Terra Santa: Cristianismo em risco

Fundação AIS denuncia situação A presença cristã na Terra Santa, no berço do cristianismo, está em risco de desaparecer. No espaço de 40 anos, a percentagem de cristãos baixou de 20% para pouco mais de 2 por cento. Actualmente, existem pouco mais de 150 mil cristãos que têm de enfrentar quotidianamente discriminações no emprego, na escola ou no próprio bairro onde vivem. As razões prendem-se com a religião, com o seu estatuto social e com a origem étnica dos cristãos da Terra Santa, que são na maioria árabes palestinianos. Para muitos a derradeira solução é imigrar. Um sacerdote palestiniano explicou-nos que o grande surto da imigração cristã surgiu no início da Segunda Intifada (revolta árabe), em Setembro de 2000. Mas os cristãos que imigraram para países vizinhos acabaram por regressar à Terra Santa. “Porque os países árabes não os querem receber e porque a vida nesses países, maioritariamente islâmicos, não é confortável para nós”, referiu o sacerdote. Os que se estabeleceram em países ocidentais já não pensam no regresso. Os cristãos da Terra Santa encontram-se hoje entre o fogo cruzado da luta política, territorial e económica entre o Estado de Israel (maioritariamente judaico) e a Autoridade Palestiniana (actualmente de maioria muçulmana) que deseja constituir um Estado independente na Palestina. As comunidades cristãs são reféns de uma paz, que parece ser impossível de alcançar entre judeus e muçulmanos. A Ajuda à Igreja que Sofre esteve na Terra Santa para avaliar a dimensão da crise que está a atingir as comunidades cristãs e verificar o que pode ser feito para ajudar estes cristãos perseguidos e necessitados. Belém, prisão a céu aberto A cidade berço do cristianismo, onde nasceu Jesus Cristo, está hoje cercada por uma muralha erguida pelas autoridades israelitas. Este enorme muro de betão separa os territórios palestinianos da Cisjordânia do Estado israelita que justificou a sua construção como uma medida para travar a entrada de terroristas e de armas em Israel. Construída em terrenos de cultivo palestinianos, a muralha que circunda Belém e várias outras cidades palestinianas separou famílias e tornou ainda mais difíceis as deslocações das pessoas para o emprego, para a escola ou sempre que necessitam ir a um hospital ou a um centro de saúde no “lado de lá”, em Israel. No ano passado, por altura do Natal, os sacerdotes, religiosos e leigos das várias denominações cristãs denunciaram esta situação ao mundo: “Os cristãos de Belém estão fechados numa prisão a céu aberto por um muro de 8 metros de altura”. A comunidade cristã daquela cidade criticou o encerramento da estrada tradicional que conduzia à Basílica da Natividade, impondo aos peregrinos uma passagem forçada e demorada pelos postos de controlo à saída da cidade. Estes actos foram considerados pelos representantes cristãos como “uma forma de barbárie moderna para estrangular economicamente uma cidade” e “uma flagrante discriminação religiosa”. O turismo religioso e as peregrinações aos locais santos – uma das principais formas de subsistência da comunidade cristã – têm vindo a diminuir, não só devido ao medo de ataques terroristas, como também por causa do acesso cada vez mais difícil dos turistas e peregrinos aos templos e locais sagrados do cristianismo. Terços pela paz na Terra Santa Em Belém contactámos com várias famílias cristãs que lutam por manter abertas as suas lojas de artigos religiosos, que estão à beira da falência. A família Zablah (Ramon, Katie e seus 3 filhos), possui uma pequena oficina de fabrico artesanal de terços em madeira de oliveira. A senhora Katie lamentava a crise que se vive neste tipo de comércio e explicou como dependem da ajuda de familiares e amigos para comprar comida. Apesar de ter visto muitos cristãos partir, ela e a sua família desejam permanecer na terra que tem sido o lar dos seus antepassados desde os tempos de Cristo. Ehad Zablah, de 18 anos, dizia-nos: “É uma situação muito triste, mas estamos determinados em ficar”. A fé acalenta e dá esperança a estas famílias. “A minha fé inspira-me em tudo o que faço. Sem a minha fé estaria perdida. Acredito que Jesus nunca se esquecerá de nós”, confessava Arlette, de 60 anos, que trabalha com jovens traumatizados numa escola em Belém. A Ajuda à Igreja que Sofre está a apoiar estas famílias, promovendo junto dos seus benfeitores em todo o mundo os rosários artesanais. Os terços são também um apelo à oração pela paz na Terra Santa. Maghar: Os cristãos da Galileia pedem solidariedade A 10 de Fevereiro deste ano a comunidade cristã melquita organizou uma vigília de “oração pela reconciliação e perdão” em memória dos motins que ocorreram há um ano naquela cidade. Maghar é uma cidade com 20 mil habitantes, metade dos quais drusos (religião nascida do islamismo mas considerada herética pelos muçulmanos), 22% são cristãos melquitas e 20% pertence a outras denominações muçulmanas. Há um ano eclodiu um surto de violência em Maghar, em que grupos de fanáticos drusos atacaram durante vários dias o bairro cristão, incendiando e pilhando casas e lojas. Morreram sete pessoas e 5 mil cristãos fugiram para localidades vizinhas. As autoridades demoraram a reagir para proteger a população e foi o Núncio Apostólico em Israel que interveio pessoalmente para pedir o restabelecimento da ordem. Ramallah: Ameaçados pelo fundamentalismo “Todos os muçulmanos querem vir para esta cidade. Pouco a pouco, os cristãos partem porque não é possível viver entre os muçulmanos. Alguns fanáticos não gostam que existamos”. Estas palavras são do pároco da cidade de Ramallah, centro da Autoridade Palestiniana e do recém-eleito Governo do movimento islâmico Hamas. O Padre Nazaih explicou que tem crescido um sentimento anti-cristão generalizado nesta cidade onde, anos atrás, fundamentalistas muçulmanos se apoderaram à força de terrenos próximos a uma igreja para construir uma mesquita. “Vieram com tractores e partiram muros e casas. Não percebemos o que se estava a passar. Eles ficaram com tudo”, contou o sacerdote. O aumento da militância entre os muçulmanos provocou um êxodo massivo nesta cidade que antes da criação do Estado de Israel, em 1948, era inteiramente cristã. Outro cristão palestiniano confessou-nos, sob anonimato, temer que a situação dos cristãos se possa agravar com o novo poder político na Palestina: “Com o novo Governo, provavelmente a Palestina deixará de receber ajuda da União Europeia e dos Estados Unidos e os cristãos vão ser novamente vítimas de discriminação e injustiça”. Fundação Ajuda à Igreja que Sofre

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