grande domínio, uma grande segurança e clareza no diálogo com quem lhe coloca perguntas. AE – Com a certeza do impacto que tem em todo o mundo? FL – Certamente! O Papa tem consciência de que não fala apenas para um pequeno círculo de pessoas, mas para todo o mundo e que as suas palavras têm um grande peso na orientação da Humanidade – para a Igreja, mas também para as pessoas de boa vontade que desejam ouvi-lo. Naturalmente, qualquer mensagem, para atingir a sua finalidade, precisa também de quem a ouça e de uma atitude, digamos, disponível e desejosa de compreender, por parte de quem ouve. Não basta, portanto, apenas a mensagem do Papa, mas também que haja ouvidos uma mente abertos dispostos a acolher a sua mensagem. AE – De que forma os serviços da “Sala Stampa” e de todos os serviços de comunicação no Vaticano estão a aproveitar as potencialidades das novas tecnologias? FL – Na minha opinião, esta é a nossa tarefa e a nossa vida. Eu trabalho na Rádio Vaticano desde há quinze anos. Utilizámos as ondas curtas e médias e a FM, agora utilizámos os satélites, utilizamos a Internet, estamos a experimentar os sistemas digitais também de transmissão em onda curta e média… O nosso dever é precisamente o de utilizar as tecnologias mais apropriadas para comunicar a mensagem, os ensinamentos do Santo Padre, dar a informação sobre ele, de modo a servir a unidade e a comunhão da Igreja, e também servir a Humanidade, à qual é destinada a mensagem positiva da Igreja. Se formos inteligentes e estivermos presentes no mundo das comunicações, naturalmente procuramos colher tudo o que se movimenta no mundo das comunicações como novas possibilidades para nos tornarmos mais eficazes na comunicação! Todos nós aprendemos. Parece-me que as coisas estão a evoluir tão rapidamente que é difícil fazer grandes previsões ou profecias. Costumo apresentar o exemplo do iPOD. Há apenas dois anos, julgo, que não sabia sequer o que isso fosse – talvez nem sequer existisse… Agora disponibilizamos todos os programas da Rádio Vaticano de modo a poderem ser ouvidos com esta tecnologia. Daqui a um ou dois anos haverá uma outra tecnologia, e deveremos tentar aperceber-nos disso e, se for útil, procurar utilizá-la do modo mais eficaz possível.

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