Vaticano: Papa alertou para «lucro que esquece o ser humano» e «reduz a uma coisa entre as coisas»

«O pensamento cristão não é contrário, por princípio, à perspetiva do lucro, mas se opõe ao lucro a qualquer custo» – Francisco

Cidade do Vaticano, 05 out 2020 (Ecclesia) – O Papa Francisco disse hoje que “o pensamento cristão não é contrário, por princípio, à perspetiva do lucro, mas opõe-se ao lucro a qualquer custo”, numa audiência aos diretores e funcionários da Caixa de Depósitos e Empréstimos de Itália.

“O pensamento cristão não é contrário, por princípio, à perspetiva do lucro, mas se opõe ao lucro a qualquer custo, ao lucro que esquece o ser humano, que o torna escravo, que o reduz a uma coisa entre as coisas”, explicou o Papa aos diretores e funcionários da Caixa de Depósitos e Empréstimos, uma instituição financeira italiana que está a comemorar 170 anos de fundação.

Na audiência, na Sala Paulo VI, no Vaticano, Francisco assinalou que a Doutrina Social da Igreja “concorda com uma visão” que vários investidores esperem “uma justa remuneração dos recursos captados, para canalizá-los para o financiamento de iniciativas que visem a promoção social e coletiva”.

No discurso divulgado pela Sala de Imprensa da Santa Sé, o Papa acrescentou que o pensamento cristão opõe-se à redução do ser humano “a uma variável de um processo que ele não pode de forma alguma controlar ou ao qual não pode de forma alguma se opor”.

Aos diretores e funcionários da instituição fundada como Caixa Piemontesa, o Papa referiu que desde que mudou o nome para Caixa de Depósitos e Empréstimos a sua tarefa “foi redesenhada em relação à evolução e necessidades do país”, necessitando de “constantes investimentos, modernização, apoio às entidades locais, apoio à formação profissional e produtividade”.

“Essas linhas de desenvolvimento ainda hoje exigem um compromisso generoso de vocês: Pensemos nos desafios sociais e económicos produzidos pela grave pandemia em curso; Em fenómenos com repercussões muito significativas, como o declínio de algumas formas de produção, que precisam de renovação ou de transformação radical. Pensemos nas mudanças que ocorreram na forma como as mercadorias são compradas e vendidas, com o risco de concentrar as trocas e os negócios nas mãos de algumas entidades globais”, desenvolveu.

Francisco realçou que a gestão de negócios sempre exigiu de todos “uma conduta leal e clara” que “não ceda à corrupção” e no exercício das responsabilidades “é necessário saber distinguir o bem do mal” e, mesmo no setor da economia e das finanças, “a intenção correta, a transparência e a busca de bons resultados são compatíveis e não devem ser separadas”.

“É uma questão de identificar e percorrer com coragem linhas de ação que respeitem e promovam a pessoa humana e a sociedade”, salientou.

Para o Papa, uma instituição como a Caixa de Depósitos e Empréstimos “pode testemunhar concretamente uma sensibilidade solidária”, favorecendo o relançamento da economia real como “força motriz do desenvolvimento das pessoas, das famílias e de toda a sociedade”.

“Desta forma também é possível acompanhar o progresso gradual de uma nação e servir ao bem-comum, com o esforço de multiplicar e tornar mais acessível a todos os bens deste mundo”, acrescentou Francisco, lê-se no discurso publicado online pela Santa Sé.

CB

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Agência ECCLESIA

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