Beatos Mártires na Diocese do Porto

Em meados do século XVI, inúmeros jovens ofereceram-se para integrar a missão, preparada pelo P. Inácio de Azevedo, destinada à evangelização do Brasil. No dia 15 de Julho de 1570, a embarcação em que viajavam foi atacada por piratas huguenotes (protestantes), que decidiram matar os missionários, ferindo-os e lançando-os todos ao mar, alguns ainda com vida. Do total de 40 missionários mortos, oito eram originários da Diocese do Porto, incluindo o P. Inácio de Azevedo. A sua festa celebra-se no dia 17 de Julho, um facto que muitas pessoas desconhece. Os nomes dos oito Beatos naturais da Diocese do Porto são: Inácio de Azevedo, Gonçalo Henriques, Simão da Costa, António Correia e Gaspar Álvares (da cidade do Porto); Marcos Caldeira (Santa Maria da Feira); Amaro Vaz (Marco de Canaveses); e João Adaucto (Entre-Douro e Minho). A missão do P. Inácio de Azevedo A evangelização do Brasil tinha começado logo após a sua descoberta, em 1500. os jesuítas, ordem religiosa fundada em 1540, enviaram para as Terras de Santa Cruz os seus primeiros missonários, poucos anos após a sua fundação. À medida que a actividade missionária se foi desenvolvendo, foi-se tornando necessário esclarecer caminhos e definir metas a alcançar. Para ajudar nesse discernimento, foi enviado de Lisboa o P. Inácio de Azevedo, sacerdote que se afigorou como a pessoa certa, dada a sua natureza activa e empreendedora, beneficiando de uma forte experiência como reitor dos primeiros colégios de jesuítas em Lisboa, Coimbra e Braga. Estando no Brasil, foi enviado dali a Roma, em 1565, na qualidade de Procurador da Índia e do Brasil. Inácio de Azevedo recebeu grande apoio do Papa Pio V que o muniu de amplas faculdades pastorais. Igualmente o Geral da Companhia de Jesus, Francisco de Borja, impressionado pelas palavras e carisma de Inácio de Azevedo e consciente da urgência de enviar mais pessoas para a missão que o Brasil exigia, escreveu aos Provinciais de Espanha e Portugal para que lhe facultassem, nas suas terras, a recolha quer de missionários, quer de recursos materiais. Tempo de preparação para a missão Ao fim de alguns meses, Inácio de Azevedo reuniu na Quinta do Val do Rosal (Charneca da Caparica), a Sul do Tejo, casa de apoio ao Colégio de Santo Antão, um grupo de jovens desejosos de se empenharem na acção evangelizadora do Brasil. Integravam este grupo seis dos oito mártires naturais da Diocese do Porto: Gonçalo Henriques, Simão da Costa, António Correia e Gaspar Álvares (nascidos no Porto), Amaro Vaz (Marco de Canaveses) e Marcos Caldeira (Santa Maria da Feira). Durante cerca de seis meses, prepararam-se para a viagem e missão futura, participando, estudando, discutindo e ouvindo conferências, vendo e ouvindo testemunhos sobre os novos povos e lugares. Mantinham-se inspirados por Inácio de Azevedo, que os orientava para a ascese e para o zelo missionário. Partida em missão A 5 de Junho de 1570, partiu do Tejo um grupo de 74 jesuítas, rumo à ilha da Madeira, repartidos por três naus. Uma vez no Funchal, ficaram alojados na Quinta do Pico Cardo. A 30 de Junho, pressentindo o perigo que iam correr, dada a proximidade de corsários, Inácio de Azevedo convocou a sua comitiva antes do embarque – “Queria voluntários da morte por Cristo”. Alguns hesitaram e não quiseram seguir, sendo logo substituídos por outros. Entre os que aceitaram partir estavam os mencionados seis jovens oriundos da Diocese do Porto, aos quais se juntou um sétimo, João Adaúcto (sabe-se apenas que era da zona Entre-Douro e Minho), que era sobrinho do capitão da nau Santiago e que manifestou desejo de entrar na Companhia de Jesus durante a viagem. Rapidamente chegaram às Canárias, onde permaneceram cinco dias. O martírio Quando iniciavam o caminho do Brasil, saindo de Tazacorte, a 15 de Julho de 1570, surgiu uma frota de piratas huguenotes (grupo protestante), comandados por Jacques Sória (Sore). Perante a insuficiência de soldados defensores da nau, o comandante pediu voluntários a Azevedo. contudo, a condição de consagrados dos membros deste grupo de 40 homens não lhes permitia pegar em armas e atentar contra a vida. Porém, sempre que havia feridos, assitiam-nos, animavam os combatentes e rezavam. Estando a nau ocupada pelos agressores, e, apercebendo-se que se tratava de missionários católicos, investiram com as armas. Indo ao seu encontro, Inácio de Azevedo, com a imagem de Nossa Senhora nas mãos, apresentou-se como sacerdote de Cristo. “Todos me sejam testemunhas como morro pela Fé católica e pela Santa Igreja Romana”. Depois deste acto, um soldado deu-lhe uma cutilada na cabeça. Azevedo ainda se dirigiu aos seus companheiros dizendo: “Não choreis, meus filhos. Não chegaremos ao Brasil, mas fundaremos, hoje, um colégio no céu”. Os huguenotes, perante tanta firmeza, resolveram acabar com a vida de Inácio de Azevedo e deitá-lo ao mar. Em seguida, todos os missionários foram sendo maltratados, feridos e lançados ao mar, alguns ainda vivos, com excepção de João Sánchez, ajudante de cozinha, que, devido à sua pouca idade, foi poupado, sendo a posteriori a testemunha que permitiu que se conhecessem os acontecimentos que tiveram lugar naquela nau. Pio IX reconheceu e confirmou o culto a Inácio de Azevedo e aos seus 39 companheiros de martírio, a 11 de Maio de 1854, instituindo a sua festa a 17 de Julho. Nos dias de hoje, celebra-se a festa dos Beatos Mártires em Tazacorte, no dia 15 de Julho e memória facultativa em toda a Igreja a 17 de Julho.

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Agência ECCLESIA

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