Teologia e género, debate em aberto

“Teologia e género: perspectivas, ruídos e novas construções”, livro que conta com o contributo de vários autores, trouxe para a ordem do dia os estudos que agregam actualmente um conjunto de questões e pesquisas no campo da teologia, que até há bem pouco era conhecido como teologia feminista. Uma questão de fronteira, em termos da vida da Igreja e da sua relação com a sociedade. Os estudos de teologia e género, como mostra a obra, já não são feitos só por mulheres, ainda que reivindiquem “uma maior participação da mulher como sujeito da produção de reflexão teológica”, em vez de serem “meras destinatárias das leituras teológicas realizadas pelos homens”. E, sem terem abdicado da exigência de “igualdade de oportunidades reais para homens e mulheres”, não estão centrados na questão do sacerdócio feminino. No colóquio em que se apresentou o livro, em Lisboa, Fernanda Henriques, uma das coordenadoras da obra, explicou ao programa ECCLESIA que “os textos apresentados, de homens e de mulheres em paridade, têm um movimento duplo, de desconstrução e reconstrução”. “Nós, enquanto mulheres cristãs, queremos ter algumas formas de nos identificarmos e, no fundo, de nos reconhecermos dentro da Igreja”, acrescentou. Esta obra é o segundo passo da caminhada iniciada com o “Dizer Deus – Imagens e Linguagens. Os textos da fé na leitura das mulheres” (coordenação de Manuela Silva; Ed. Gótica, 2003). Para Manuela Silva, é necessário que a teologia “se deixe permeabilizar pela perspectiva de género”. “Pensamos que será um enriquecimento muito grande para a própria teologia integrar esta dimensão. De alguma maneira, a dimensão do género tem estado ausente da vida académica, daí que nos tenhamos disponibilizado para promover a realização deste trabalho”, apontou. Para a presidente da Comissão Nacional Justiça e Paz, as comunidades cristãs “não estão preparadas, de todo”, para esta abordagem, lamentando a “pouca sensibilidade” existente para esta problemática e o “défice de prática eclesial”. D. Carlos Azevedo, Bispo auxiliar de Lisboa, referiu no colóquio subordinado ao tema do livro, que a edição “transmite, no seu conjunto, uma perspectiva amadurecida que contribui para a abordagem da problemática do género na relação com a teologia”. “As mulheres entram, paulatinamente, na produção da reflexão teológica e os teólogos abrem-se, por sua vez, à abordagem de assuntos relativos ao papel do género na transmissão da fé, na vivência espiritual e na vivência do religioso”, apontou, salientando “a inspiração destes textos”. Temas e autores Prefácio – Anselmo Borges Testemunhar Deus no feminino: Histórias de vida na Igreja Medieval – Ana Maria Jorge As mulheres nas Grandes Religiões – Isabel Gomez Acebo A Teoria da Metáfora de Paulo Ricouer e as Teologias Feministas – Teresa Toldy Analogia ou Diferença Relacional; Contributo para a Teologia Feminista – João Duque Contributo das Mulheres para a Recuperação da Igreja como “Comunidade Narrativa” – Maria Carlos Ramos Igualdade de Género: Mutações nos paradigmas da História e da Teologia – António Matos Ferreira Quando a Teologia não basta: reflexões sobre pressupostos filosóficos de uma questão teológica – Joaquim Cerqueira Gonçalves Reabilitação de “Eva” ou o elogia do feminino – Armindo dos Santos Vaz A subversão de uma mundividência – Maria Luísa Ribeiro Ferreira A Práxis de Jesus como sinal da Igualdade de Género – Maria Joaquina Nobre Júlio Algumas que são dos nossos – José Tolentino Mendonça O Vazio como problema e como esperança. Notas reflexivas em torno de alguns dados empíricos – Fernanda Henriques

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