Fundadora considerava a educação a chave e única forma de ser livre

Congregação de S. José de Cluny celebra dois séculos A Congregação de São José de Cluny, fundada por Ana Maria Javouhey, em 12 de Maio 1807, está a celebrar o seu bicentenário, que se prolonga até Maio do próximo ano. Uma das ideias fortes desta «pedagoga por excelência» era a educação do homem na sua plenitude, «como a chave e única forma de se ser verdadeiramente livre». No âmbito das celebrações do bicentenário da fundação da congregação, o Centro de Solidariedade da Imaculada Conceição, uma das casas da instituição em Braga, convidou a irmã Hermínia Genaro, psicóloga e especialista em Ana Maria Javouhey, para falar aos pais e encarregados de educação sobre a vida, obra e pensamento da fundadora. Trata-se de uma mulher que esteve séculos à frente dos seus contemporâneos, em vários aspectos da vida, viveu em tempos conturbados, mas soube ser uma mulher de fé, livre e corajosa, promotora do respeito, da liberdade e da dignidade humana, que pôs sempre em primeiro lugar. Segundo a irmã Hermínia, a fundadora das irmãs Congregação de S. José de Cluny celebra dois séculos Fundadora considerava a educação a chave e única forma de ser livre de S. José de Cluny entendia que para que essa dignidade seja alcançada, são precisos fundamentos a nível da educação. «Formar a inteligência, educar as emoções e a afectividade, formação relacional, formar para a ciência moral, a ética, princípios e valores e ter abertura à espiritualidade e à transcendência». O objectivo era, e continua a ser o lema dos seguidores da fundadora, o desenvolvimento integral da pessoa humana, uma educação plena, como forma de realização de todas as potencialidades. «Ser educado é única forma de ser livre. Ana Maria apostou na educação dos seus contemporâneos e nas futuras gerações. O que Paulo Freire e outros famosos pedagogos dizem, já tinha sido preconizado por Ana Maria Javouhey, porque era uma mulher do futuro e muito sábia. E os sábios estão muitos anos à frente das outras pessoas». Segundo a conferencista, Ana Maria Javouhey foi, em primeiro lugar, uma grande santa, beatificada em 1950, e uma grande pedagoga, que viveu 200 anos à frente da sua época. Recebeu a missão de educar crianças e jovens, mas também outras missões na sociedade, nomeadamente a solidariedade e assistência aos mais necessitados. «Estar onde há bem a fazer» Missionária convicta, incitou a todos, mas em particular as suas seguidoras, a “Quererem estar em toda a parte onde houvesse bem a fazer e sofrimento a aliviar”. E quando sentiu o chamamento, havia muito a fazer na educação, na solidariedade, na saúde e na evangelização. Foi libertadora dos escravos. Preparou os primeiros grupos de escravos que o governo francês libertou. Ana Maria Jovouhey preparou-os para assumirem a sua autonomia e se inserirem na sociedade. É padroeira de muitos povos africanos. Amava África com um amor fenomenal e intenso. Era conhecida como «a mãe Javouhey». Antes de morrer deixou a congregação implantada nos cinco continentes. Viajou mais de 45 mil quilómetros naqueles barcos antigos e frágeis do princípio do século XIX, como uma verdadeira arauto do evangelho e mensageira da liberdade. Foi admirável a forma como se aventurou por locais praticamente desconhecidos. Viveu três revoluções em França, conviveu com vários papas e imperadores, entre eles o famoso estratega militar Napoleão Bonaparte. Aliás, este terá dito que não se importava de colocar Ana Maria Javouhey à frente de um dos seus exércitos. A Revolução Francesa introduziu as ideias de liberdade, igualdade e fraternidade, mas trouxe também violências, perseguições, guilhotinas e ajustes de contas. A sua tarefa foi tentar a realização plena do homem, educando-o no amor ao próximo, na liberdade e nos valores do evangelho. «Havia muito bem a fazer» e foi isso que tentou fazer. Defesa Intransigente da vida e da dignidade humana A mensagem de Ana Maria Javouhey, fundadora da congregação de São José de Cluny continua de uma impressionante actualidade, nomeadamente no que diz respeito à defesa intransigente da vida e da dignidade humana. Nas suas mais de 1100 cartas, a cada passo vinca estes conceitos. Segundo a irmã Hermínia Genaro, Ana Ma- Defesa intransigente da vida e da dignidade humana ria lutou contra a ideia de uma vontade de Deus fatalista. «A vontade de Deus é que as pessoas tenham vida e a tenham em abundância. Uma lutadora em prol da vida e da promoção da pessoa humana, partindo dos fundamentos do Evangelho». Defendia a pedagogia da liberdade dos filhos de Deus e fundamentava a sua concepção de educação em cinco pontos: toda a pessoa humana é filha amada de Deus; desde a concepção até à sua morte. Todos os homens, são fundamentalmente iguais na dignidade, independentemente da sua faixa etária, embrião, bebé, criança ou adulto. Dizia que qualquer pessoa, desde a mais tenra idade, é cheia de potencialidades e deve ter espaço e condições para as fazer germinar. Uma discussão com actualidade, uma vez que nos próximos meses, a propósito do referendo sobre o aborto, a vida vai estar em debate, se pode ou não ser interrompida. «As crianças são cheias de recursos e é preciso que estas potencialidades e recursos se desenvolvam», afirmava, recordando que só o dinamismo do evangelho e a mensagem trazida por Jesus Cristo é que pode formar e gerar sociedades de homens livres. Os ensinamentos de Ana Maria Javouhey continuam a ser divulgados nos cinco continentes, em especial nas centenas de casas, colégios e Centros de Solidariedade. Em Braga, a congregação está bem implantada, com três instituições e uma em Famalicão. As celebrações começaram em Maio deste ano e prolongam-se até ao dia 12 de Maio de 2007, completando 200 anos da congregação. Em todas as cidades onde está implantada, vai haver actividades e Braga não foge à regra, estando já programados alguns actos comemorativos. A reunião com os pais e encarregados de educação, realizada no Centro de Solidariedade da Imaculada Conceição, na Rua de São Geraldo, foi uma forma de dar a conhecer as ideias de Ana Maria, na linha de partilha da missão educativa e formativa. Neste mês, a congregação está a celebrar os 125 anos da chegada a Portugal, 30 anos após a morte da fundadora. Ana Maria Javouhey nasceu em Borgonha, França, em Novembro de 1779 e a primeira associação de freiras foi criada em Cluny, tendo como patrono S. José.

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