Cinema: a luta na Irlanda

Com frequência o cinema tem abordado a luta dos irlandeses que, contra ingleses, procuram alcançar a independência total do território da Ilha. Quase sempre temos por centro a acção do IRA, uma vezes apresentado como um grupo cruel e terrorista, outras como um conjunto de heróis que lutam pela liberdade e defesa da sua cultura e tradições. “Brisa de Mudança” (ou, como no título original, “O Vento que Abana a Cevada”) centra-se no decurso do início do Século XX, quando toda a ilha se encontrava ocupada. Ao mesmo tempo que nos dá o retrato social de um povo pobre e oprimido, denuncia as formas brutais de repressão utilizadas pelos militares ingleses e que, de forma absurda, se repetem mais tarde no confronto entre irlandeses, depois de obtida a independência do Sul da Irlanda através do tratado de Londres. Passa a estar em causa a aceitação de um acordo que deixa de fora o Norte, o Ulster, a região mais rica do território, além de obrigar o juramento de fidelidade à Coroa Britânica. O futuro confirmou que, para os irlandeses, foi um bom primeiro passo, que permitiu mais tarde a criação da República da Irlanda e a sua independência total, mesmo que o Ulster seja, ainda hoje, motivo de sérios conflitos. O filme tem muita força dramática, tomando por motivo principal dois irmãos irlandeses que, depois de lutarem lado a lado contra os ingleses se alistam em lados opostos no que respeita à independência condicional. A luta, totalmente fraticida, não permite que o tratado de Londres conduza a uma paz imediata. “Brisa de Mudança” dá uma oportunidade excelente para uma análise crítica sobre a relação entre os povos e as suas culturas, a dificuldade de definição de fronteiras definitivas entre territórios e a falta de satisfação de uma paz total e permanente que permita aos povos construir a sua felicidade. Uma obra excelente, com boa relação entre a componente histórica e a vertente de ficção. Francisco Perestrello

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