D. Sebastião Soares de Resende homenageado na sua terra

Milheirós de Poiares, no concelho de Santa Maria da Feira, terra natal de D. Sebastião Soares de Resende, primeiro Bispo da Beira, realizou aquilo que podia e deveria ter sido uma homenagem nacional, no dizer de D. Carlos Azevedo, natural daquela terra e um dos promotores da iniciativa. Colóquio Comemorativo e exposição Pelas 14 horas começou a registar-se a chegada, ao cine –teatro S. Miguel, dos admiradores de D. Sebastião, bispos, sacerdotes, entidades autárquicas, irmãs religiosas e algumas centenas de pessoas e familiares, nomeadamente, D. Armindo Lopes Coelho, bispo da diocese do Porto, D. Jaime Pedro Gonçalves, actual arcebispo da Beira de Moçambique, D. Augusto César Ferreira da Silva, bispo emérito de Portalegre e Castelo Branco, D. Eurico Nogueira, bispo emérito da arquidiocese de Braga, D. Carlos Azevedo, bispo auxiliar do patriarcado de Lisboa, Alfredo Henriques, presidente da Câmara de Santa Maria da Feira, Professor Doutor Cardoso da Costa, presidente da Assembleia Municipal, Casimiro Loureiro, presidente da Junta de Freguesia, Professor Doutor Adriano Moreira, Irene Vilar, escultora que projectou a estátua do homenageado, David Simões Rodrigues e P. Fernando Correia Gonçalves, pároco de Milheirós. No átrio do cine-teatro encontrava-se uma exposição de materiais alusivos ao homenageado. Ali havia livros publicados por si, livros e revistas acerca de si, fotografias diversas e objectos e utensílios pessoais, pena de escrever, lençóis de linho, facha episcopal, solidéu, etc.. Também havia uma réplica da cruz episcopal. D. Carlos Azevedo, representando a Comissão Organizadora, abriu o colóquio. O primeiro orador, D. Augusto César Ferreira da Silva, retratou D. Sebastião como um pastor austero, disciplinado, virtuoso, sóbrio, atento à imprensa, doutrinador, orientador, ouvidor e praticante da Doutrina Social da Igreja, baseado fundamentalmente em atitudes, comportamentos e acontecimentos por ele testemunhados. O segundo orador, Adriano Moreira, depois de realçar o contexto sócio-político que caracterizava Portugal no início do bispado de D. Sebastião e de confessar a influência que dele recebera enquanto governante, concluiu a sua intervenção, afirmando o seguinte. “Homem de fé e de visão, com uma inteligência pronta para a identificação das situações de conflito, um desassombro profético para assumir as exigências de emenda, e uma aceitação consciente das reacções e seus efeitos, D. Sebastião tinha o amparo sólido e confiante dos valores cristãos, que são o eixo da roda do missionário. A roda passa por todas as mudanças, e o eixo acompanha a roda, mas não anda. Ele podia serenamente professar aquilo que mais pode desejar um Bispo – que, depois da morte, se diga que Cristo passou por aqui. Conseguiu.” O terceiro orador, David Simões Rodrigues, apresentou D. Sebastião como investigador. Baseado na sua obra publicada, que foi enumerando e comentando, terminou desta maneira. “Aquilino Ribeiro não era sob qualquer aspecto o que se poderia apelidar de imberbe. D. Sebastião sustentou com ele uma polémica nas Letras e Artes, secção cultural do diário católico Novidade. Pois Aquilino, polemista destemido e frontal, chegou ao fim e, honesta e publicamente elogiou reconhecendo no seu antagonista, D. Sebastião Soares de Resende: a honestidade intelectual, a profundidade do tratamento da matéria, a correcção e polidez urbana do adversário, a nobreza do seu carácter. Que outras qualidades para atestar melhor o trabalho do Homem e sobretudo do verdadeiro e esclarecido Investigador?” O quarto orador, D. Jaime Pedro Gonçalves, arcebispo da Beira, apresentou o trabalho intitulado Permanência viva da obra de D. Sebastião Soares de Resende. Agradeceu o convite da Comissão Organizadora e centrou a sua abordagem de D. Sebastião em dois vértices marcantes – a obra realizada e o seu eco que ainda perdura na diocese da Beira e em todo o país de Moçambique. Definiu D. Sebastião como “fervoroso bispo missionário, educador esclarecido, comunicador convicto e promotor destemido da justiça social” não só na Beira como em todo o Moçambique. Desenvolveu pormenorizadamente cada uma destas facetas destacando os seguintes aspectos. Como missionário fervoroso, fortalecera as missões existentes, fundara mais 55, iniciara a divisão da diocese, fundara o seminário menor de Zóbué. Como educador esclarecido, criara várias dezenas de escolas primárias, vários colégios nas cidades da Beira e Chimoio, escolas de preparação de professores de Posto Escolar e propusera a criação de universidade em Moçambique. Como comunicador convicto, editara a Voz Africana, fundara o famoso Diário de Moçambique, apoiara a Rádio Pax, emissora católica da Beira. Como promotor destemido” da justiça social, denunciara as injustiças sociais, propondo soluções, sujeitando-se frequentemente a muito sofrimento e amargura. Finalizou dizendo que “a maior e a melhor obra que permanece viva é a presença de D. Sebastião no nosso meio”. Inauguração da estátua A estátua de D. Sebastião, da autoria de Irene Vilar, foi inaugurada pelo presidente da Câmara Municipal, retirando o véu que a cobria, diante das várias centenas de pessoas, que entretanto se tinham deslocado para o local onde ela se encontrava. No uso da palavra, disse que se sentia muito honrado por estar associada a esta justa e merecida homenagem. Já em 1943, D. Sebastião, após a sua sagração, “fora recebido com fortes aplausos e muitos cumprimentos numa imponente e calorosa cerimónia nos paços do concelho de Santa Maria da Feira”. Evocou a consternação que a sua morte causou aos feirenses em 1967, por ocasião da sua morte, que muito respeitavam a sua obra, a sua inteligência e a sua humildade. E realçou a importância desta efeméride para as pessoas de hoje e de amanhã. Concelebração Pelas 19 horas houve concelebração da Eucaristia, presidida por D. Armindo, bispo do Porto, na igreja paroquial. Na homilia, este prelado referiu os acontecimentos importantes da vida de D. Sebastião, enaltecendo a suas qualidades e tecendo relações com as leituras próprias da liturgia da palavra do dia. Em dado momento, afirmou que do mesmo modo que o agricultor cultiva os seus campos, vê a semente germinar e o fruto produzido, assim aconteceu com D. Sebastião, que lançou sementes que germinaram e estão a produzir seus frutos.

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Agência ECCLESIA

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