O presbítero na missão da Igreja

A caminho do V Simpósio do Clero A realização do V Simpósio do Clero, de 5 a 8 de Setembro próximo, oferece à Igreja em Portugal uma oportunidade privilegiada para rezar e reflectir a vocação, o ministério e a vida do Presbítero no ministério, na comunhão e na missão da Igreja. Aqui se funda e daqui emerge uma das coordenadas essenciais da vida da Igreja: pensar, viver e construir a Igreja a partir da vocação. Urge, por isso, que cada um dos cristãos e cada um dos sacerdotes regresse em permanência às raízes da sua vida como baptizado e às fontes da sua vocação como chamado pelo amor de Deus para «em nome de Cristo e em favor da Humanidade exercer o múnus sacerdotal » (Presbyterorum Ordinis, n.º 2). Sentir e testemunhar a alegria de ser Padre implica e exige viver com espírito diariamente renovado esta peculiar relação de cada um de nós Sacerdotes com Deus, com a Igreja e com o Mundo. E o segredo deste desafio constante do equilíbrio pessoal, da harmonia de vida e da eficácia do ministério consiste nesta disponibilidade para, em cada dia que começa, acolhermos com constância e reafirmando o encanto do dom da vocação, a graça da comunhão e a bênção de uma vida dada e despojada a favor do povo. Há um vínculo essencial entre a identidade do Sacerdote e o ministério do amor de Deus, revelado em Cristo o Bom Pastor e confirmado pelo Espírito Santo. Pretende-se, assim, que este V Simpósio do Clero nos volte para Deus, fonte trinitária e origem constitutiva de toda a vocação. A partir deste olhar para Deus compreenderemos melhor a missão da Igreja como mediadora da vocação, porque lhe pertence fazer ressonância à voz de Deus que chama. Importa aproveitar este Simpósio e preencher todo o tempo do percurso e da vida da Igreja para cumprir esta missão: implorando a Deus para que envie trabalhadores para a messe; propondo aos jovens o desafio da vocação; criando ambiente com qualidade de escuta na família, na escola e na comunidade; acompanhando com solicitude de mãe os chamados nos seus múltiplos e plurais itinerários de vocação, agradecendo sem cessar os que nos precederam na vocação, na fidelidade e na radicalidade de vidas gastas para «glória de Deus Pai, em Cristo Jesus » (PO 2). Sei que este Simpósio se destina aos Presbíteros e se centra no tema “A comunhão presbiteral ao serviço da comunhão eclesial”, mas gostaria que ele fosse vivido no coração de toda a Igreja chamada a anunciar sem medo nem desânimo a «boa nova da vocação». Cumpre-nos preparar e antecipar pela oração e pela partilha fraterna o Simpósio e os seus temas para que depois se lhe dê continuidade e consistência na alegria e na gratidão pela graça e diversidade de vocações que Deus oferece à sua Igreja e pelo testemunho de comunhão vivida no Presbitério. Compreendo que numa época em que reina uma certa e desencantada filosofia do declínio e uma perversa e persistente tirania da crise, o tema escolhido para um Simpósio como este não apaixone a opinião pública nem arraste multidões. Não é essa a missão da Igreja nem é esse o caminho a percorrer pelos Sacerdotes. Cumpre-nos anunciar o Evangelho de Jesus Cristo, que é o Evangelho da esperança, da vocação e das bem-aventuranças, vivendo na comunhão do Presbitério e da Igreja que somos a «alegria de ser chamados e a coragem de chamar», e conscientes de que «a primeira e mais eficaz pastoral vocacional é o testemunho» (João Paulo II). Estou certo de que este Simpósio prestará um valioso serviço à Igreja, 40 anos depois do Decreto Conciliar Presbyterorum Ordinis sobre o ministério e vida dos Sacerdotes, se formos capazes de, com olhos limpos, puros e justos, contemplar Deus fonte de amor e de vocação, descobrir testemunhos exemplares de vidas sacerdotais que percorrem, em formas tão diversificadas e belas do mesmo e único ministério, os caminhos de Portugal com passos de humildes, generosos e incansáveis «servidores da vinha do Senhor» (Bento XVI) e perceber, com perspicácia, intuição e confiança, que há germes de vocação semeados pela graça de Deus a mãos cheias nas famílias, nas escolas e nas comunidades. Mais do que gastar tempo a descodificar leituras imaginadas de realidades virtuais, a Igreja pede aos seus Sacerdotes testemunhos vivos e felizes de quem por amor de Deus e atento aos «clamores do povo» escreve com a vida, celebrada em cada Eucaristia, o mistério da Encarnação, da Páscoa e do Pentecostes, porque o Sacerdote será sempre dom de Deus, continuador da missão de Jesus vivo e ressuscitado e enviado pelo Espírito Santo para salvar o mundo. D. António Francisco dos Santos Bispo Auxiliar de Braga e presidente da Comissão Episcopal das Vocações e Ministérios

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