Brian De Palma na Europa

Depois de uma longa carreira no cinema americano Brian De Palma parece ter optado pela Europa a partir de 2002. Sempre com o suporte de capitais americanos realizou em 2002 “Mulher Fatal”, em França, e, agora, “A Dália Negra”, em grande parte filmado nos Estados Unidos mas com maioria de capital alemão e sequências rodadas na Bulgária. De Palma sempre se debruçou sobre a violência. Os seus filmes de maior sucesso, entre os quais “O Fantasma do Paraíso” (1974) e “Vestida para Matar” (1980), andam em volta do crime, estando longe de obter o mesmo nível de eficiência nas obras de maior orçamento e destinadas a uma mais vasta gama de público, como “Missão Impossível” (1995) que muito contribuiu para alargar a popularidade de Tom Cruise. O contacto com a Europa, longe de diluir a apetência por temas de violência parece ter despertado em Brian De Palma a via para o seu aprofundamento. E tal fica bem marcado com “A Dália Negra”, em que o mundo do crime e o seu confronto com os representantes da Lei se agudiza de uma forma muito clara. Mas o que valoriza o filme é o cuidado posto na criação do ambiente, tanto no que respeita aos criminosos como às dificuldades no seu combate, numa narrativa densa, inicialmente confusa mas que se clarifica progressivamente, ligando entre si as várias linhas inicialmente abertas. Não sendo fácil encontrar em “A Dália Negra” uma censura directa a diversas vertentes da sociedade americana, mais descritas do que criticadas, encontra-se no todo da obra o retrato de uma época e de alguns aspectos de um modo de vida em que se acumulam as defesas dos interesses individuais, a qualquer preço. Tudo feito com uma realização impecável, digna de um cineasta que já realizou quase três dezenas de filmes mas que não abdica de um estilo em muitos aspectos agressivo, quer sob o ponto de vista visual quer verbal, com diálogos num vernáculo adequado aos meios descritos. Francisco Perestrello

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