Vinho: símbolo do trabalho humano e presença de Cristo

Douro celebra 250 anos de Região demarcada A Região Demarcada do Douro celebra 250 anos. A história diz que o nevoeiro começou por demarcar esta zona, com micro clima muito próprio, de terreno xistoso e grande inclinação dificultando o seu cultivo. O Marquês de Pombal, no tempo de D. José, delimitou esta região, para que, dadas as suas características especiais de clima e de terreno, não surgissem plantações desordenadas e assim, as videiras pudessem crescer preservando características que hoje conferem a este vinho um sabor especial. Mas este é um tempo de vindimas. E com o aproximar dos dias para a colheita das uvas, tanto grandes como pequenos proprietários sentem a importância desta actividade, mas a que o tempo tirou alguma alegria e festa. Se em outros tempos as vindimas eram das colheitas mais importantes, onde as pessoas passavam vários dias em festa, hoje já não é bem assim. O Padre José Nascimento Gomes, pároco de São João da Pesqueira, em Lamego, está naquela região há 54 anos. Testemunhou muitas mudanças. “Em anos anteriores organizava-se a missa das vindimas, agora já não” relembra. Tem memória de as vindimas serem uma grande festa. “Antigamente até se dizia «Vais para a vindima, tens a mesa na frente», porque havia sempre que comer e beber e a família juntava-se para fazer a colheita e cantava”. António Figueiredo, de 69 anos, cultiva o vinho da região há mais de 30 anos e não esquece as vindimas em que participava quando era pequeno. “Quando era jovem, não havia os caminhos agora feitos, era tudo transportado por animais e em cestos antigos. Antes era outra alegria. A minha família tinha uma quinta e dava-se de comer aos trabalhadores” afirmando que agora está tudo mais “triste” e mecanizado. Com 6 hectares de terreno tem de contratar pessoas para o ajudar. Os cestos à cabeça dão lugar a camionetas, os pés substituídos por máquinas para “esgar os bagos”. O próprio cultivo já não compensa, pois os grandes proprietários lucram mais, “mas esperamos dias melhores, os campos já custaram tanto suor que vai dando para o consumo de casa”. José Cequeira, é proprietário de um armazém onde produz vinho na região de São João da Pesqueira. Actualmente, bastam-lhe três ou quatro homens para manejar as máquinas que agora substituem o trabalho manual. “Para a colheita é que é preciso mais gente”. Agora as uvas são transportadas em caixas de plástico, pousam em cima umas das outras ainda sem serem pisadas. São levadas para o armazém, onde com máquinas modernas se faz a trituração e se faz a separação do esqueleto do bago. Os bagos vão para tubas de fermentação modernas, e depois para cubas de armazenamento. É este o processo que agora o vinho tem. José Cequeira lembra, ainda miúdo de ouvir o cantar e ver as danças à voltas das vindimas. “As uvas eram pisadas com os pés. Um dava ordens “esquerdo, direito”, e levantavam os pés às ordens. Cantavam, dançavam, e comiam. Agora é tudo mais monótono” explica. Mas as histórias não se esquecem e o vinho terá sempre o seu lugar, pois é das culturas mais antigas. O vinho é símbolo de vida, que pela sua cor vermelha se associa ao sangue. Era a bebida dos deuses pagãos. O vinho era oferecido a Deus como um maravilhoso produto da terra, como um dom de Deus aos homens. É um elemento integrante do banquete messiânico, onde Jesus utiliza o vinho novo, para falar da novidade que Ele traz ao mundo. Jesus Cristo fará a associação do vinho com o seu sangue, na Última Ceia. Toda a simbologia religiosa conferida ao vinho estará presente na Sé de Lamego numa Eucaristia de acção de graças, no Domingo, presidida por D. Jacinto Botelho, Bispo de Lamego. Em declarações à Agência ECCLESIA afirma que “a Eucaristia não é um elemento decorativo nas celebrações. Será de acção de graças pelo reconhecimento da riqueza desta região que é património mundial” afirma. Na sua homilia, terá ocasião de apreciar “o trabalho de séculos realizado por pessoas”. Também D. Jacinto Botelho lembra que “antigamente havia o cuidado de não faltar aos trabalhadores a celebração dominical, no decorrer das vindimas. Cristo utilizou o vinho na Eucaristia e deixou-nos como símbolo do seu sacrifício” lembra D. Jacinto. Assim, “esta Eucaristia dará um espírito cristão a este aniversário”.

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